terça-feira, 20 de março de 2012

Insanity - Capítulo 4

Tom...
Meus olhos continuavam paralisados, presos em uma cena nunca vista, não desta forma, não em minha casa, e não com meu irmão e a mulher que eu tanto desejava, mas principalmente comigo os espiando por um espaço entre a porta...

Sentia-me totalmente idiota, um adolescente descobrindo seus pais em pleno ato durante a madrugada, e mesmo assim me sentindo culpado, não conseguindo me mover.

Olhos vidrados, coração acelerado, mãos suando, se eu pudesse me descrever algum dia seria exatamente assim que o faria... Como um completo estranho amedrontado por ser pego no local errado.

O espaço entreaberto era pequeno, mas era suficientemente bom para que pudesse ver tudo, ouvir... Praticamente sentir cada sussurro como se fosse meu, como se fosse para mim.

Os dois sentados à beira da cama, seu corpo encaixado ao dele, o suor em suas faces, meu irmão perdido em tamanha beleza e excitação, a forma como seu corpo se movia enquanto ele a tocava.

Em completo delírio, era assim que me encontrava, querendo ir, mas perdido em um cenário completamente excitante... Levei minhas mãos à cabeça, tentando cobrir meus olhos e retomar minha sanidade para assim poder sair dali calmamente sem ser visto.

Caminhei até a sala tentando esquecer, tentando pensar em um jeito de sair, um jeito que não me levasse à verdade, não que eu não quisesse contar, eu realmente queria mesmo sabendo que nada mudaria, a verdade não me traria Kate, a verdade traria tristeza para ambos os lados, e, pensando nisso, eu preferia ficar com esse sentimento apenas para mim.

Encontrei por acaso uma garrafa de absinto que Bill e eu havíamos ganhado em uma viagem a Londres, não conseguia lembrar dos motivos que levou ela a estar fechada até agora, mas para mim aquele era o momento perfeito para acabar com isso, não seria desperdício ou egoísmo, eu estava precisando daquilo mais do que ele.

Cheguei ao meu quarto e tranquei a porta, só assim estaria livre para chorar sem ter que dar satisfações e aguentar o estranhamento de Bill perante aos fatos, caso me visse com olhos inchados e completamente bêbado.

Abri a garrafa procurando por uma taça, sem muita sorte olhei novamente para a mesma e levei à boca, que se dane, eu não dividiria com ninguém mesmo, dividir... Essa palavra passeava demais em minha memória durante esses sete meses, embora não fosse minha vontade.

Senti o líquido descer por minha garganta queimando a mesma e lembrei-me do que o homem que havia me vendido havia descrito sobre ela, “Você pode ter alucinações se bebê-la inteira.”. Alucinações? Mais do que as que já tenho? Impossível.

Continuei bebendo até sentir sua última gota verde chegar à minha boca, e devo dizer aquela foi à última cor que eu vi em minha frente antes de sentir meu corpo desabando sobre o chão.

Acordei horas mais tarde com Bill gritando do lado de fora do meu quarto, olhei para o lado, procurado meu relógio, mas a única coisa que encontrei foi à garrafa vazia, que me fez lembrar o porquê de sentir minha cabeça estourando agora...
Levantei de vagar chegando até a porta... Bill entrou rápido, me olhando.

– O que foi? – perguntei sem olhá-lo.

– Você bebeu toda a garrafa? – Perguntou incrédulo.

– Ah, desculpa não ter deixado pra você. – Debochei.

– Você está bêbado. – Gritou ele, jogando a garrafa longe.

– Você acha? – Blasfemei.

– Estávamos preocupados com você... Kate veio chamá-lo para jantar, mas não respondeu... – Ele tornou a olhar para mim com seu semblante sério.

– Eu estava longe, se é que me entende. – Gargalhei e ele revirou os olhos.

– Vá tomar um banho, não quero que Kate veja você assim. – Respondeu rude.

– Não se preocupe, Kate não vai mais ver isso... Eu vou embora. – Virei-me a fim de não encará-lo, com medo de encontrar seus olhos.

– O que disse? – Perguntou falando alto.

– Eu vou embora! Dar um tempo... Entenda como quiser... - Murmurei tentando acabar com aquele olhar devastador sobre mim.

– Como assim dar um tempo, aqui é sua casa. – Sussurrou.

– Eu sei, mas eu preciso me divertir um pouco... - Disse enquanto levava a mão à cabeça, que parecia querer explodir... Olhei para Bill que parecia perdido ou à beira de um ataque – Ok, não comece a gritar... – Pedi tentando acalmá-lo - Georg comprou uma casa nova e quer dar umas festas, você sabe, ele quer esquecer a Sophie, e me chamou para ficar lá uns dias... – Finalizei.

– Uns dias? Quantos dias? – Ele perguntou meio inseguro.

– Eu não faço idéia... - Tentei ser o mais convincente que pude.

Mas infelizmente ele não estava muito disposto a acreditar no que eu falava naquele momento. E devo confessar que ver meu irmão baixar a cabeça e sair de meu quarto calado não era a cena que eu esperava, mas foi o que ocorreu. Tentei argumentar, mas ele não me deu ouvidos, e a mim bastou ouvir o som da porta de seu quarto batendo como se quisesse se isolar do mundo. Não podia culpá-lo, talvez esse também fosse meu desejo.

Levantei-me a fim de tomar um banho, pegar algumas coisas de que eu precisaria e ir embora, não queria ver Bill hoje, eu não aguentaria vê-lo, não aguentaria dizer não a ele outra vez... Amanhã, quando estivéssemos no estúdio, com certeza ele já estaria melhor e eu também.

Saí do banho um tempo depois, joguei as primeiras peças de roupas que achei em minha frente dentro de uma mochila, juntamente de outros itens críticos que precisaria em minha estadia na casa estranha de vidro de Georg. Finalmente dei uma última olhada em meu quarto, procurando por algo que pudesse estar sendo esquecido.
Com tudo pronto caminhei até a sala chamando por Scotty. Não podia deixá-lo, mas o mesmo, assim que me viu carregar uma mala até a porta, se recusou a descer do sofá e apenas me fitou com seus olhinhos úmidos, como se soubesse de tudo que se passava em minha vida, como se estivesse sobe o efeito da atmosfera frágil que se instalou naquele apartamento.

Fui até ao sofá buscá-lo. Assim que cheguei perto ele respirou fundo, jogando todo seu peso no sofá. Ele sempre fizera isso quando se mostrava teimoso por algum motivo, mas sempre com Bill e apenas agora comigo.

– Você não quer ir, não é mesmo? – Falei o alisando.

Scotty levantou-se e rapidamente mudou de sofá, deitando de costas para mim, que o olhava estático.

– Tudo bem, eu não o culpo. Também não me sinto feliz por estar indo... Mas eu volto pra buscar você. – Falei virando para a porta.

– Tom? - Ela chamou.

Virei para olhá-la. Até aquele momento eu tinha feito de tudo para evitar vê-la antes de sair, não queria uma despedida, na verdade, eu queria me certificar que a minha busca por esquecê-la começasse ali mesmo, com minha saída daquele apartamento, mas olhar para ela ali, tão indefesa, encostada na parede, esperando que eu pelo menos fosse dar tchau a ela, me transformou no cara mais egoísta do mundo. Eu não podia culpá-la por querer apenas isso quando, em minha cabeça, algo tão sujo se passava. Kate não tinha culpa sobre meus pensamentos fracos apenas por senti-la perto de mim, mas eu sabia o quão perigoso era esse contato, e eu não estava a fim de pôr mais isso em risco.

Postado por: Grasiele

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