quinta-feira, 15 de março de 2012

A Megera Indomada - Capítulo 2 - A aula de biologia

No dia seguinte, as duas últimas aulas eram de biologia. Tivemos que agüentar o falatório da professora sobre reprodução humana, incluindo o que acontecia nos corpos dos homens e das mulheres durante todo o processo, além dos engraçadinhos que riram a aula inteira. Ela estava explicando o que acontecia durante o crescimento e, de repente, ela disse:

– Kate e Bill... Poderiam vir aqui na frente, por favor?

Eu estava distraída, rabiscando o cantinho da folha do meu caderno e ele, pelo o que pude perceber, estava desenhando um bonequinho, tipo aqueles de mangás. Quando a professora viu que nenhum dos dois se mexeu um milímetro, ela foi nos buscar pelas mãos. Nós dois estávamos sentados um do lado do outro e fomos praticamente arrastados até a frente da sala. A professora disse:

– Como dá para vocês verem, o corpo dos meninos é diferente do das meninas.

E foi falando a respeito de toda e qualquer transformação que acontecia nessa época. Quando ela foi explicar que a cintura e o quadril das meninas ficava mais
definido, um grupo de meninos assobiou e riram. A professora disse:

– Vocês estão rindo, mas, aposto que, quando vocês saem, vão à festas ou em qualquer outro lugar que vocês costumam ir para se divertirem, a primeira coisa que vocês olham é para a bunda das meninas, não é mesmo?

– Ô professora! É lógico! - Um deles respondeu. - A bunda das meninas é uma das partes mais... Macias e gostosas de se apertar quando a gente tá dando "uns pegas" nelas...

– Obrigada, Joseph, mas, isso era algo que a gente não precisava ouvir. - Ela respondeu. - Mas, continuando...

Quando a professora foi dar uma explicação do que acontecia durante um beijo, por exemplo, ela começou a falar, nos mínimos detalhes:

–... Tanto que, nos meninos, essa... "Animação" é visível.

A turma ficou em silêncio. Vi a cara dos meninos e, quando fui olhar para o meu lado, vi o Bill ficando roxo de vergonha, pelo canto do olho. Por sorte, o sinal tocou e finalmente estávamos liberados daquela aula constrangedora. Eu fui pegar a minha mochila e o Bill me perguntou:

– E aí? Você vai mesmo lá para a minha casa, para a gente poder fazer o trabalho que a professora de literatura pediu?

– Vou. - Respondi, amarrando o meu casaco no quadril. Pus a mochila sobre os ombros e saímos da sala juntos. Assim que vi a Bianca, falei com o Bill:

– Peraí que eu vou só avisar a minha irmã.

Ele esperou e eu disse, assim que a Bianca se virou para me olhar:

– Olha, eu vou fazer um trabalho de literatura na casa de um colega, então, por favor, avisa ao papai que hoje eu vou chegar em casa mais tarde...

– Tá bom. - Ela falou, indiferente. Quando passei perto dela, com o Bill do meu lado, vi a cara de surpresa da minha irmã.

Saímos do prédio onde funcionava a nossa escola e esperamos pelo Tom, sentados na escada, quietos. Já era bastante constrangedor sermos vistos juntos, uma vez que nos odiávamos, e as coisas ficaram ainda piores depois da aula de biologia. O Bill esperou quinze minutos para poder ligar para o Tom e, quando o irmão atendeu, o Bill perguntou:

– Onde é que você se enfiou? Eu estou com a Kate aqui, te esperando para a gente poder ir para a casa...

Eu nem teria prestado atenção na conversa senão fosse por um pequenino detalhe: Ele nunca tinha me chamado assim. Era sempre Catarina.

– É... Eu te falei que a gente ia fazer um trabalho de literatura juntos... Lembra? - O Bill disse, interrompendo meus devaneios. O Tom respondeu alguma coisa e, o Bill, suspirando impaciente, disse que não precisava e que estávamos indo para a casa dele. Logo depois, se despediram um do outro e, pegando a mochila, se levantando e colocando o celular no bolso, o Bill me disse:

– Aquele... Filho de uma...

– Vocês são gêmeos. - Lembrei.

–... Como eu ia dizendo, aquele safado do meu irmão já foi para a casa. A aula dele acabou mais cedo e, como ele não estava com saco, decidiu não esperar por nós...

– Ah... - Foi tudo o que eu consegui responder.

– Bom... Vamos para lá, então?

– Tá. - Respondi. Fomos andando até o ponto de ônibus, em silêncio. Ficamos esperando o ônibus, ainda sem trocar uma única palavra. De repente, eu me lembrei que tinha guardado um pacotinho de alcaçuz dentro da bolsa, durante o intervalo. Tirei a mochila das costas e, tentando me apoiar num pé só, com a mochila sobre a minha coxa, procurei pelo pacotinho de alcaçuz. Quando eu finalmente o encontrei, percebi que o Bill estava me olhando. Ele perguntou:

– O que você está fazendo?

– Não está dando para ver?

– Não... - Ele respondeu. De repente, ele olhou para a frente e viu que o ônibus estava vindo. Deu o sinal e puxou meu braço, para que eu fosse com ele. Depois de pagarmos as passagens, ele procurou um lugar vazio, onde coubessem duas pessoas, só que os únicos lugares disponíveis eram dois bancos, onde uma mulher e um homem, sentavam do lado da janela. A mulher estava sentada na frente e, como o Bill me deixou embarcar primeiro, escolhi este assento. Já ele, teve de sentar atrás, do lado do homem. Eu tirei um livro da mochila e, antes de abri-lo, prendi o cabelo, com um lápis. Senti o olhar do Bill na minha nuca e eu sabia porquê. Mas, não olhei para trás. Me preocupei em ler o meu livro.

Uns quinze minutos depois, chegamos à casa dele. Assim que ele destrancou a porta, me deixou passar primeiro e, quando ele passou, trancou e gritou:

– Tem alguém em casa?

No primeiro instante, não houve resposta. Mas, a mãe dele veio até a sala. Ela me olhou e perguntou:

– Por que você veio depois que o Tom?

– Ele não te falou que a aula acabou mais cedo e não teve paciência de esperar a gente? Ah... Mãe, esta é a Catarina. Catarina, minha mãe, Simone. - Ele respondeu. - Nós vamos fazer um trabalho de literatura.

– Ah, sim... - A mãe dele respondeu, olhando desconfiada para o filho e, logo em seguida, me olhou e sorriu. - Como vai?

– Bem, obrigada. E a senhora? - Perguntei. Eu era geniosa, mas, era educada, também.

– Vou bem, obrigada. Ah, Bill... Uma moça ligou, te procurando... O nome dela é... Isobel ou alguma coisa assim...

– Ah... Depois eu ligo para ela. O Tom está no quarto?

– Está. - A mãe dele respondeu.

– Vem comigo... - Ele disse, pegando a minha mão e me levando até o segundo andar da casa. Quando entramos no quarto dele, o Tom veio logo depois do Bill e, assim que me viu sentada em uma das duas camas, ele veio até mim, pegou meu rosto e deu um daqueles beijos estalados na minha bochecha. Ele perguntou:

– Sabia que você é uma santa?

– Não sou não... - Respondi, sem pensar, enquanto tirava o caderno e meu estojo da mochila.

– Ah, é sim... Tem que ter uma paciência para agüentar meu irmão...

Eu tive que rir. O Bill jogou um travesseiro na nossa direção e acertou em cheio no Tom, que me olhou e disse:

– Tá vendo o que eu quis dizer?

– Tom, por favor? A gente vai fazer um trabalho complicado agora... Se não for pedir muito, você podia... Sei lá... Ajudar a mamãe a descascar cebola ou qualquer outra coisa assim?

– Já que você pediu de maneira tão... Educada...

O Tom, ao passar pelo Bill, devolveu a travesseirada e saiu do quarto. Eu estava procurando as anotações que eu fiz sobre o trabalho e, o Bill me perguntou:

– Gostei da sua rosa...

Levantei a cabeça e olhei para ele, confusa.

– A sua tatuagem da nuca. É de verdade?

– Quer dizer definitiva? É.

Ele levantou as sobrancelhas, como se dissesse que entendeu, e, ficou me observando procurar pelas anotações. Quando achei, dei uma lida rápida no que eu tinha escrito e eu disse:

– Em resumo: Nós temos que escrever uma peça contemporânea usando "A Megera Domada" como base.

– Sério? Desculpa, mas, eu nunca escrevi peça de teatro antes...

– É, mas, eu já. Talvez foi por isso porque a professora me escolheu como sua dupla... - Respondi.

Ficamos revezando entre quem ia escrever o rascunho no caderno, para depois digitarmos o trabalho no computador. Eu estava ditando uma das cenas para ele e estava deitada na cama, depois que ele me deixou deitar aqui. De repente, eu perguntei, quando ele parou de escrever um pouco:

– De quem é essa cama?

– Minha. - Ele respondeu. Eu me sentei rapidamente e ele disse:

– Pode ficar deitada, se quiser... Não tem problema...

– Acho melhor não. E sua mão está doendo... Me dá aí o caderno.

Ele me entregou o caderno e a caneta e eu continuei escrevendo. Quando eu vi que eram sete da noite, no relógio despertador que estava sobre o criado-mudo entre as camas, me levantei de um pulo da cama e comecei a juntar as minhas coisas. O Bill, que tinha ido ao banheiro por um minuto, voltou e, quando me viu, perguntou:

– Onde você vai?

– Para a minha casa. Já está tarde e se eu demorar mais, meu pai vai ter um ataque histérico e começar a ligar para os hospitais, polícias e etc. Segunda-feira, se você puder, a gente continua esse trabalho lá na minha casa, depois da aula...

– Tá. - Ele respondeu.

Antes de eu ir embora, o Tom me chamou e disse:

– Eu queria te avisar que todo mundo vai ter de ir de branco na festa amanhã, tá?
– Ah, tá... Foi até bom que você me avisou... - Respondi.

– Posso te buscar, amanhã?

– Claro... - Respondi. - Bom, deixa eu ir, então... Até amanhã, às oito, né?

– É. - Ele respondeu. Ele tinha me levado até o ponto de ônibus, que já estava se aproximando e eu já tinha dado o sinal. O veículo parou e eu embarquei. Quando cheguei em casa, meu pai perguntou:

– E aí? Fez o trabalho?

– Ainda não terminamos, mas, já fizemos um pouco mais da metade. - Respondi. - Ah, pai... Duas coisas: Esse meu colega vem aqui na segunda-feira depois da aula e amanhã eu vou à uma festa.

A Bianca, para meu azar, ouviu a parte da festa e ficou insistindo, tanto comigo quanto com o meu pai, para que ela fosse também. Para minha sorte, meu pai me perguntou:
– Por um acaso, essa festa é uma daquelas que as pessoas podem ir sem serem convidadas ou...

– Na realidade, o dono da festa é bem... Sistemático quanto à isso. - Respondi, vendo a Bianca ficar de cara fechada. - Além do mais, eu não acho que ele gosta de gente que aparece sem ser convidada...

A Bianca, que normalmente era calma, gritou, de repente, dando um susto no meu pai e em mim:

– CATARINA, EU TE ODEIO!

E saiu da cozinha batendo pé. Meu pai disse:

– Sabia que você é má?

– Eu sei. Mas, a Bianca é nova demais... Se duvidar, ela vai ficar deslocada ali no meio...

– Nova demais? Sua irmã tem quinze anos... E você tem dezessete...

– Tá... Se você prefere deixar sua filhinha se arriscar a ser estuprada por um bêbado, tudo bem... Vai em frente... Mas, depois, não diz que eu não avisei...

Meu pai ficou branco e, por um instante, achei que ele não ia me deixar ir. Mas, por incrível que pareça, ele não voltou atrás na decisão de me deixar ir. E, de novo, aquela sensação sobre a festa apareceu...

Postado por: Grasiele

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