domingo, 4 de março de 2012

Ironias do Destino - Capítulo 27 - A sorte dos Irlandeses

(Contado pelo Bill)
      Passamos por tantas coisas nesses últimos dias, que nos deixaram um pouco “cansados”. Minha vida era definida cada vez mais pelo trabalho. Quase não tinha tempo para ficar ao lado da Holly, que lutava para tentar engravidar novamente.

      Ainda não havíamos nos casado, mas eu pretendia pedi-la em casamento num lugar especial. Eu precisava relaxar. Precisávamos de férias, apenas nós dois, longe das obrigações dos shows, e com todo o resto.

DOIS MESES DEPOIS

      Já era noite, quando cheguei do Studio, e a surpreendi levando duas passagens aéreas para a Irlanda.

           - É sério? Vamos mesmo viajar juntos? – pergunta ela, excitada.
           - Mais é claro! Estamos mesmo precisando de um tempo só nosso. – disse.
           -Ai meu Deus! Eu não acredito! – disse ela, pulando em meus braços.

      Iríamos viajar por três semanas. Não faríamos nenhum itinerário, nem passeios com agentes de turismo, nem teríamos obrigação de visitar os lugares. Apenas alugaríamos um carro, teríamos um mapa da estrada e um guia turístico de hotéis para dormir pelo caminho. Apenas segurar as passagens nas mãos já elevou o nosso espírito.

–--

      A Irlanda foi tudo o que sonhamos. Linda, bucólica, preguiçosa. O tempo estava esplêndido, claro e ensolarado na maioria dos dias, fazendo os moradores locais temerem a possibilidade de seca. Como prometemos a nós mesmos, não tínhamos horário nem itinerário pré-determinado. Simplesmente vagávamos, vadeando pela costa, fazendo compras, fazendo trilhas, ou simplesmente ficar olhando para o mar. Paramos o carro para conversar com fazendeiros que juntavam seu feno, e tirar fotos com as ovelhas no meio da estrada. Se víssemos um atalho interessante, saíamos do caminho para descer por ele. Era impossível se perder, porque não tínhamos nenhum lugar para ir. Todas as nossas responsabilidades e obrigações eram apenas remotas lembranças.

      Quando anoitecia, começávamos a procurar um lugar para dormir. Invariavelmente, encontrávamos quartos para alugar em casas de doces viúvas irlandesas que nos serviam, traziam chá, ajeitavam a cama e sempre parecia fazer a mesma pergunta:

           - Vocês planejam logo ter filhos?

      E então nos deixavam no quarto, sorrindo de um modo estranho e sugestivo, fechando a porta atrás de si.

      Holly e eu nos convencemos de que havia uma lei federal na Irlanda que exigia que todas as camas de hóspedes deveriam estar de frente a uma imensa imagem do papa ou da Virgem Maria. Alguns lugares tinham os dois. Uma delas incluía um rosário desproporcional pendurado sobre a cabeceira. A lei irlandesa do viajante celibatário também ditava que todas as camas deveriam ser extremamente barulhentas, como se soasse um alarme toda vez que um de seus ocupantes se mexesse um pouco sobre ela.

      Tudo conspirava para criar um ambiente tão inspirador para relações amorosas quanto um convento. Estávamos hospedados em casa de estranhos – numa casa de alguém muito católico -, de paredes finas, uma cama muito barulhenta, estátuas de santos e virgens por toda parte, e uma anfitriã bisbilhoteira que, pelo que sabíamos, estava espreitando do outro lado da porta. Era o último lugar do mundo onde se poderia pensar em ter relações sexuais, o que, obviamente, fez com que eu passasse a desejar Holly de uma forma nova e poderosa.

      Apagamos as luzes, e entramos na cama, as molas rangendo com o nosso peso e, imediatamente eu colocava minha mão sob a blusa de Holly, em cima de sua barriga.

           - De jeito nenhum! – sussurrava ela.
           - Porque não? – sussurrei de volta.
           - Tá maluco? Alguém pode estar do outro lado da parede.
           - E daí?
           - Não podemos.
           - Claro que podemos.
           - Vão ouvir tudo.
           - Faremos silêncio.
           - Aham, sei.
           - Prometo. Mal vamos nos mexer.
           - Está bem, mas coloque uma camiseta ou qualquer outra coisa em cima do papa primeiro. – ela disse, cedendo, finalmente. – Não vou fazer nada com ele ali olhando para nós.

      Der repente, sexo parecia tão... tão... ilícito. É como se eu estivesse de novo no colegial, tentando escapulir do olhar suspeito de minha mãe. Arriscar fazer amor neste lugar, era arriscar passar por uma humilhação na mesa do café da manhã na manhã seguinte. Era arriscar enfrentar as sobrancelhas erguidas da Sra. O’Flaherty, enquanto nos servia, perguntando com um meio sorriso.

           - Então, a cama estava confortável para vocês?

      A Irlanda era, de costa a costa, uma ASS – Área Sem Sexo. E isto era exatamente todo o estimulo de que eu precisava.

      Os dias passaram rápido demais, e logo já estávamos de volta à rotina. Já havia se passado quatro semanas desde que voltamos da viajem. Holly e eu estávamos deitados na cama. Ela lia um livro, e eu simplesmente cantarolava, quando ela fechou seu livro e disse:

           - Hoje fui ao consultório do Dr. Gabriel.
           - Está sentindo alguma coisa? – perguntei, sem desviar meu olhar do teto.
           - Minha menstruação estava atrasada.
           - Sua menstruação? 

      Virei-me para encará-la.

           - Isso acontece algumas vezes. Mas já fazia mais de uma semana. E estava me sentindo esquisita também.
           - Esquisita como?
           - Como se eu estivesse constipada ou algo do gênero. Bebi um gole daquele vinho no jantar de ontem, e achei que fosse pôr tudo pra fora.
           - A última vez que fez isso...

      Não ousei dizer isso a ela, mas Holly andava um bocado mal-humorada ultimamente.

           - E quando foi ao consultório... O que o Dr. Gabriel disse? – perguntei.
           - Acho que... os irlandeses nos deram sorte. – disse ela. – Estou grávida.
 Postado por: Alessandra

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