quinta-feira, 15 de março de 2012

A Megera Indomada - Capítulo 5 - Uma surpresa (des)agradável

Eu e o Bill aproveitamos que eu estava ali e terminamos o trabalho. Ele ficou responsável por ditar e eu ia digitar o que havíamos escrito. Quando ele me ouviu digitando, comentou:

– Não sabia que você conseguia digitar tão rápido...
– Anos de prática na máquina de escrever do meu avô... - Respondi. Ficamos a tarde inteira fazendo aquilo e, na quarta-feira da semana seguinte, quando a professora de literatura veio dar aula, ela disse, naquele tom feliz e irritante de sempre:

– Fofinhos lindinhos e açucarados do meu coração... Eu li cada um dos trabalhos, com muito carinho e eu e a Tanya, que dá aula de teatro, para quem não sabe, me propôs uma coisa.

Eu sentia que aí vinha bomba. E que era relacionada com o meu sonho.

– Ela me sugeriu de fazermos uma peça de teatro baseada no melhor trabalho. Como só teve uma única dupla que conseguiu a pontuação máxima, então, eu decidi usar o trabalho deles.

Pensei comigo, enquanto me afundava na cadeira: "Não fala o meu nome... Não fala o meu nome... Por favor, não fala meu nome!"

– E o melhor trabalho é o da Catarina e do Bill.

A primeira palavra que me veio à mente foi: "Merda!". Eu tinha ficado tão... Desesperada que, quando ouvi, sem querer, falei o palavrão alto o bastante para a professora e o resto da turma, inclusive o Bill, ouvirem. A professora disse:

– Ai, ai, Catarina! Não pode falar palavrão!

Olhei para a professora e falei:

– Desculpe.

– Bom, a professora Tanya pediu para que você e o Bill interpretassem a Catarina Batista e o Petrucchio.

Tinha jeito de ficar pior? Tinha. Eu sabia que ia ter cena de beijo e me odiei por ter feito o trabalho com o máximo de capricho.

– Agora, para o restante da turma... Vocês mesmos vão escolher os personagens e eu queria dizer que vale dez pontos de participação.

Logo, o elenco da peça já estava escolhido e aquela correria infernal ia começar. Seriam vários dias ensaiando, sem mencionar as provas de roupa, construção do cenário e principalmente: A parte que me dava mais medo, ou seja, os beijos.

Em uma tarde, quando estávamos ensaiando a cena que a Catarina conhece o Petrucchio, os dois ficam trocando farpas até não poder mais e, num determinado ponto, ela se estressa e bate nele, por causa das provocações. Para me ajudar a deixar a atuação mais verídica, procurei me lembrar de todas as vezes que o Bill me provocou. E no entanto, quando eu e o Bill estávamos ensaiando essa cena do tapa, fui bater no Bill e, acabei batendo nele de verdade. Ninguém ali, nem eu mesma, estava esperando que o tapa fosse real. Pedi desculpas para ele, que enquanto massageava o rosto, sorriu. Quando o ensaio acabou, o Tom, que estava assistindo tudo da primeira fila do auditório do teatro da escola, fez um sinal para que eu me aproximasse e, aproveitando que o Bill estava distraído, o Tom me disse:

– Fez bem em ter batido nele... O Bill anda insuportável esses dias e realmente estava precisando de um tapa...

Eu ri. E perguntei, não conseguindo esconder a ansiedade e a curiosidade:

– Mas o que você está achando?

– Sinceramente?

– Não... Mentindo. Claro que é sinceramente, né, Tom?

– Vocês dois formam um lindo casal.

– Ai, Tom... Vai tomar banho, vai... - Retruquei. Ele riu e, quando o Bill veio até nós, o Tom disse:

– Hã... Eu vou te esperar lá fora, tudo bem?

O Bill concordou, com um aceno de cabeça, e disse, quando ficamos sozinhos:

– Pelo visto, você andou treinando...

– Naquele dia eu estava sob efeito de álcool e ecstasy. Óbvio que eu não ia ter forças para te bater...

– Então foi... Um troco por eu ter te xingado?

– Não. Só me empolguei mesmo. - Respondi. Nesse instante, senti o meu celular tremendo dentro do bolso traseiro da minha calça jeans e, depois de pegar o aparelho e ver que era a Bianca, que estava desesperada, falei com ele:

– Eu tenho que ir. A gente se fala depois.

– Tá. - Ele respondeu. Percebi que ele estava vindo atrás de mim, só que, ao invés de continuar a me seguir, ele e o Tom tomaram outro rumo.

Os dias foram se passando e, quando fui me dar conta, não tínhamos ensaiado a cena do beijo e, para piorar: Era o dia que iríamos encenar a peça, então, a escola inteira parecia estar ali, junto com as famílias dos "atores". Eu estava espiando todo mundo através de uma brecha da cortina. Eu me sentia terrivelmente ansiosa e, como eu tinha gastrite, estava começando a enjoar. Eu ia aparecer primeiro que o Bill e isso me deixava ainda mais nervosa. A professora de teatro me viu e disse:

– Kate... Vai lá para o camarim e pede para a Eva arrumar sua trança...

Fui andando para o camarim e, depois que a assistente da professora, que era diretora de teatro mesmo, arrumou minha trança, eu estava voltando para o palco, mas, o Bill abriu a porta assim que eu peguei na maçaneta. Como ainda faltava um tempinho para que eu aparecesse, fiquei lá, tentando me acalmar. Só que minha perna começou a tremer compulsivamente e o enjôo piorava a cada segundo. O Bill viu meu nervosismo, pegou um copo de água para mim e disse:

– Calma... Vai dar tudo certo, você vai ver...

– É fácil falar... Não é você quem vai aparecer primeiro e principalmente: Não vai precisar se preocupar com o tapa...

Ele riu e, pegando a minha mão, disse:

– Se é para o bem da humanidade... Pode me bater. Mesmo.

– Ah, tá... E você vai ficar de cara vermelha?

– Não tem problema...

Nesse instante, um dos nossos colegas veio me chamar. O Bill falou:

– Como é que os atores falam?

– Merda.

– Merda, então!

De repente, fui tomada por um impulso e o abracei. Mas foi rápido, já que o nosso colega me chamou e eu tive que ir. Eu sabia que errei em ter abraçado ele daquele jeito. Mas, tinha jeito de resistir ao impulso, ainda mais depois de ele ter me dado permissão para bater nele?

Postado por: Grasiele

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