(Contado pelo Bill)
No sétimo mês de gravidez da Holly, ela também fazia aniversário. E para comemorar, comprei um colar de ouro. Uma corrente delicada com um pequeno fecho. Ela o colocou imediatamente. Aproveitei para pedi-la em casamento. Não se dá à luz o primeiro filho todos os dias, então quando o Hospital Santa Maria nos ofereceu a suíte de luxo na maternidade, agarramos a chance. As suítes pareciam coberturas de hotel, espaçosas, iluminadas e guarnecidas com mobília de madeira, papel floral nas paredes, cortinas, uma banheira, e uma cama para o papai. Em vez de comida comum de hospital, os “hospedes” podiam escolher as refeições. Poderíamos até pedir uma garrafa de champanhe, embora apenas os pais pudessem aproveitá-las, pois não aconselhavam às mães beber mais do que um gole comemorativo por causa da amamentação.
- Nossa, é como se estivéssemos de férias! – exclamei, pulando na cama para os papais ao visitar as acomodações semanas antes da data prevista para o parto de Alex.
Numa noite, enquanto dormia tranquilamente, ouvi chamar o meu nome.
- Bill! Bill, acorde!
Era Holly. Ela me sacudia com força.
- Bill, acho que o bebê está nascendo.
Apoiei-me rápido sobre o cotovelo e esfreguei os olhos. Holly estava deitada com os joelhos dobrados em direção ao peito.
- O bebê, o quê?
- Estou tendo contrações muito fortes – ela disse. – Estou aqui deitada controlando o tempo. Precisamos chamar o Dr. Gabriel.
Agora eu acordara completamente. O bebê estava nascendo? Eu estava louco de ansiedade pelo nascimento do nosso primeiro filho. Mas as chances de vida fora do útero são pequenas e a de sobreviver sem sérios problemas permanentes de saúde eram menores ainda. Há uma razão para a natureza manter os bebês na barriga por longos nove meses. Mas no sétimo mês, as chances de vida são reduzidas.
- Provavelmente, não é nada sério. – disse.
Mas eu podia sentir meu coração batendo forte enquanto ligava pelo discador automático para o serviço de atendimento obstétrico. Dois minutos depois, o Dr. Gabriel chamou de volta, também com a voz sonolenta.
- Podem ser gases – disse ele -, mas é melhor dar uma olhada.
Ele me disse para levar Holly para o hospital imediatamente. Corri pela casa, jogando peças de roupa numa sacola para ela, empacotando a sacola do bebê. Na unidade de terapia neonatal intensiva do Hospital de Santa Maria, as enfermeiras começaram a trabalhar rapidamente. Colocaram uma camisola de hospital em Holly e ligaram-na a um monitor que media as contrações e os batimentos cardíacos do bebê. Ela estava tendo contrações a cada seis minutos. Não poderia ser gases.
- Seu bebê está fazendo força para nascer – disse uma enfermeira. – Vamos fazer todo o possivel para que ele não saia ainda.
Pelo telefone, o Dr. Gabriel pediu-lhes para checar se ela tinha dilatação. Uma das enfermeiras introduziu um dedo com uma luva obstétrica e informou que Holly estava com dilatação de um centímetro. Até eu sabia que isso não era um bom sinal. Com dez centímetros o colo do útero está totalmente dilatado, quando, em partos normais, a mãe começa a fazer força para empurrar. A cada contração, o corpo de Holly empurrava-a cada vez mais próximo ao limite.
Dr. Gabriel deu ordem para que pusessem nela uma sonda intravenosa com solução fisiológica e uma injeção, um inibidor de trabalho de parto. As contrações cederam, mas, menos de duas horas depois, voltaram violentas, precisando de uma segunda aplicação e depois de uma terceira. Nos doze dias seguintes, Holly ficou hospitalizada, presa a monitores e sondas intravenosas, e foi analisada por uma sucessão de perineonatologistas.
Quando os médicos finalmente deram alta a Holly, fizeram algumas recomendações, tipo: descansar bastante, nada de cozinhar, nem pegar correspondência do lado de fora, não levantar nada mais pesado do que uma escova de dentes. O trabalho dos médicos interrompeu o parto prematuro; seu objetivo agora era mantê-lo assim pelas próximas semanas de gestação. Uma técnica de enfermagem do hospital veio até nossa casa unicamente para cuidar da Holly por 24 horas.
A noite havia chegado, e estávamos deitados na cama. Eu lia um livro, enquanto Holly alisava sua barriga, quando o bebê chutou.
- Oh meu Deus! – disse ela.
- O quê foi?
- O bebê está chutando! Coloque sua mão. – ela segurou minha mão e direcionou até a barriga.
Era a sensação mais estranha, ao mesmo tempo em que a alegria emanava de nós dois.
- Temos que escolher o nome. – disse ela.
- Não sou bom nisso. Talvez seja melhor você escolher.
- Vamos fazer o seguinte: se for menino, você escolhe. Se for menina, eu escolho.
- Ok.
- Amor, estou com vontade de morango com chocolate.
- E onde encontrarei isso a essa hora da noite?
- Não vai deixar que o seu filho nasça com carinha de morango, não é?
- Mulheres grávidas não deveriam ter desejos. – ela riu.
Me levantei, e liguei pro Carlão. Eram 22h42. Onde eu encontraria uma lanchonete aberta? Rodamos de carro até encontramos. Voltamos para casa, e Holly já estava dormindo.
- Querida... – tentava acordá-la com cuidado. – Comprei os morangos.
- Morangos?
Ela se levantou rapidamente, e foi pro banheiro. Ficou vomitando por alguns minutos, e depois voltou para a cama. O que eu não faço pra ter que satisfazer o desejo da Holly, hein? Rodei praticamente a cidade inteira atrás de um lugar aberto, e quando apareço com os benditos morangos, ela corre pra vomitar. Definitivamente: mulheres grávidas é um problema!
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