terça-feira, 20 de março de 2012

Insanity - Capítulo 10

Bill...



Quando finalmente abandonei minha sanidade, junto com os minutos torturantes que se passou desde que meu irmão entrou pela porta, caminhei rapidamente até Kate, deixando que minhas mãos escorregassem violentamente até seu pescoço.

Empurrei-a até a parede, ouvindo um barulho próximo devido ao choque repentino de suas costas na mesma. Eu tinha certeza que a havia machucado, mas ainda assim não conseguia parar e muito menos largá-la.

Bill... – Eu a ouvi implorar.

Estava a machucando e sabia disso. Sabia também que apesar de ver seus olhos vermelhos cobertos por lágrimas, estava gostando de vê-la sofrer.

– Está doendo? – Perguntei insanamente sabendo que sim.

Levei minha outra mão ao seu rosto, segurando enquanto a sufocava, ela estava chorando.

– Você já amou tanto alguém a ponto de mal conseguir respirar? – Perguntei, cravando ainda mais minha unha em seu pescoço, tanto que quase podia ver seu sangue próximo. - Consegue sentir agora o que eu sinto enquanto vejo você com meu irmão?


– Por favor... - Ela suplicou com a voz falha.

– Dói, mas é tão bom. - Eu sussurrei próximo ao seu ouvido, cheirando sua pele como um maníaco a quem eu mesmo desconhecia.


Bill! - Ele gritou, segurando minhas mãos; parecia ter saído do transe em que se encontrava.

Eu a joguei no chão e só quando a olhei pude notar que ela havia caído com a cabeça sobre a mesinha de canto na sala. Kate havia desmaiado, pelo menos era isso que eu achava.

Kate? - Tom gritou correndo até ela e virando seu corpo para cima. Sua cabeça e pescoço sangravam e eu havia feito isso com minhas próprias mãos.


– Sai de perto dela! - Gritei, mas fui ignorando, visto que Tom sentou-se ao lado dela, colocando sua cabeça entre as pernas dele.


– Ela está morrendo, Bill! - Disse desesperado.


– E o que importa? - Eu gritei. - Ela vai me deixar! Você vai me deixar!


– Não... - Tom fechou os olhos tentando recuperar o fôlego - Ela...


– Ela disse que o ama... Eu ouvi. - O interrompi gritando, jogando qualquer coisa que havia achado em minha frente.


– Disse que gosta de mim, disse que me ama, mas é de uma forma completamente diferente. - Ele sugeriu em tom choroso.


Só então eu parei para vê-lo segurá-la no chão, Tom estava em meu lugar, eu devia estar cuidando dela e não tê-la machucado.
Que espécie de pessoa eu havia me tornado... Isso é o amor ou pura fraqueza diante dele?


Eu não saberia dizer no momento, quando tudo o que eu queria era abraçá-la e curar suas feridas enquanto repetiria o quanto a amava e confiava nela.

– Por que fez isso, Tom? - Perguntei me aproximando deles - Qual era a sua pretensão quando resolveu dizer isso a ela? - Se ela o aceitasse iria fugir e me deixar aqui como um idiota? - Gritei mais com ele, puxando-a para perto de mim, enquanto deitava ao seu lado.


– Não... Não era essa a minha intenção... Eu nunca quis magoar você, nunca quis ver Kate sofrer deste jeito... - Tom acariciou-lhe a face aproximando-se dela.


– Mas foi o que fez... - Eu sussurrei.


– A culpa é minha, Bill, só minha, e agora lembrando tudo que aconteceu nestes últimos dois dias, eu tenho certeza de que era tudo uma invenção criada por mim.


– Ela foi ao seu quarto, foi atrás de você... - Eu o olhei, culpando-o mais uma vez.


Tom e eu estávamos deitados no chão e apenas o corpo de Kate nos separava, talvez se ela não estivesse ali, naquele momento, estivéssemos rolando no chão, tentando matar um ao outro como sempre fazíamos quando queríamos resolver nossos problemas tolos.

– A culpa é minha! – Ele falou novamente. - Na próxima vez que quiser fazer isso é melhor que faça em mim, Bill...


Quando ele acabou, eu estava rígido de raiva, tentando imaginar se ele já a havia tocado e onde tinha o feito, mas o pouco de sanidade que me restava me mandava sinais de que eu ainda devia confiar nela e, possivelmente, nas palavras dele.


Mas, ainda assim, não conseguia achar palavras pra descrever meus sentimentos naquele momento. Era com certeza uma mistura de raiva, amor e tristeza... E, apesar das lagrimas, olhei seu rosto e sorri, sentindo-me um idiota, culpado por ter feito tudo aquilo e, possivelmente, por estar perdendo Kate.

Tom havia fechado os olhos com a cabeça encostada ao ombro dela, não pude ver, mas acreditei que estivesse chorando.


No silencio eu pensei na coragem que ele havia mostrado ao contar, não só hoje, como em todos os dias em que permaneceu sofrendo apenas para si mesmo.


E então eu também chorei, sentindo-me culpado, como de fato era, por ela estar assim entre nós.


Fiquei observando-a durante um tempo, dando-me conta do quanto a amava. Segurei sua mão junto ao meu coração, sentindo a frieza de seus dedos e, naquele momento, eu tive a certeza de que a havia perdido.

Até ela apertar a minha mão...






Poucas horas depois tudo que conseguia ver em minha frente eram rostos desconhecidos, alguns tentando salvá-la e outros apenas tentando entender o que havia acontecido.


O que eu poderia dizer? Sinceramente eu apenas me mantive em silêncio e Tom fez o mesmo.


Gostaria de saber o que pensavam enquanto tentavam fazer com que Kate voltasse à vida. Será que perceberam que eu estava perdendo tudo o que importava para mim? Ou estava eu, mais uma vez, sendo completamente egoísta, mesmo sabendo que a culpa de toda dor que ela estava sentindo era apenas minha... Eu não saberia responder, porque naquele momento meu mundo estava correndo rápido demais.


Kate logo foi levada para o quarto e novamente foi atendida por uma equipe de enfermeiros e médicos que, assim que me viram no quarto, pediram que eu me retirasse.


Comecei a chorar, com a certeza de que ela estava morrendo e em algum canto pude notar que Tom também chorava sozinho. Essa era a primeira vez em anos que eu podia simplesmente ver isso sem que ele escondesse ou apenas omitisse... Não sei, mas por algum motivo desta vez eu sabia que as lagrimas tão cedo não cessariam.


Longas horas se passaram desde que ali chegamos e tudo que eu podia fazer era olhar para uma janela cinza a minha frente. E isso era totalmente estranho, principalmente quando meu irmão estava ali ao meu lado o tempo todo, como se segurasse a minha mão, como se me apoiasse de qualquer forma e mesmo sabendo que ele estava ali por ela, era assim que eu gostaria de sentir e pensar.

– Quer tomar alguma coisa? – Ele perguntou, levantando-se da cadeira ao meu lado.


– Não, mas obrigado por perguntar.


– Vou pegar um café e já volto. – Avisou saindo.


– Senhor Kaulitz? – Levantei meu rosto e encarei a médica que há pouco havia entrado no quarto de Kate.


– Sim. Como... Como ela está?


– Sua esposa está dormindo agora... – Falou ela calmamente. – Ela ficará bem.


– Obrigado! – Foi tudo que eu consegui dizer depois de respirar profundamente.


– Sei que o senhor é uma pessoa publica e não gostaria de incomodá-lo com isso, mas são normas do hospital.


– O que? Do que está falando?


– Sua esposa chegou muito machucada. - Ela começou a falar naquele tom totalmente estranho que só os médicos carregam – E, obviamente, o senhor sabe que ela mesma não conseguiria fazê-los sozinha. – Finalizou, esperando uma resposta supostamente convincente vinda de minha parte... Mas infelizmente não havia nenhuma.


E enquanto ela falava as memórias voltaram como uma avalanche, todas elas. Notei o quão estúpido eu fui e o quanto ainda estava sendo, mantendo toda mentira por medo. Enquanto Kate sentia toda dor sozinha, sabia que havia cometido um erro em me manter em silêncio, mas fiz isso simplesmente porque era impossível esquecer o assunto, mesmo tentando me concentrar na conversa.

– Estou bem... Como já havia dito foi apenas um acidente, Bill não estava em casa quando aconteceu.


Olhamos para a cama assustados e lá estava Kate acordada, tentando me defender e, de alguma forma, tentando fazer com que a mulher acreditasse em suas palavras, mesmo que isso fosse totalmente inútil devido aos vários hematomas por seu corpo.



– Bem, senhora Kaulitz o hospital irá inve... – A mulher continuava a insistir.


– Não será preciso. – Kate falou com total segurança. – Obrigada!



Por um longo momento nenhum de nós se moveu, até que a médica contrariadamente decidiu deixar o quarto e então eu pude finalmente olhá-la nos olhos.



– Oi – Eu disse enquanto me aproximava de sua cama.


– Fico feliz que esteja aqui. – Ela sorriu, erguendo sua mão para alcançar a minha.


– O que eu posso dizer ou fazer pra você, porque, sinceramente, acho que me desculpar nunca será o bastante. – Perguntei ridiculamente, pois sabia que nada apagaria a dor que causei a ela.


– Você está aqui, isso é o bastante pra mim. – Murmurou.


– Como pode não ter medo... Nojo ou raiva de mim depois de ontem?


– Eu não tenho medo porque você é tudo que eu tenho... – Ela sorriu brevemente.


– Eu quase matei você... – Falei indignado, sentindo raiva de mim mesmo ao me lembrar de tudo.


– Estou bem... - Sua expressão adquiriu compaixão espontânea – Não quero que se culpe por algo que não aconteceu.



De repente ela abriu um sorriso largo e cheio de prazer enquanto curvava-se, tentando sentar-se. Movi meus braços para ajudá-la, mas assim que a toquei seus braços me envolveram em um abraço e eu freneticamente pedia que aquele momento não terminasse nunca.



– Me desculpe... Sei que isso não basta, mas me desculpe. – Eu pedia enquanto repousava minha cabeça em seu colo.


– Você não precisa se desculpar... Não há razão para estar arrependido. – Ela disse passando a mão por meus cabelos.


– Do que está falando? – A encarei encolhendo meus ombros relutantemente.


– Acho que sei o que estava pensando naquele momento... E sei que se fosse eu no seu lugar teria feito exatamente o mesmo. - Ao observá-la dizer aquilo senti uma súbita secura na garganta.


– É claro que não!


– Na verdade não - Ela deu um sorriso irônico. - Mas eu entendo... Por que eu sei que não era você.


– Está me perdoando? É isso? Depois de tudo?


– Deite aqui comigo. – Ela disse como se não estivesse me ouvido.


Inclinou-se para o lado da cama, dando passagem para que me aconchegasse ao seu lado e assim o fiz, tentando deixá-la o mais confortável possível, apesar de saber que ela não se importaria com isso.

Apoiei minha cabeça em seu peito, sentindo seus batimentos cansados e sua respiração falha e, de repente, a noite passada começava a voltar em minha mente...

– Me diga o que fazer, Kate... Eu não sei o que aconteceu e como viemos parar aqui... Eu simplesmente acordei e descobri que meu irmão estava apaixonado pela minha mulher... E eu nunca me imaginei vivendo esta situação... Não sei o que fazer, eu estou apavorado.


– Calma. – Pediu ela.


– Só quero ficar aqui... Com você e de alguma forma ajudar meu irmão. – Eu disse relutante.


– Eu sei. - Ela olhou para mim e respirou fundo algumas vezes.


–Vocês dois são tudo que importa pra mim e mesmo que eu pense no que seja certo a fazer, eu não sei... Não consigo descobrir.


– Eu amo você... E você sabe. – Ela balbuciou.


– Eu sei. – Apesar de tudo senti meu coração saltar.


– Mas não posso permitir que se afaste de Tom. - Ela levantou os olhos e encarou os meus.


– Eu não quero isso. – A alertei assustado apenas em pensar nesta possibilidade.


– Eu sei que não. - Ela se calou cansada demais para continuar naquele momento.

Seu sorriso era estranhamente triste e, por instantes, nenhum de nós disse nada.


Até que ela ressaltou a última frase...

– Mas você precisa me ajudar... – Ela pareceu estar cansada, mas após longos segundos tentando recuperar seu fôlego continuou... – Precisa me ajudar a te esquecer...

Postado por: Grasiele

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