terça-feira, 20 de março de 2012

Insanity - Capítulo 6

Tom...


Outro dia nascera, meu primeiro dia longe de casa, embora Georg fizesse o possível para que eu me sentisse praticamente na mesma. Não era como se eu pudesse acordar e ver meu irmão com seu sorriso bobo logo cedo, ou Scotty correndo atrás de Kasimir pela sala, ou tão pouco ver Kate servindo nosso café como em todos os dias depois do casamento.

Com minha insanidade eu havia perdido minha família inteira, e nem sequer queria imaginar o surto dos meus pais quando soubessem que eu já não morava mais naquele apartamento.

Levantei-me da cama assim que o sol invadiu o quarto, e naquela casa não haveria como lutar contra ele... Fiz minha higiene pessoal e caminhei até a cozinha, avistando Gustav sentado em uma das cadeiras. Mexendo em seu notebook, como sempre concentrado de mais para me ver chegar.

– Está morando aqui também e eu não sabia? – Perguntei vendo-o baixar os óculos me olhando por debaixo dos mesmos.

– É claro que não! Eu, ao contrário de você, não gosto de incomodar os outros. - Disse ainda concentrado em seu notebook.

– Quem disse que eu estou incomodando? Georg é apaixonado por mim, na verdade, ele até me ligou e implorou para que eu viesse ficar um tempo aqui com ele. – Gargalhei sentando-me ao seu lado na mesa.

– E eu estou acreditando. – Ele olhou-me sério. Definitivamente, Gustav não tinha senso de humor, pelo menos não de manhã.

– Que lista é essa aí? - Perguntei virando a tela para mim.

– Acha mesmo... - Ele retrucou virando novamente a tela para ele - Que dariam uma festa sem que eu soubesse, ou melhor, sem que eu liberasse a lista? – Riu cinicamente.

– Rachel não deixaria você vir mesmo. – Falei caminhando até a pia.

– E desde quando ela manda... - Ele bufou. – Tá, eu sei que ela não deixaria, mas eu viria escondido... Quem iria contar a ela? – Riu e então me olhou.

– Ninguém. – Debochei.

– Você não está em condições de entregar ninguém. - Continuava com seu sorriso cínico enquanto falava - Ou esqueceu Kate?

– Como você sabe? – Perguntei virando-me para ele.

– Eu contei. - Georg confessou entrando na cozinha.

– Porque você contou? – Gritei com ele.

– Porque eu não sei guardar segredos... Você sabe bem disso, ou não saberia que eu era apaixonado pela sua namorada na adolescência. – Riu sentando-se ao lado de Gustav.

– Devia ter contado ao Andy. - Retruquei e eles riram.

– Claro que devia, e essa hora você e Bill estariam rolando na lama. – Disse Georg.

– Eu jamais brigaria com ele por ela, Kate é dele e pronto. – Afirmei.

– Que seja, você não vai falar com a Rachel e eu fico quieto. Ok, eu nunca falaria com ninguém sobre isso, mas é para o caso de você avisá-la... Mas então, a lista está pronta, só as melhores, alguns caras que conhecemos e são confiáveis, sem Sophie... - Olhou para Georg que bufou. - E para tirar o Tom deste poço sem fim... Jordin. - Riu me olhando.

– Jordin para mim?

– Não recuse, aproveite. - Georg me apontou o dedo.

– Sim, agora eu preciso ir. - Gustav levantou-se saindo - Vejam se arrumam tudo direitinho, ok? Gosto de tudo organizado. - Gritou já do lado de fora.

– É hora de festa, vamos dar um jeito aqui e depois ligar ao David e falar que estamos terrivelmente doentes. - Ge respirou fundo parecendo mesmo doente. – E, por fim, acabar convidando ele para a festa. - Riu.

– É, só assim para sermos desculpados.

– Mãos à obra. - Disse ele atirando-me uma garrafa de wiskey nas mãos.

Mãos à obra, essa era a verdade. Agora eu já estava praticamente em minha antiga vida, álcool, cigarros e, mais tarde, mulheres, mas o engraçado era que eu não me lembrava do momento exato em que meu mundo antigo me fez falta. Depois do casamento, embora não fosse o meu, acabei me acomodando também, permitindo-me sair apenas algumas vezes, em poucas ocasiões em que não pude recusar... E, ainda que fosse estranho para todos, nunca mais ouve ninguém em meu quarto, talvez por respeito, talvez por medo, ou por achar que ninguém além dela merecia estar lá. Isso é loucura eu sei.

Quando já estava tudo praticamente pronto, ouvi um barulho vindo de um carro. Georg só poderia estar brincando, quando tudo já estava no lugar ele resolveu voltar para casa. No mínimo conseguira convencer Sophie a vir, caso contrario só apareceria na hora da própria festa.

Cheguei ao jardim e vi que o carro não era o dele e sim o de Bill. Ele fez o que eu pensava que faria, veio atrás de mim para tentar me obrigar a voltar para casa, bem típico dele...
Notei que não estava dentro do carro, no mínimo já estava por aí olhando a casa, curioso como é...

– Oi. – Ouvir sua voz me pareceu tão estranho e surreal que eu jurava estar preso a ela...

Virei-me e encontrei seu olhar triste sobre o meu. Kate estava ali, em minha frente, como todos os dias e como eu sempre quis que estivesse... Parada e completamente vulnerável a qualquer movimento que eu fizesse, como uma louça que se quebra ao mínimo toque, e com seus olhos, que embora secos, ainda mostrassem o vermelho das lágrimas da noite anterior, lágrimas que foram derramadas supostamente por mim.

– Se eu pudesse, eu te abraçava. – Eu disse, enquanto olhava para minha própria roupa rindo. Não estava abraçável, digamos assim, devido às arrumações que fizera durante o dia.

– Vem cá. – Ela me chamou calmamente abrindo os braços, esperando por um gesto meu. Fui timidamente abraçá-la e afastei-me logo a seguir, vendo surgir um sorriso engraçado da parte dela. - Eu esperei por você o dia todo.

– Georg está precisando de ajuda aqui e você sabe como ele é, não gosta de gastar, então eu estou o ajudando... - Ri enquanto ela olhava com curiosidade para minhas roupas. - Bom... Tentando ajudar. - Finalizei rindo também.

– Festa? - Indagou olhando para a casa.

– Ah não... Não. – Menti. - Ele quer reconquistar a Sophie, então vai fazer um jantar romântico para ela, essas coisas.

– Por que não foi me ver? –Virou-se caminhando pelo jardim e eu a acompanhei.
Que resposta dar, essa era a única pergunta que passeava em minha mente, dizer a verdade era completamente inadequado e fora de questão naquele momento.

– Eu...Bom. – Não conseguia balbuciar nada.

– Eu sou uma boba, eu sei. - Disse em tom choroso. - Você saiu ontem de casa e já estou reclamando, mas eu senti sua falta... - Riu dando de ombros e voltando a caminhar. - Nós sentimos a sua falta. - Finalizou olhando para o lago.

– Como ele está? - Perguntei tentando quebrar aquele clima estranho que tinha se imposto sobre nós.

– Você sabe como ele é, ri mesmo não querendo. Eu diria que ele está chorando, mas não quer deixar transparecer isso. - Falou tentando sorrir.

– Eu sei, pretendia falar com ele hoje, mas acho que não vou ao estúdio.

– Ele disse a mesma coisa. - Rimos – Mas, de qualquer forma, ele saiu com o Andy. Espero que volte um pouquinho melhor para casa.

Balancei a cabeça positivamente olhando para ela, me perdendo em seus traços perfeitos enquanto o silêncio tomava conta de nós outra vez.

– Quer entrar? – Perguntei e ela me olhou rindo, parecia animada com meu convite.

– Não... Eu já estou indo. – Olhou para o carro.

– É só um minuto... Vem? – Insisti pegando em sua mão - Quero mostrar a você a incrível casa de vidro do Georg.

– Tá bom. – Aceitou, olhando novamente para mim.

Deixei que entrasse em minha frente, queria vê-la perdendo-se nos detalhes da casa e assim foi, Kate parecia encantada com cada detalhe ali, da lareira à visão indescritível que tínhamos para o lago... Olhando para ele como se estivesse hipnotizada, ela disse...

– É linda.

– Sim. – Concordei mesmo que para mim a visão não fosse da casa e menos ainda do lago, ainda assim era linda.

– Difícil não se apaixonar... Eu o entendo. – Continuou.

– Muito difícil. - Respirei fundo novamente, concordando com ela, que se virou encontrando meus olhos presos nela, e não em uma visão qualquer.

– Tem alguma bebida nesta casa que não seja com álcool? – Bateu com seu pé em uma das caixas de wiskey que estavam espalhadas pela casa.

– Sim, café... Quer? – Falei indo até o armário pegar duas canecas.

– Sim, obrigada.

Sentou-se, colocando suas mãos sobre a bancada enquanto eu servia nossos cafés.

– Está ruim? – Perguntei sentando-me em sua frente, vendo-a fazer uma careta.

– Imagina. – Riu.
– Na verdade, eu sei que está ótimo. - Debochei.

– Hum, você é muito convencido, isso sim. – Riu socando meu braço.

– Só um pouquinho. – Continuei rindo parando para olhá-la.

Um clima engraçado para um momento triste, digamos que seria assim que eu descreveria se pudesse.

Nossas mãos sobre a bancada procuraram praticamente sozinhas uma pela outra, tocando-se como desconhecidos que de certa forma eram. Olhei em seus olhos encontrando os mesmo marejados, assim como acreditava que os meus estivessem também.

– Posso... Posso te contar um segredo? - Olhou-me - Ontem... Quer dizer, hoje de madrugada, eu fui até ao seu quarto... Eu não sei, talvez achasse que você pudesse estar lá e que tudo isso não tivesse passado de um pesadelo... – Suspirou voltando a olhar nossas mãos, apertando-as ainda mais.

– Posso te contar o meu? – Pedi suspirando igualmente ou até mais do que ela - Quando eu acordei hoje de manhã, eu... Lembrei de você... E de todas as manhãs que tomávamos café juntos... - Respirei fundo tentando não deixar minha voz embargada. – Acho que vou passar por isso todos os dias... - Ri enquanto a olhava tocar minhas mãos.

– O quê? – Perguntou timidamente, deixando uma lágrima escorrer por seu rosto.

– Ficar vendo você em todo canto... – Respirei fundo tentando não encará-la

– Imagina... – Disse levando sua mão até meu rosto, obrigando-me a olhá-la - Pior sou eu que não posso vir correndo te encontrar... - Respirou fechando seus olhos - Sabe... Toda vez que eu ficar com saudades. – Finalizou.

– Vem cá... Vem? – Puxei-a para mim, abraçando-a finalmente como ela merecia, como eu merecia, sentindo-a respirar pesadamente em meus braços, enquanto eu apenas tentava esconder que chorava... Apoiando meu rosto em seu casaco, tentando limpar as lágrimas que teimaram em cair, fui afastando meu rosto de vagar até encontrar o seu perigosamente perto, respirando profundamente, sentindo o seu cheiro tão próximo ao meu, enquanto umedecia seus lábios em um prelúdio para um beijo que jamais poderia acontecer, mas que ainda assim era desejável, e extremamente necessário.

Postado por: Grasiele

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