quarta-feira, 18 de abril de 2012

By Your Side - Capítulo 28 - Sem concerto

– Near, far, wherever you are, I believe that the heart does go on!
Olhei pelo canto do olho segurando a gargalhada enquanto ouvia Bill Kaulitz cantarolar a música principal do filme Titanic. Titanic, cara, isso é muito velho e irritante. Pior é ouvir Bill Kaulitz cantando essa música. Tem noção de como isso era cômico? Soltei a gargalhada e os outros seres humanos dentro da sala fizeram o mesmo segundos depois.
Bill olhou cada rosto assustado, eu pensei que ele fosse começar a chorar ali mesmo.
– Que? Eu canto tão mal assim? Ok, vou me aposentar. – Ele fez drama.
No canto do sofá eu pensei que David Jost fosse ter um acidente vascular cerebral de tanto que sua cabeça ficou vermelha ao ouvir o cantor da sua banda dizer que iria se aposentar. Isso me fez rir mais ainda, mas as outras pessoas que habitavam a sala começaram a protestar com vários “NEIN” e Bill ficou corado. Imagina só, Bill se aposentando.
Céus! Por favor, que isso nunca aconteça. Quero estar viva em 2065 e com saúde para pular no show do Tokio Hotel gritando bem alto com o Bill, devaneei.
Estava na cozinha – com roupas – depois de ter sido muito zoada por todos naquela casa por terem me visto de lingerie, fazendo o bolo de aniversário caseiro porque aqui todo mundo é imprestável o suficiente para não conseguir ler as instruções atrás e fazer um bolo para o baixista.
– Sabe que eu poderia colocar uma faixa bônus dessa música no nosso estilo no próximo álbum. – Bill pensou alto.
– Eca, mano, essa música é nojenta. – Tom foi o primeiro a rebater.
– Eu gosto de Titanic – Bill deu de ombros. – E a música acompanharia Attention nas faixas bônus.
– Já tem o nome do CD? – Chelsea perguntou.
– Humanoid – Eu ouvi todos os meninos daquela sala responder juntos.
A sala ficou em silêncio por segundos até eu quebrá-lo.
– Fazendo o bolo do Geoooorg, fazendo o bolinho do Geooorg – Eu cantarolei enquanto passava glacê por cima do bolo já pronto.
– Once more, you open the door, and you're here in my heart, and my heart will go on and on…
Bill continuou irritantemente, mas agora ninguém mais o interrompia com medo de perder a banda. Eu repeti a minha mais nova canção, “Bolo do Georg”.
– Fazendo o bolo do Geoorg-
– Essa sim pode morrer de fome se escolher cantar como profissão.
A sala inteira riu de mim, eu corei e lancei um olhar assassino para o dono daquela frase; Tom, óbvio.
– Eu realmente espero agora que sua mão caia e você não possa mais tocar guitarra. – Murmurei e Tom apenas gargalhou se aproximando de mim lentamente.
Ele me agarrou pela lateral do meu corpo e beijou meu rosto rapidamente, sorrindo. Apontei para ele com a colher de madeira, mas estávamos próximos demais e ela bateu na grande testa que ele tem, Tom riu.
– Olha só, pessoal – Eu disse alto para os garotos da sala ouvirem – Aqui está o homem que disse que eu vou morrer de fome. Fazendo o que? Me agarrando.
Eles riram, mas a risada mais alta veio de Gustav – o que me deu medo.
Brincando com Tom, passei glacê na minha bochecha para ver o que ele fazia. No mesmo segundo senti seus lábios apertando com força a região com glacê até tirá-lo dali, sorri. Passei glacê no meu nariz e na minha boca. Vou contar o que aconteceu, por que foi lindo. Tom passou o nariz dele pelo meu por alguns segundos e depois tomou meus lábios com suavidade, iniciando um beijo com gosto de glacê azul.
Ouvi palmas vindas da sala, isso fez Tom se virar junto comigo, ficando de costas para a sala e de frente para a bancada onde eu ainda preparava o bolo. Eu já estava quase ficando sem ar e Tom me apertou mais contra ele, sufoquei. Bati em seu peito e me soltei ofegante, ele apenas riu.
– Fazer o que, eu tenho uma baixinha que não sabe beijar direito – Tom gargalhou implicando comigo.
Corei no mesmo instante, que ofensa! Joguei a colher de pau na pia com um barulho alto e agarrei seus dreads depois de respirar fundo, grudando seus lábios nos meus como uma guerra querendo provar quem era melhor. Isso fez tanto efeito que ele puxou minhas pernas até sua cintura e me ergueu para a bancada, onde eu devo tê-lo beijado por mais de um minuto, com raiva, mas brincando.
– AE VOCÊS SE AGARRANDO NA COZINHA! – Georg gritou e foi o motivo que nos fez acabar com o beijo, os dois muito ofegantes. – Eu quero meu bolo, poxa.
Deixando de agarração, eu terminei de moldar o glacê com as mãos enquanto ouvia Tom sussurrar besteira no meu ouvido – ameaças de morte e filmes de terror à noite, além de tortura e outras coisas que ele iria fazer para mim se eu não dormisse na casa dele naquela noite.
– Amanhã eu tenho escola – Eu disse e o ouvi bufar alto.
– Baixinha e criança. – Ele disse.
– Cala a boca, você também tem!
– Eu estudo com um professor particular, simples e tenho férias a hora que bem entender – Tom deu de ombros.
– Acontece que eu não sou estrela do rock, Kaulitz.
– Eu também não sou ator pornô, Benjamin – Nós rimos.
– O que isso tem haver? – Foi minha pergunta retórica.
Terminei o bolo do Georg. Ao invés de lavar as mãos sujas de glacê, trotei pela sala esfregando glacê na cara dos outros. Primeiro Jost, Bill, Chelsea, Gustav, Agnes, Georg e Anne. Observei como eles se limpavam.
Os casais começaram a estalar as bocas enquanto beijavam-se, e Jost ficou com um bico gigante, porque ali ele era o único desacompanhado – gargalhamos de David Jost.
– Não tem a menor graça. – Jost disse, prendendo o riso de rir de si mesmo.
– Tudo bem, Jost, eu arranjo uma produtora bem gata para você – Tom piscou, os garotos riram da piada.
Não me agradou ouvir a palavra gata saindo da boca de Tom sem ser referida a mim, mas tudo bem, ele é um idiota mesmo.
– Então, pessoal, o bolo está pronto. Vocês cantam parabéns aqui na Alemanha?
Eles, todos, me olharam torto.
– Não somos um bando de macacos, Julia – Gustav disse – Nós temos cultura também, ok?
– Cantamos sim, mas dane-se o parabéns, eu estou com fome – Georg avançou para a cozinha – Afinal de contas, metade do mundo sabe que meu aniversário é hoje, para que comemorar.
Dei de ombros. Fiquei com pena de ver meu bolo feito com amor e carinho – e perversidades no ouvido – ser destroçado pelas bocas famintas daqueles cinco meninos muito, muito perfeitos e das três acompanhantes ali.

Cinco horas mais tarde eu vi os três pares de casais adormecidos de qualquer forma na sala, depois de assistir Velozes e Furiosos. Jost já havia ido embora com seus compromissos, imaginei que apenas eu estivesse acordada.
Me encontrava em uma posição totalmente confortável, sinta ironia. Tom estava esparramado no sofá de olhos fechados, eu estava deitada em cima dele com minhas duas pernas no meio das suas e a cabeça deitada em seu peito. Só para constar que suas mãos me prendiam pelas costas e eu não tinha formas de sair dali sem acordá-lo.
Respirei fundo sem querer, senti que suas mãos começaram a acariciar as curvas das minhas costas, ergui a cabeça e seus olhos estavam abertos fitando a mim. Sorrimos ao mesmo tempo.
– Está na minha hora de ir embora – Eu sussurrei.
– Eu não quero que você vá.
– Eu também não quero que você viaje amanhã para a entrevista na rádio local, mas você precisa de um tempo só para a banda – Eu disse de volta – então eu deixo você ir, vamos nos ver no dia 2 e no dia 3 você entra em turnê.
– Não precisa me contar da minha agenda, Benjamin, eu decorei-a já que Jost não quer me dar de presente uma secretária que preste.
Seu corpo se balançou embaixo do meu enquanto ria.
Eu me levantei rapidamente e ele me deu a mão, saímos do apartamento assim, de mãos dadas. Não paramos um minuto de silêncio dentro do carro, falamos sobre carros – como eu não sabia nada sobre carros e ele sabia bastante coisa -, falamos sobre filmes que ninguém ia ao cinema há tempos e eu nem ligava mais a televisão para isso, falei dos defeitos dele e ele puxou uma setinha acrescentando mais alguns para mim, o que nos fazia rir e continuar reclamando do outro.
Cheguei a casa abraçada com ele. Ouvi mais de três vozes vindo da cozinha, imaginei que meus pais tivessem visita. Mesmo assim continuei ao lado de Tom – ele já era de casa para Wulf e Alexandra.
Sabendo disso, ele me apertou contra seu corpo. Minhas intenções estavam no andar de cima e nós dois caminhávamos para realizá-las. Parei na porta para cumprimentar meus pais, mas gelei ao chegar lá e senti Tom estremecer também.
– Há quanto tempo está aqui? – Eu perguntei.
– Acabei de chegar, mas tempo suficiente para ver o que eu precisava – O garoto de cabelos negros sussurrou com os olhos fuzilando o rosto de Tom.
– Eu... Eu... – Gaguejei.
Eu realmente não tinha o que dizer. Henry estava ali, na minha casa conversando com meus pais. Vendo eu e Tom abraçados. Da última vez que ele saiu daqui, ele saiu contente, esperava me encontrar no Brasil para continuarmos o que mal começamos aqui, uma ligação mais forte que amizade.
Acontece que as coisas mudaram. Muito.
Senti lágrimas nos olhos, não entendia o por quê.
– Sabe, da última vez que eu passei por aqui, você queria esquecer o Tom – Henry disse sem se preocupar com a platéia – Agora, do nada, você já está com ele. Mas ninguém pode fazer nada e nem querer alterar ou te ajudar a esquecê-lo se é você mesma que o deixa entrar na sua vida!
A primeira lágrima escorreu. Tom podia parecer calmo, mas sentia sua respiração pesada do meu lado. Ele deveria estar morrendo de raiva de Henry.
Mas Henry estava certo, eu sempre deixava Tom entrar na minha vida.
– Henry, entenda. – Eu disse forte – Mudou muita coisa, você não viu o que aconteceu, mas...
– Não, Julia. Entenda você.
Henry se levantou da mesa da cozinha apressado e passou por todos nós, saindo da casa. Eu me virei para correr atrás, Tom segurou meu braço e eu fiz força para que ele me soltasse com uma cara incrédula.
Abri a porta da varanda.
– HENRY! – Gritei – O Tom não me tratou como segunda opção, você escolheu Chelsea, mas ela estava ocupada. Então abriu os braços para mim, você sabia que eu gostava de você antes! Ao contrário de você, Tom esteve sempre me escolhendo!
Henry não respondeu, ele sabia que era verdade.
Mesmo quando eu estava beijando Henry, eu sabia dessa possibilidade de ele estar comigo só porque Chelsea não estava. Mas eu não me importava, eu realmente gostava de Henry quando era um ano mais nova.
– Eu voltei não foi? Voltei para ficar com você, porque você não voltou pro Brasil!
Dessa vez eu não tinha o que responder. Sequei as lágrimas.
Henry se virou e entrou em seu carro que até agora eu nem tinha me dado conta de que estava parado ali em frente. Voltei para casa quando ele já havia desaparecido de vista, subi correndo as escadas para o meu quarto e Tom já estava sentado na minha cama. Ele abriu os braços e eu me deitei com a cabeça na curva de seu pescoço de temperatura quente.
– Eu não acredito! – Eu disse baixinho com a voz falha por causa do choro – Eu traí alguém!
– Não foi isso, Benjamin. Você nem estava namorando de verdade com ele.
– Mas eu o traí!
– Não traiu, não. – Tom selou minha boca com força fazendo pressão contra meus dentes, ciúmes, eu deduzi. – Eu não ouvi o que aconteceu, mas agora é só menos um atrapalhando nós dois.
Abri os olhos. Ele estava quase certo, mas eu me importava com Henry ainda e não deixaria que ele falasse assim do meu amigo na minha frente. Tom era egocêntrico demais e só via sua fama e tudo que conquistava com ela, nesse caso, eu.
Me separei dele com brutalidade.
– Saia do meu quarto! – Eu disse.
Tom arregalou os olhos para mim.
– Saia, Tom! – Eu quase gritei.
– Benjamin, eu...
– Não tem Benjamin aqui, Tom, saia do meu quarto.
Sibilei a última frase. Tom contorceu o rosto com raiva e saiu do meu quarto batendo a porta. Seu carro deu a partida quando eu me dei conta de que estava parada mais de cinco minutos no mesmo lugar, só respirando.
Me joguei na minha cama apertando o travesseiro contra o rosto, respirando fundo e tentando conter as lágrimas dos idiotas que passavam pela minha vida e me deixavam no mesmo lugar, cortada ao meio sem concerto.

Postado por: Grasiele

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