quinta-feira, 15 de março de 2012

A Megera Indomada - Capítulo 6 - As surpresas da peça

 Quando os outros atores nos deixaram a sós, na parte que a Catarina conhece o Petrucchio, o Bill estava dizendo as falas dele, normalmente e eu, me virando de costas para ele, olhei para o público e vi meu pai e a Bianca, sorrindo para mim. Dei um sorriso para eles e, logo em seguida, eu disse minha fala e, quando o Bill terminou a fala dele, era a parte do tapa. Eu hesitei brevemente, mas, consegui dar um tapa. E ele ainda me ajudou, virando o rosto na direção certa.

A peça foi tranqüila até a cena do beijo. Eu estava morrendo de nervoso, já, minha gastrite estava quase acabando com meu estômago, mas, mesmo assim, encarei a cena numa boa. Porém... O que eu não contava era que o beijo foi de verdade. Sério. Não foi beijo de língua, mas, deu para perceber, claramente, que "aquilo não estava no script".

Depois que a peça acabou, cada um foi para os camarins (Um para os meninos e outro para as meninas, óbvio), trocar os figurinos pelas roupas e, assim que saí de lá, com minha bolsa sobre o ombro, as duas primeiras pessoas que eu encontrei foram meu pai e a minha irmã. Meu pai estava muito orgulhoso de mim. E a Bianca me deu um abraço. Depois, ela aproveitou que o meu pai foi falar com a diretora da peça, e me perguntou:

– Vem cá... Aquele primeiro beijo estava no script, por um acaso?

– Claro que estava. - Eu respondi.

– Mas o beijo não era para ser tipo um selinho?

– E não foi?

– Não. - Ela respondeu. - Faltou só um pouquinhozinho para aquilo ali ser um beijo de língua.

– Ai, Bianca... Não fala besteira, tá? - Suspirei. A mãe do Bill e do Tom veio me cumprimentar e ela disse, me dando um abraço:

– Parabéns, Kate! Você foi ótima... Nas cenas que você brigava com o Bill... Parecia que era até de verdade...

– É, mas, não eram. - Respondi, sorrindo. - E obrigada.

– Falando nisso... Você viu o Bill? - Ela me perguntou.

– Não...

– Bom, se você o encontrar, avise à ele que eu estou querendo falar com ele, tá?

– Pode deixar.

Ela me deu outro abraço, o Gordon também me elogiou e me deu um abraço. Eu procurei pelo Bill e o Tom, mas, não tinha nenhum sinal deles.

– Procurando por nós? - O Tom disse, de repente, me dando uma cutucada nas costelas.

– Ai, peste! - Eu respondi, dando um tapa no ombro dele. - Assim você vai me matar do coração...

– Mas, o que você queria com a gente? - O Tom me perguntou, me abraçando.

– A sua mãe está procurando o Bill. - Respondi. - Ela foi para aquele lado.

Apontei para a esquerda e ele disse que queria falar comigo depois. Meu pai voltou para perto da gente e cumprimentou o Tom, pensando que ele fosse o Bill. Enquanto apertava a mão do meu pai, o Tom disse, meio sem graça:

– Obrigada, senhor, mas... Na realidade, quem atuou foi o meu irmão, o Bill... E eu sou o Tom.

– Ah... Me desculpe... Mas vocês dois são tão parecidos que eu acabei me confundindo... - Meu pai falou, roxo de vergonha.

– Tudo bem. - O Tom respondeu, sorrindo.

– Hã... Catarina... Vamos?

– Senhor, eu queria te pedir permissão para levar a Catarina à uma comemoração que o povo vai fazer daqui a pouco... Todo caso, eu a levo para a casa...

– Tudo bem. - O meu pai respondeu. A Bianca hesitou e eu falei:

– Pai... A Bianca pode vir também? Tem a garota que fez a outra Bianca e as duas são da mesma idade...

– Bem... Por que não? - Meu pai perguntou, em resposta. Consegui ver os olhos da minha irmã brilhando.

Quando nós estávamos saindo da escola e indo à uma pizzaria, por sugestão de um dos "atores", a Bianca (Minha irmã) e a outra Bianca (Que se chamava Rachel), estavam conversando, e perguntei para a Bianca:

– Você vai com a Rachel e as meninas?

– Vou.

– Tá. - Respondi. - Nos vemos na pizzaria, então?

– Claro, né? - Ela perguntou, em resposta.

Todo mundo arranjou uma carona e, por fim, até o Tom desistiu de ir com a gente e foi com outro carro. Por fim, eu e o Bill fomos no mesmo táxi. A comemoração do sucesso da peça foi uma farra mesmo e, quando fomos fazer um brinde, o colega que fez par da Rachel, disse:

– Um brinde ao nosso sucesso como atores amadores, com exceção da nossa Catarina, que provou ser muito mais que um rostinho bonito e uma garota tão geniosa quanto Catarina Batista... E à própria Catarina e ao Bill, os melhores Catarina e Petrucchio que eu já vi.

Todo mundo brindou e, ficamos na pizzaria até mais ou menos meia-noite. O Tom sumiu e uma das "atrizes" também. Então, o Bill que levou a gente para a casa. A Bianca estava sentada na ponta, eu no meio dela e do Bill. E, por causa do horário, além de ter feito um monte de coisas o dia inteiro, a minha irmã não agüentou e acabou pegando no sono, dentro do táxi, mesmo. Quando o táxi parou na porta da minha casa, eu dei um cutucão na Bianca, que resmungou e eu falei:

– Anda, Bianca... Já chegamos em casa... Nem eu e nem o Bill vamos te carregar...
Por fim, a Bianca saiu do carro e o Bill nos acompanhou até a porta. Quando eu destranquei a porta, a Bianca entrou primeiro e, como eu queria conversar com o Bill, apesar da hora, fechei a porta.

– Posso... Falar com você? Vai ser rápido... Quero só te perguntar uma coisa...

Ele já sabia o que eu queria perguntar. Mas, mesmo assim, ele se sentou no banco de madeira que tinha na varanda da nossa casa, e eu preferi ficar em pé. Ele perguntou:

– Vai querer saber por que eu te beijei, não é?

– Vou. Você não precisava ter me beijado de verdade, na frente de todo mundo...

Ele ficou quieto, me observando por alguns segundos. De repente, ele se levantou e disse, num tom de leve desprezo:

– É... Você tem razão. Não precisava ter te beijado de verdade...

Ele não falou nada. Eu entendi o porquê do silêncio dele e falei:

– Bom... Era só isso. Pode ir para a sua casa.

– Kate... Eu não terminei...

Cruzei os braços e esperei ele continuar, o que não demorou muito:

– Eu sei que você vai me odiar pelo resto da minha vida, mas, vale a pena me arriscar... Eu realmente não precisava ter feito aquilo, mas, se eu fiz, foi por uma razão...

– E que razão é essa? - Perguntei, num tom indiferente.

– Eu te beijei porque eu quis. Desde a primeira vez que eu te vi, sabia que você não era como as outras meninas.

– Lógico que não... Enquanto a maioria das meninas são que nem a Bianca, ou seja, cabeça oca, que só se preocupam com futilidades...

– Está vendo? É por isso que eu... - A voz dele morreu antes de a frase ser completa. Parei por um minuto. Aquilo realmente estava acontecendo?

– Você sabe que... Nós dois... Nunca iria dar certo, não é?

– E a gente tentou fazer alguma coisa, para você ter essa certeza absoluta?
– Não. Mas, eu sei que não vai dar certo. E eu sabia que não deveria ter deixado as coisas chegarem a esse ponto... Sinto muito, mas... Prefiro que cada um siga o seu próprio caminho... - Eu disse, indo até a porta. Porém, ele me agarrou pela cintura, me puxou para mais perto dele e disse:

– Pode espernear e me bater o quanto você quiser... Eu estou apaixonado por você e não tem nada que vai me impedir de ficar com você...

E, quando terminou de dizer isso, ele me beijou. Eu estava sem ação, confesso. Até comecei a corresponder ao beijo, mas, quando vi o que estava acontecendo, empurrei ele para longe de mim e dei um tapa. Em seguida, entrei em casa e fui correndo para o meu quarto. Passei longe da janela, só para não precisar ter de olhar para ele entrando no táxi. Eu estava odiando aquele garoto com todas as minhas forças. E pensar que eu estava até achando ele bonitinho... Ai que raiva!

Postado por: Grasiele

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