domingo, 4 de março de 2012

Ironias do Destino - Capítulo 28 - Primeira Consulta

(Contado pelo Bill)
      Não ousei dizer isso a ela, mas Holly andava um bocado mal-humorada ultimamente.

           - E quando foi ao consultório... O que o Dr. Gabriel disse? – perguntei.
           - Acho que... os irlandeses nos deram sorte. – disse ela. – Estou grávida.

      O que fazer quando se recebe uma noticia dessas? Não sabia se corria pela casa gritando que eu seria pai, ou se a abraçava. Escolhi a segunda opção, e permanecemos daquele jeito por alguns minutos. Depois Holly e eu começamos a rir, e continuamos rindo por um bom tempo.

      O médico lhe deu uma receita de vitaminas pré-natais e disse que queria vê-la em seu consultório para um ultra-som.

           - Ele me pediu que não deixássemos de levar uma fita de vídeo. – disse ela.

      A gravidez fez muito bem a Holly. Ela se levantava pela manhã para se exercitar e caminhar. Preparava refeições nutritivas e saudáveis, cheias de legumes e frutas frescas; eliminou a cafeína e refrigerantes dietéticos e, claro, qualquer bebida alcoólica. Ela era a imagem perfeita de saúde em todos os requisitos, menos em um. Holly passava quase todos os dias querendo vomitar o dia inteiro. Mas não se queixava. Superava cada ataque de enjôo como um modo de aceitação tática, por indicar que o minúsculo corpo dentro dela estava conseguindo se desenvolver perfeitamente.

      Juramos manter segredo sobre a gravidez até que tivéssemos certeza de que o feto estivesse firme sem risco de aborto espontâneo, mas nem ela nem eu conseguimos disfarçar. Estávamos tão entusiasmados que confidenciamos a novidade a todos os nossos parentes e amigos, pedindo segredo, até que não fosse mais segredo. Primeiro contamos aos nossos pais, depois aos nossos irmãos, então aos nossos amigos mais íntimos, em seguida aos nossos vizinhos, e logo a imprensa também ficou sabendo e ficavam a todo o momento querendo nos entrevistar para saber mais detalhes. Holly tentou evitar um pouco mais sair sozinha para não ser abordada por um fotografo ou repórter maluco na rua.

      Quando chegou o dia do exame e do ultra-som de Holly, era como se tivéssemos colocado um anuncio num outdoor: Bill e Holly estão esperando um bebê. Vários paparazzi estavam de plantão em frente à porta do hospital para fotografarem qualquer coisa sobre a gente. Levei uma fita de vídeo virgem, que fora gravada as primeiras imagens nebulosas e granuladas do nosso bebê.

           - Querem ouvir o coração dele? – perguntou a enfermeira.
           - Claro! – respondemos em uníssono.

      Era incrível. Batia com tanta rapidez. Vi os olhos da Holly se encher de lágrimas, e enormes sorrisos se estamparem em nossos rostos.

           - Querem saber o sexo?
           - Não. – responde Holly, olhando pra mim.
           - Preferimos descobrir quando nascer. – disse.
           - Ok. – disse a enfermeira. – Está se alimentando corretamente?
           - Ela é o maior exemplo de comer bem. – respondi, em seguida, rimos.  

      Pudemos ouvir o coração bater, e ver suas quatro minúsculas cavidades pulsarem. Vimos também o contorno da cabeça, e contar todos os braços e perninhas. Dr. Gabriel pôs sua cabeça para dentro da sala de ultra-sonografia para dizer que tudo estava perfeito.

      Com dez semanas, a barriga de Holly começou a arredondar-se de leve. A gravidez parecia mais palpável. Porque não dividir a nossa alegria com o restante do mundo?

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(Contado pela Holly)
      Quanto a lidar com mulheres grávidas, o Bill sabia muito bem. Ele me dava o meu espaço, era solidário quando eu me sentia enjoada ou com dor, e tentava não fazer cara muito feia quando eu insistia em ler para ele o livro “O que esperar quando se está esperando”. Ele fazia elogios à forma como meu corpo adquiria, à medida que minha barriga crescia, dizendo-me coisas como “Você está ótima. De verdade. Parece que resolveu colocar uma cesta de basquete em baixo da camiseta”. Ele ainda se esforçava para levar numa boa meu comportamento cada vez mais bizarro e irascível. Logo Bill se tornou intimo do atendente de plantão do super mercado 24 horas ao se tornar um assíduo freqüentador, aparecendo a qualquer hora do dia ou da noite para comprar sorvetes, maçãs, salgadinhos, bolos, chicletes em sabores que ele nem suspeitava que existisse.

      Certa noite, quando eu estava no quinto mês de gravidez, eu cismei que precisávamos comprar meias de bebê. Sim, claro que precisávamos, e Bill concordou comigo. Certamente compraríamos tudo que o bebê precisasse antes de nascer. Mas eu não dizia que precisávamos comprar meias, apenas, eu dizia que precisávamos comprá-las imediatamente.

           - Não vamos ter nada para colocar nos pés do bebê quando voltarmos da maternidade. – dizia numa voz trêmula.

      Não importava que o dia previsto para o parto fosse dali quatro meses. Não importava que quando o bebê nascesse à temperatura externa seria de “gélidos” 36 graus Celsius. Não importava que até mesmo um rapaz desavisado como Bill sabia que o bebê estaria embrulhado da cabeça aos pés em um cobertor quando fosse liberado do berçário da maternidade.

           - Meu bem, pelo amor de Deus! – disse ele. – Seja razoável, são nove horas da noite de domingo. Onde é que eu vou achar meias de bebê?
           - Precisamos de meias. – repeti.
           - Temos várias semanas pela frente para comprá-las. – ele tentou contornar. – Vários meses pela frente para comprar as meias.
           - Veja esses dedinhos pequenininhos. – choraminguei. 

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(Contado pelo Bill)
      Não adiantou. Dirigi até o centro da cidade resmungando até encontrar uma loja que estivesse aberta e peguei uma seleção festiva de meias que eram tão ridiculamente minúsculas que pareciam luvinhas de polegar. Quando cheguei em casa e despejei-as da sacola, ela ficou satisfeita. Finalmente, tínhamos meias. E graças a Deus consegui pegar os últimos dos poucos pares de meias disponíveis antes que o fornecimento nacional de meias de bebê se esgotasse, o que poderia acontecer a qualquer momento, sem prévio aviso. Os frágeis dedinhos do nosso bebê agora estavam a salvo. Poderíamos nos deitar e dormir em paz.
 Postado por: Alessandra

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