sábado, 4 de fevereiro de 2012

Sparks Fly - Capítulo 1 - The journey, a pension and a redhead.

Eu abrirei minhas asas
E aprenderei a voar
Eu farei o que for necessário
Até tocar o céu
E farei um pedido, arriscarei, mudarei
e escaparei

(Contado pela Savannah)

Tem uma coisa que quero te falar. Depois que entrei naquele avião... Quer saber qual foi a primeira coisa que me veio à mente? Flores. E der repente estávamos na “Little House”. Estamos ouvindo uma moça simpática nos explicar como elas são plantadas. Como são regadas, como são colocadas nos vasos certos, como são belas e recebem cuidados especiais. E como cada uma era examinada pessoalmente, só para o caso de ter a mínima imperfeição. Foi isso que me veio à mente.

Você disse que aquelas flores do seu jardim só conseguiram sobreviver, porque as minhas mãos foram milagrosas. Disse até que me pareço com uma delas, a mais bela de todas. Que fui plantada e colhida, regada e colocada num vaso certo. Mas agora... Agora tenho um buraco enorme no meio da minha vida. Não estou mais em perfeito estado, e nem me pareço mais com aquela flor.

E tem mais uma coisa que eu quero lhe dizer. Antes de fazer aquela tentativa de esquecer tudo... Quer saber a última coisa em que pensei? Em você.

14 DE SETEMBRO DE 2010

Se você tem dinheiro, pode ir a qualquer lugar. Mas não com o emprego de garçonete numa lanchonete praticamente desconhecida. Não com um pai doente, e não nesta crise. Sou apenas mais uma garota com sonhos que eram aparentemente impossíveis de serem realizados. Alguns dizem que tenho a imaginação fértil o bastante pra acreditar que tudo pode acontecer, e que uma hora ou outra eu acabaria me arrependendo do que fiz.

– Sentirei tanto a sua falta, querida. – meu pai me abraçou.
– Também sentirei saudades. – nos desvencilhamos. – Mas se não quiser, não viajarei.
– Não! – segurou minhas mãos. – Este é o seu sonho, e você trabalhou muito pra conseguir fazer esta viajem. Não me sentiria bem, se desistisse por minha causa. – meus olhos lacrimejaram.
– Olha, eu prometo que procurarei um bom médico pro senhor. – lhe abracei novamente.
– Preocupe-se apenas em se divertir. – sorri. – E mande noticias.
– Ok.

Não é sempre que uma garçonete consegue juntar uma pequena parte de seu mísero salário, pra fazer uma “super” viajem. Com muito esforço, consegui realizar esta proeza, já que a maioria do meu dinheiro era gasta em remédios caros pro meu pai. Mas o que consegui juntar, só era suficiente pra eu passar duas semanas em Los Angeles. Óbvio que eu queria ficar mais tempo, talvez pra conseguir um emprego melhor e dá uma vida digna a meu pai, que batalhou o necessário pra me fazer feliz. Se eu quisesse ficar além de duas semanas, seria clandestinamente, e essa não é a melhor maneira.

Me despedir com um abraço apertado, parecia não ser o suficiente, e eu sabia que sentiria sua falta, mas tinha certeza que essa saudade poderia valer muito à pena. Vi pela segunda vez, meu pai derramar algumas lágrimas, e isso quase me fez desistir de tudo. Não desista agora, Savannah. Esta viaje pode mudar a vida de vocês dois. Entrei no avião, procurei meu acento, e me acomodei.

ALGUMAS HORAS DEPOIS...
Finalmente o avião pousou. Estava ansiosa e até um pouco nervosa, por não ter idéia do que me aguardava. Peguei todas as minhas malas, as coloquei num carrinho, e sai do aeroporto. Um senhor que aparentava ter cinqüenta anos, era o taxista, e colocou toda a minha bagagem no porta-malas. Ele foi simpático comigo, e dirigiu por algumas ruas da cidade, só pra eu poder conhecer um pouco mais do local.

De longe avistei o gigantesco e tão famoso letreiro de Hollywood. Desde criança ouvi falar dele, mas nunca imaginei que iria vê-lo pessoalmente. Fiquei completamente encantada pela cidade. E este será um novo começo num novo mundo. Prometi a mim mesma, que enfrentaria qualquer coisa, só pra não ter que voltar pra casa, olhar nos olhos do meu pai e dizer que nem tentei.

– Pronto. – disse o taxista. – Já chegamos ao... – ele olhou pela janela. – Ao hotel que a senhorita ficará.

Tive que escolher um hotel que fosse baratinho, pra não correr o risco de gastar muito dinheiro. Antes de fazer a viajem, pesquisei em alguns lugares, e vi num catálogo o hotel que parecia ser econômico e confortável. O taxista saiu do carro, em seguida fiz o mesmo. Ele colocou todas as minhas malas ali na calçada, abri minha bolsa e o paguei.

– Tem certeza que este é mesmo o hotel do endereço? – perguntei.
– Absoluta. – ele entrou no táxi. – Boa sorte.

E eu realmente precisaria de muita sorte mesmo. Fiquei parada por alguns instantes, e notei algo; aquele “hotel” não era nem de longe, parecido com a foto do catálogo. A foto mostrava uma fachada na cor salmão e branco, varandas com alguns jarrinhos de flores... Eu estava vendo algo semelhante a uma pensão, com paredes nas cores vermelha e verde, que descascavam.

Imaginei que o motorista havia me passado a perna, e me levado ao endereço errado de propósito. Mas mesmo pensando isso, resolvi entrar no lugar, pra pedir informação. Uma senhora gorda, um pouco mal humorada, que quase não conseguia andar, veio me receber.

– Seja bem-vinda ao hotel Nacanishi. – diz ela, abrindo um sorriso nos lábios.
– Este é o hotel Nacanishi? – perguntei, incrédula.
– Sim. – respondeu. – Seja bem-vinda. – repetiu.
– O-Obrigada. – um sorriso forçado surgiu em meu rosto.

Pude sentir as piores sensações. Propaganda enganosa dá cadeia, sabia? Esta senhora deveria ter vergonha na cara, ao invés de ficar fazendo esse tipo de coisa só pra conquistar clientes e dinheiro. Ela me levou até o quarto onde supostamente eu ficaria. Tive que subir uma escada que rangia, às vezes balançava, e eu estava com aquela terrível impressão que iria despencar a qualquer momento. Quando ela abriu a porta do quarto, quase tive um infarto.

– Este é o quarto? – perguntei.
– Tá achando ruim?

Além de mentirosa, é ignorante? Mas onde é que estava o quarto espaçoso com cama de casal confortável e travesseiros com plumas de ganso? E a bela vista para o letreiro de Hollywood? Cadê a banheira de água quentinha?

– Espero que fique confortável. – diz ela.

Ah, claro! Ficarei bem confortável ao lado daquelas baratas nojentas e das aranhas com pernas enormes. Se duvidar, elas me colocam no chão para poderem dormir na cama.

– O jantar será servido às 17h30. Não se atrase.
– Ok, obrigada.


Neste horário eu ainda estaria fazendo o lanche da tarde! E que horas esse pessoal vai dormir? Às 18h15? Ela se retira e fecha a porta. Ouvi claramente aquele barulhinho de terra caindo do teto.

Sabe quando você não quer acreditar que aquilo seja mesmo verdade? Era exatamente isso que eu estava sentindo. Como eu havia ficado imóvel, tentando acreditar no que estava acontecendo, senti algo tocar meus pés. Fiquei arrepiada, e já temia o que poderia ser. Olhei pra baixo, e adivinha quem era? Uma das minhas colegas de quarto vindo pra me dar às boas vindas; a barata. Eu gritei. Sim, gritei muito. Pulei em cima da cama, e só depois fui me dar conta que aquele pulo poderia ter quebrado a mesma.

ALGUNS MINUTOS DEPOIS...

Eu acabara de sair de um banho frio, enrolada em minha toalha lilás. Abri uma das minhas malas, e separei algumas peças de roupa. Passei desodorante, creme hidratante pro corpo e rosto, me vesti, fiz uma maquiagem discreta, coloquei o perfume, e desci pro jantar. Não estava com fome, e mesmo sabendo que ainda era dia, estava desejando que ele terminasse o mais rápido possivel, pra eu poder procurar outro lugar pra ficar.

Além da senhora gorda, apenas eu estava ali na cozinha. Sentei-me a mesa, em seguida apareceu uma garota ruiva, bonita e um tanto elegante para estar naquele lugar. Ela se sentou numa das cadeiras, ficando de frente pra mim.

– É a nova hóspede do Nacanishi? – pergunta ela.
– Um-hum. – respondi.
– Sou Nicolle.
– Savannah.
– Que nome estranho. – ela pega uma maçã, na fruteira que estava em cima da mesa.
– Eu sei. Mas poderia ter sido pior. – ela riu.
– O que uma garota bonita como você, faz nesse lugar? – ela se levanta e vai até a pia para lavar a maçã.
– Consegui juntar algum dinheiro, e vim passar alguns dias. – fiz uma pequena pausa. – Na verdade... Eu queria mesmo era encontrar um bom médico pra fazer uma cirurgia no meu pai.
– O que ele tem? – ela secou a fruta num paninho branco, e se sentou novamente.
– Tumor no cérebro.
– Que horror! – ela deu a primeira mordida. – E quanto tempo ficará aqui?
– Duas semanas.
– Não acha que é pouco tempo para procurar um bom médico?
– Acho. Mas este é o único tempo que tenho. – coloquei uma mecha do meu cabelo, atrás da orelha. – Não consegui um visto pra ficar mais.
– Se você se casasse com alguém daqui, conseguiria o visto de permanência, e ninguém poderia te impedir de ir e voltar.
– Me casar? – achei estranho.
– Exatamente. – ela colocou a fruta em cima da mesa. – Estou casada há um ano – mostrou sua aliança. -, já fui pro meu país de origem e voltei, sem problema algum.
– C-Como conseguiu?
– Primeiro você precisa conseguir um noivo. Depois vai até o cartório, e assina os papéis necessários.
– Falar é fácil demais. – eu ri. – Não conheço ninguém aqui. Como conseguiria me casar antes que as duas semanas acabem? – ela deu um meio sorriso.
– Se quiser, posso te ajudar. – cruzou os braços. – Conheço alguns rapazes.
– Mas... Eu precisaria...
– Dormir com ele? – ela me interrompe. – Não, se não quiser. Vai querer a minha ajuda, ou não?

Aquela pergunta era com certeza muito tentadora. Mas esta idéia de me casar só pra conseguir um visto de permanência, é maluca demais pra mim. Sei que tenho que ajudar meu pai, mas casar? Não seria exagero?

Postado por: Grasiele

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