terça-feira, 20 de março de 2012

Insanity - Capítulo 1

Tom...


Prometi a mim mesmo que não pensaria mais nela, mas a cada dia isso havia se tornando uma tarefa impossível, até mesmo pra mim, que nunca acreditei que isso pudesse acontecer... Sempre fui aquele tipo de pessoa que dificilmente muda de opinião quanto ao amor e relacionamentos, aquele tipo que endossa um compromisso profundo, mas ela acabou mexendo comigo de uma forma que eu desconhecia... E talvez isso não fosse tão estranho se ela não fosse minha cunhada.

Tudo começou com o casamento de Bill e Kate... Lá estava eu, cumprindo meu papel de melhor amigo e irmão dele. Acho que nunca vi meu irmão tão feliz quanto naquele dia e, consequentemente, eu também nunca estive tão feliz por vê-lo assim... Ele finalmente havia encontrado o que tanto procurava, e todos falavam do quão sortudo ele era por achar alguém como Kate.

Nossos pais estavam felizes, nossa família sempre tão encantada com ela, e isso era perfeito pra ele, que sempre mereceu o melhor. Isso era perfeito pra mim também, que até esse dia havia sido o irmão que ele mereceu... Até esse dia eu fui o melhor irmão que eu pude ser, fui aquele que ele merecia, aquele que esteve sempre ao seu lado, aquele que jamais o trairia, mas em um breve momento tudo isso mudou. Um momento sentido apenas por mim quando ficamos completamente sozinhos e então ela me olhou. Naquele momento tudo que eu senti foi um repentino tipo de urgência passar por meu corpo, tão poderoso quanto um veneno.
Um veneno que acabou me trazendo um tipo de fascinação... A mesma que até agora se encontra em mim.

Os meses foram passando e, com eles, esse estranho sentimento que foi crescendo aos poucos, agora já se fazia notar, apenas por mim, e, mesmo assim, eu não conseguia mais ser o mesmo quando estávamos perto um do outro. E a ideia de continuarmos morando no mesmo apartamento que eu e Bill dividíamos em Hamburgo já não era mais tão brilhante assim.

Tudo nela era estranhamente encantador. Não havia um momento sequer em que eu não quisesse tocá-la ou quisesse beijá-la ou até mesmo tê-la para mim, sussurrando meu nome enquanto nossos corpos se encarregavam do resto. Eu havia me tornado um estranho em minha própria casa, e também para meu próprio irmão...

Sete meses haviam já se passado e, a cada dia, me distanciar dela era um tipo de tortura. Tentava passar os dias inteiros no estúdio, só voltando à noite para casa porque sabia que ela já estaria dormindo e que me pouparia de seu beijo de boa noite. Cada momento que eu pudesse deixar passar seria melhor pra mim. Isso já havia se tornado loucura e talvez eu estivesse me sentindo meio doente. Afinal, o que eu podia esperar de tudo isso? O que mais ela poderia me dar além de sua amizade? Eles eram tão felizes juntos, e passar um tempo perto deles era como respirar amor, o mesmo tipo de amor em que eu tanto recusei acreditar um dia. E que agora era me negado da pior forma possível.

Levantei-me naquele dia e fui até à sala, ainda de pijama. Eu sabia que ninguém estava em casa, Bill estaria no estúdio, ouvindo pela milésima vez o quanto sua voz estava ou não boa para o CD, e Kate deveria estar junto com ele... Claro.

Eu ainda tinha um tempo livre até que eles chegassem e eu tivesse que tentar ignorá-la e fingir que estava tudo bem, mantendo nosso relacionamento de sempre. Eu tinha que fazer isso por Bill, de quem eu sentia muita falta, e eu tinha que fazer isso por ela porque, acima de tudo, eu a respeitava.
Mas eu acreditava sinceramente que de tudo o que estava acontecendo, não poder contar a ele era a pior parte. Claro que ele sabia que havia algo errado comigo, mas ele não fazia ideia, eu não era tão transparente assim, até mesmo com ele, que era meu irmão gêmeo. Bem, pelo menos eu tentava não ser.

Fui até à cozinha e abri a geladeira pegando algo para beber quando ouvi o barulho da porta sendo aberta, pelo som dos sapatos eu diria que era Kate, mas, tendo o irmão que tenho, era também bem possível ser ele de saltos...

– Tom? - Ouvi ela me chamar.

Tentei ignorar e fingir que não ouvi, não seria boa ideia ficar sozinho com ela em casa, eu jamais tentaria algo, mas não era bom sentir sua presença quando tocá-la era impossível...

Saí da cozinha tentando não passar pela sala e, por fim, cheguei ao meu quarto. Ela não entraria lá e, de certa forma, eu estava me protegendo e a ela também. Logo então ouvi a porta bater novamente, ótimo, ela havia saído e lá estava eu sozinho, como sempre. Acho que estou ficando meio melancólico.

Mas o som da minha melancolia foi interrompido pelo barulho ensurdecedor da voz do meu irmão no telefone.

– Sim Bill? - Perguntei sem vontade alguma.

– Você ainda tá dormindo? Porque não veio pra cá? Você tem que passar o som no piano, esqueceu isso? -Ele gritava no meu ouvido.

– Não! Eu não esqueci... Só estou um pouco cansado e não vou ao estúdio hoje, mas eu prometo que vou ficar treinando em casa e amanhã vai estar tudo bem. - Bill tinha o dom de me deixar nervoso.

– Tudo bem! É melhor que esteja muito bem amanhã ou acho outro cara pra tocar esse piano. - Gritou rindo.

– Se puder encontrar um melhor do que eu...

– Agora sim estou falando com meu irmão, achei que seu ego estava dormindo, mas vejo que não... – Debochou.

– Eu estava falando sério! Agora me deixa e vai cantar!

Desliguei sem esperar sua resposta, que claramente viria acompanhada de outra e outra. Nosso pior defeito era de não saber calar a boca, mas hoje eu não estava a fim de falar...

Fui até à sala onde estava o piano e logo encontrei as partituras da nova música em cima do mesmo. Comecei a tocar, tentando decorá-las para o próximo dia, mas logo outra música tomou conta de meus pensamentos. Não uma música qualquer... Mas o som vindo de suas palavras...
Virei-me, a encarando, e lá estava ela com seu sorriso terrivelmente encantador.


– Você estava aqui o tempo todo? - Ela perguntou sorrindo.

Postado por: Grasiele

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