quinta-feira, 15 de março de 2012

A Megera Indomada - Capítulo 10 - Ócio, verdade ou conseqüência

A notícia de que eu e o Bill estávamos namorando se espalhou pela escola mais rápido que fogo quando você joga um palito de fósforo sobre gasolina. Todo mundo comentava pelos corredores sobre nós dois e, normalmente, eram comentários maldosos sobre as duas partes. O time de futebol inteiro ficava enchendo a paciência do Bill, perguntando como é que ele tinha coragem de me namorar. As meninas, pelo outro lado, faltavam só me bater, porque o Bill era um dos mais populares entre a ala feminina da escola, e, portanto, tinha várias fãs. Tinha gente que parecia sentir prazer em tentar atrapalhar o namoro. A Scarlett, a Bella, o Tom e até o Georg e o Gustav, que nem estudavam lá, estavam nos protegendo de quem tentava fazer alguma sacanagem. E, falando em sacanagem, meu pai descobriu que eu estava namorando porque alguém foi lá no hospital que ele trabalha e contou tudo. Não consegui descobrir quem foi; Meu pai, para a infelicidade da pessoa, passou uma descompostura e terminou, dizendo que estava feliz por eu estar namorando e que a pessoa deveria achar uma coisa melhor para fazer do que ficar se metendo na vida dos outros e tentar atrapalhar namoro alheio. Nesse dia, meu pai chegou em casa espumando de raiva por causa da pessoa, e não porque eu tinha escondido dele que tinha um namorado. Várias vezes, meu pai foi até minha escola, pedir à diretora que desse um jeito naquela situação, que começava a ficar insustentável. Ela até tentou dar um jeito, mas, não conseguiu. Num dia que nós estávamos todos reunidos na casa do Georg, sentados na beirada da piscina, sem fazer nada e morrendo de tédio, o Georg disse:

– Não sei como é que vocês agüentam essa palhaçada toda calados... Se fosse comigo e com a Scarlett... - Os dois estavam namorando, esqueci de falar. - Eu já teria dado um soco na cara do primeiro engraçadinho que viesse se meter a besta com a gente...

– Georg, violência não resolve nada. - Eu disse. - A gente tem que dar um jeito do povo parar de falar e deixar a gente em paz. Afinal de contas, não matamos ninguém. Só estamos namorando. E até onde eu sei, isso não é considerado um pecado capital...

– Não consigo entender como é que você consegue ter sangue frio nessas horas. - O Tom disse. - Ainda mais você, que era toda esquentadinha...

– Pois é, né? Viu o que o seu irmão está fazendo? - Perguntei. O Bill, que estava sentado na espreguiçadeira, abraçado comigo, me deu um beijo no rosto.

– E se vocês fingissem que não estão mais namorando? - O Gustav sugeriu.

– Mentira tem perna curta. - A Bella disse.

– É? E se a mentira for muito bem contada? - O Gustav arriscou.

– Como assim? - Perguntei.

– E se você fingisse que está namorando o Tom, sem o Bill "saber"? Vocês podiam deixar alguém ver...

– Ah, tá... Daí todo mundo na escola vai cair matando em cima de mim, me chamando de corno... - O Bill reclamou.

– É verdade... Não tinha pensado nisso. - O Gustav respondeu.

– Ainda acho que vocês tinham mais é que ignorar. Se todo mundo está com essa implicância com vocês dois é porque vocês estão dando ouvidos demais às merdas que o povo fica falando. Aí, eles vêem que estão atingindo vocês dois e, por isso, ficam nessa chatice toda. Se vocês simplesmente parassem de dar atenção, eles vão ver que vocês não estão nem aí, vai perder a graça dessa palhaçada toda e, para completar, vão deixar vocês em paz. - A Bella disse.

– E o que te garante que isso vai funcionar? - O Tom perguntou. Deu para perceber o desdém na voz dele.

– A mesma garantia que você tem de que não vai dar certo... - A Bella respondeu. Os dois brigavam tanto que tinha hora que chegava a ficar irritante. E eles eram piores que eu e o Bill, na era dourada...

– Ih... Vai começar tudo de novo... - O Bill falou, com a boca quase encostando na minha orelha. De repente, o arrepio que percorreu meu corpo, só por causa desse comentário dele, foi tão violento que a espreguiçadeira tremeu.

– Bill... Cuidado senão a Kate morre, hein? - O Georg provocou.

O Bill, para responder à provocação, mostrou o dedo do meio e eu bati na coxa dele, que me pediu desculpas.

– Vamos fazer alguma coisa realmente boa? - O Tom perguntou, estirado na beirada da piscina mesmo. Se ele virasse, caía na água. Eu percebi que a Bella estava olhando para ele como se fosse uma daquelas crianças bem traquinas e eu sabia que, na hora que todo mundo desse bobeira, principalmente o Tom, ela ia dar um jeito de jogar ele na água.

– O quê, por exemplo? - O Gustav perguntou.

– Sei lá... Até... Invadir a casa alheia e pular na piscina está valendo... - O Tom disse. Essa era a chance da Bella. Quando o olhar dela cruzou com o meu, fiz um gesto negativo. Ela cruzou os braços, impaciente.

– Ai, que ócio! - A Scarlett resmungou.

– Eu sei muito bem o que fazer para acabar com o seu tédio... - O Georg disse, dando um beijo na nuca da Scarlett. Ela teve a mesma reação que eu e a espreguiçadeira que ela estava tremeu mais ainda. O Bill, aproveitando a oportunidade, provocou:

– Você tem certeza que sou eu quem tenho que tomar cuidado e não matar minha namorada, Georg?

– Ai, Bill... Vai ver se eu estou na esquina, vai... - O Georg respondeu.

– Eu estou começando a ficar agoniada por causa desse tédio. - A Bella reclamou.

– E se a gente jogasse verdade ou conseqüência? - O Tom sugeriu. - Mas ia ser de um jeito diferente...

Todo mundo percebeu a malícia dessa sugestão.

– E a garrafa? - O Gustav perguntou.

– Tem uma vazia... E se precisar, posso pegar outra... - O Georg respondeu.

Logo, todo mundo estava sentado, formando um círculo, jogando verdade ou conseqüência. Isso sem mencionar que, para tentar desinibir os tímidos, tinham algumas garrafas de bebida vazias ou pela metade, e todo mundo estava começando a ficar bêbado. Era a vez do Tom e, como ele saiu com a Bella, perguntou:

– Verdade ou conseqüência, senhorita?

Enquanto ela pensava, o Tom brincou com o piercing que ele tinha na boca. Eu sabia que aquilo ia dar merda...

– Verdade... - A Bella respondeu, quase que imediatamente. Olhei para ela e vi que estava toda assanhada, por causa do álcool. O Tom deu um sorriso malicioso pensou um pouco e perguntou:

– Qual foi a coisa mais... Selvagem que você fez na vida?

A Bella ficou vermelha, mas, respondeu assim mesmo:

– Uma só?
Eu e a Scarlett olhamos para a Bella, surpresas.

– É. - O Tom respondeu, ainda com o sorriso malicioso no rosto.

Ela mordeu o lábio inferior, provocando o Tom, e respondeu, dando um sorrisinho:

– Durante a minha festa de treze anos... Fui com dois amigos, um menino e uma menina, para o meu quarto e... Aconteceu um ménage a trois...

As reações foram diferentes; Eu, Scarlett e o Bill, ficamos de queixo caído. O Georg e o Gustav ficaram em silêncio e o Tom... Dava para ver qual foi a reação dele... O sorriso malicioso do garoto ainda estava lá e eu sabia que, assim que ele tivesse oportunidade... Ia dar o bote em cima da Bella.

Depois que a Bella sorteou o Georg, ele tirou o Bill, que teve que pular na piscina de roupa e tudo e, quando foi a vez dele jogar, eu fui a escolhida. Ele me perguntou:

– Verdade ou conseqüência?

Eu queria pedir conseqüência. Mas, no estado que todo mundo estava, podia ser qualquer coisa. Então, pedi verdade.

– Qual é o seu maior segredo?

Eu hesitei. Sabia que, se eu não respondesse, ele ia me forçar a contar. Então, acabei decidindo contar:

– Eu sou adotada. Meus pais biológicos morreram quando eu era pequena, num acidente de carro e, como o meu pai adotivo é também o meu padrinho, ele me adotou.

Todo mundo ficou em silêncio. O jogo acabou quando todo mundo enjoou e, enquanto os outros estavam assistindo à um filme de terror, eu fiquei sentada na beirada da piscina, observando o meu reflexo sobre a água. O céu estava escuro, já, e quando menos esperei, o Bill me surpreendeu, beijando o meu ombro e sentando do meu lado. Ele perguntou:

– Você está bem?

– Estou. - Respondi. - Era um jogo... Além do mais, eu não acho que tenho que ficar envergonhada por isso...

– Eu concordo com você. E tenho orgulho porque você teve coragem de contar isso...

– É... O álcool ajudou e muito... - Respondi. Ele riu e me disse:

– Sabia que eu até tenho um pouco de inveja de você?

– Por quê?

– Você cresceu longe dos seus pais, sofreu muito e, ainda sim, você é desse jeito, feliz, sempre faz piada de tudo...

– Culpa sua. Se você não tivesse me passado a canseira até eu ceder, eu ainda seria aquele bichinho do mato...

Ele deu aquele sorriso fofo que eu adorava e sempre me deixava de pernas bambas e babando por ele. Coloquei a minha mão sobre o rosto dele, que me disse:

– Fico feliz de ter te passado a canseira...

Eu ri e, antes de me beijar, ele disse:

– Te amo, Kate...

– Também te amo, Bill...

O beijo só foi interrompido porque o Tom passou que nem um buscapé perto de nós e pulou na piscina. Logo, veio a Bella, arrancando a roupa, e, pulou na piscina também. O Georg e a Scarlett foram os próximos e o Gustav ficou só olhando. Eu e o Bill saímos de perto da piscina antes da Bella pular. Perguntei para o Gustav, olhando a farra:

– Só têm tamanho, não é?

– Pior que é mesmo... - Ele respondeu, sorrindo. De repente, o Tom e o Georg saíram da piscina e vieram na nossa direção. O Bill entendeu o que eles iam fazer e disse:

– Nem tentem fazer isso! Já pulei na piscina hoje!

– Pula de novo, não tem problema. - O Tom respondeu, puxando o Bill. - Anda, Gustav... Me ajuda aqui...

O Georg me pegou no colo e já ia me levando para a piscina quando, por sorte, o telefone tocou. Eu saí correndo, assim que ele foi atender e, por sorte, o Bill também conseguiu fugir do Tom. Nós dois corremos para o andar de cima da casa, com o Tom no nosso encalço e, de repente, o Bill me fez entrar em um dos cômodos e trancou a porta. O Tom disse, do outro lado da porta:

– Vocês dois mal perdem por esperar! Na hora que vocês derem mole... Vão tomar um banho de piscina...

Logo em seguida, a voz dele parou e ouvimos ele falando com o Georg, no primeiro andar. O Bill se virou de frente para mim e falou:

– É... Só eu mesmo para te arrastar para o banheiro...

Eu tive que rir. Colocando os meus braços ao redor do pescoço dele, propus:

– E se a gente fugisse daqui e fosse para um outro lugar... Onde a gente não vai correr o risco do Tom jogar a gente na piscina?

Ele pôs as mãos dele sobre a minha cintura e, mordendo o lábio inferior, ele disse:

– É uma boa idéia, sabia? Mas teríamos de ser rápidos...

– Quer se arriscar?

– Por mim... - Ele respondeu. Quando ele destrancou a porta, foi até o quarto do lado e viu que o Georg e o Tom ainda estavam na piscina com as meninas. O Gustav estava conversando no telefone, na sala. Fomos silenciosamente até a porta da frente e, tomando o máximo de cuidado, saímos da casa do Georg e fomos para a casa dele. Quando chegamos lá, a mãe dele perguntou, assim que me viu:

– De onde vocês estão vindo?

– Da casa do Georg. Ele e o Tom queriam nos jogar na piscina e, aproveitamos um minuto de distração e viemos para cá... - O Bill respondeu. Ele me pegou pela cintura e, depois de me dar um beijo no rosto, perguntou se eu queria alguma coisa. Eu disse que queria um copo de água. Ele foi até a cozinha e eu fiquei com a Simone. Ela me perguntou:

– Olha, eu sei que é constrangedor demais, mas, eu queria te perguntar uma coisa...

– Claro... - Respondi.

– Eu estive reparando em vocês dois nas vezes que você veio aqui e... Eu queria saber se... Vocês dois finalmente se acertaram e estão namorando...

Eu tinha que admitir que estava com medo de outra pergunta. Sorri e respondi:

– Estamos. O Bill é... Muito importante para mim...

– Eu já estava desconfiada... - A mãe dele respondeu. - Conheço o Bill e o Tom como a palma da minha mão e sei quando tem alguma coisa acontecendo com um deles ou com os dois. E eu estou feliz que o Bill esteja te namorando... Você nem imagina o quanto ele está feliz por sua causa.

Ele apareceu e, quando perguntou sobre o que a gente estava conversando, a Simone respondeu:

– Estávamos falando das mudanças que o namoro de vocês causaram...

Ele me olhou, surpreso, e eu sorri. A Simone nos deixou sozinhos e ele me perguntou:

– Tá... Como... ?

– Ela é mãe. E mãe sempre sabe de tudo. - Respondi. Ele me olhou, confuso, e eu dei um beijo nele. Eu sabia que a Simone estava sendo sincera. Só não sabia que ela gostava de mim. Era estranho, já que as mães raramente gostam das noras.

Postado por: Grasiele

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