sexta-feira, 20 de janeiro de 2012

Resumption - Capítulo 63

 P. O. V. Tom Kaulitz

Minha cabeça estava cheia de lembranças, meu peito ardia como uma ferida aberta e eu não conseguia me desfazer do sentimento de culpa.

Ela se foi e não vai mais voltar... Nunca mais! A culpa é toda minha.

Depois da briga eu saí dirigindo pelas ruas de Berlim, não sabia onde procurar e apenas queria encontrar a minha garota e me desculpar por tudo o que eu havia dito. Eu nunca havia chorado tanto como naquela noite, a raiva e o medo de perder a garota que eu amo tomavam meu corpo e não me permitiam pensar.

Pelo amor de Deus, onde você foi, Duda?

Eu estava cansado e mal sabia o que fazer, meu corpo estava em um estado automático. Tenho consciência de que dirigi por horas, mas não sabia para onde, era como se houvesse uma força maior me guiando e, quando percebi, estava parado em frente a uma porteira de madeira.
Olhei atentamente a paisagem ao redor tentando reconhecer o local mesmo com a chuva forte que caía do lado de fora e a lembrança surgiu rapidamente.

–Eu já estive nesse lugar antes. –sussurrei.

Minha respiração ficou descompassada e as cenas do dia em que estivera naquele mesmo lugar com Duda começaram a passar em minha mente. Georg havia nos levado àquela simpática chácara, Anne e David também estavam conosco... Passamos o dia inteiro ao ar livre e foi a primeira vez em que fiz amor no mato.
Ri lembrando do quão inconsequentes Duda e eu fomos, corremos o risco de Georg nos descobrir. Listing é meu melhor amigo depois do meu irmão, mas eu não contei nada sobre minha relação “secreta” para ele, temi ser julgado e, pior, ser entregue.
Estava amanhecendo, no relógio marcavam exatas seis horas. Eu não tinha ideia do horário que o Senhor e a Senhora Westemberg costumavam levantar, então decidi esperar alguma movimentação na casa, o que não demorou a acontecer... As luzes internas foram acesas, a porta da casa foi aberta e um senhor alto saiu por ela.
Girei a chave na ignição e pisquei os faróis, o senhor entrou na casa e em seguida saiu segurando um guarda-chuva, abriu-o e caminhou em direção ao portão. Pouco tempo depois já havia estacionado o carro em frente a casa e o senhor parou ao lado da porta esperando que eu descesse.

–Como vai garoto Kaulitz? –a voz grossa do homem soou.

–Bem, na medida do possível e o senhor? –perguntei seguindo-o até a entrada da casa.

–Ótimo! –pausou. -Querida, prepare um café bem quente, temos visita.

–Visita, Robert? –a voz doce da senhora Westemberg soava baixa, parecia estar em outro cômodo.

–Siga-me, rapaz. –Sr. Robert pediu.

Enquanto caminhávamos pela casa, observei tudo atentamente e me senti confortável, o lugar era muito acolhedor e me fazia lembrar da casa dos meus avós que, infelizmente, haviam falecido quando eu ainda era pequeno.

–Olá querido! –a voz me fez retornar ao presente e sorri educadamente.

–É um prazer revê-la, senhora Westemberg.

–É bom ver você também, embora não pareça bem. –analisou-me por alguns instantes. –Parece preocupado com alguma coisa.

–Há algo que podemos fazer por você, garoto? –o senhor perguntou.

Fiquei em silêncio perguntando-me mentalmente se seria um abuso pedir para que me acolhessem pelo menos um dia, eu queria e precisava pensar em uma maneira de me redimir pelas besteiras que eu havia feito e dito.

–Nós ficaríamos muito felizes em tê-lo conosco por alguns dias. –a senhora disse. –Tenho certeza que alguns dias longe dos problemas lhe fariam bem.

–Eu não quero ser invasivo. –disse timidamente.

–Está brincando, rapaz? Somos apenas eu e minha esposa aqui, adoramos visitas e ficaremos muito gratos por sua presença... -pausou. –Às vezes nem nos aguentamos. –cochichou e riu.

–Se é assim... Eu aceito, mas só se puder ajudá-los com as tarefas e as despesas. –respondi.

–Não será preciso... –Sr. Robert contestou.

–Eu insisto. –persisti.

Acabamos concordando que eu ajudaria com as tarefas e não pagaria nada à eles pela minha estadia, eu insisti para que aceitassem minhas condições, mas acabei aceitando o que me foi imposto. Apesar de eu não conhecer o senhor Robert e a senhora Lílian tão bem, sentia-me como se estivesse entre amigos, eles eram pessoas de bom coração, alegres, atenciosos, prestativos, trabalhadores, carinhosos e amavam-se demais. Havia cumplicidade e respeito entre eles, o que me fez sentir mais culpado pelo o que havia feito com Duda, conosco. O casal Westemberg me acolheu por três dias, os quais eu analisei tudo o que havia acontecido... As mudanças na minha vida, os meus sentimentos, minhas ações e as palavras proferidas por mim. Eu me senti um pouco melhor após passar aqueles dias em uma atmosfera cheia de amor e alegria, ver o senhor Robert cortejando a sua esposa todos os dias me fez entender que um relacionamento duradouro precisa ser reparado todos os dias, eu percebi que todos os gestos, mesmo os mais simples, faziam a diferença e que os sorrisos mais sinceros eram como um presente divino.
No terceiro dia de estadia eu já estava pronto para ir embora e correr atrás da minha felicidade, não importando quanto tempo levaria para alcança-la e nem a distância a ser percorrida. Havia confiança em mim e a culpa parecia submissa à minha determinação em ter Duda de volta, em meus braços.
–Bom dia, querido. –Sra. Lílian desejou, um sorriso brincava em seus lábios.

–Bom dia, Lílian. –disse lembrando-me de não trata-la como senhora, já que a mesma havia dito que não era preciso “fazer cerimônia”.

–Fico feliz que tenha acordado bem... –serviu-me café. –Ficará para o almoço?

Eu havia desistido de entender como Lílian sabia o que eu pensava e o que sentia, talvez seja algo que apenas as mulheres tenham o poder de fazer... Minha mãe também é assim.

–Infelizmente não. –respondi e bebi um pouco do líquido quente. –Quero voltar para a cidade o quanto antes.

Após terminar o café despedi-me do casal e segui o mais rápido que pude em direção à cidade. Eram 11hs quando cheguei à Berlim, eu sabia que o horário de almoço de Duda era das 12hs às 13hs30, mas eu estava ansioso e decidi procurá-la na agência mesmo assim.
Estacionei o carro em frente ao grande prédio e desci, instantes depois dirigi-me à recepcionista.

–Bom dia, em que posso ajuda-lo? –perguntou entediada.

–Preciso falar com Maria Eduarda Müller. –batuquei no balcão.

–Ela não está. –respondeu rapidamente.

–Não? –perguntei confuso. –Mas o horário do almoço dela não é às 12hs?

–Não posso lhe dar essa informação, desculpe.

–E Anne Scherer? –revirei os olhos devido a má vontade da mulher.

–Ela também não está.

–Mas que merda! –dei um soco no balcão.

–Desculpe, mas se o senhor não se acalmar terei que chamar os seguranças. –disse.

Não disse uma palavra sequer e voltei para o carro, girei a chave na ignição e segui para a casa de Duda na esperança de encontra-la. Quando estacionei em frente à casa, avistei vários carros, o que me fez entender que Anne, Georg, Gustav, David e Bill estavam lá.

–Será que aconteceu alguma coisa? –sussurrei e desci rapidamente do carro.

Subi as escadas que dão acesso à porta e toquei a campainha, ninguém atendeu... Toquei a segunda vez e, em seguida, ouvi barulho de chaves chacoalhando. A porta abriu e, antes que pudesse ver qualquer coisa, recebi um tapa no rosto.

–Ai, porra! –gritei massageando o lugar atingido.

–Seu imbecil, irresponsável, covarde, filho da mãe, eu vou matar você! –era Camila gritando histericamente e apontando o dedo na minha cara.

–O que foi, meu bem? –Gustav apareceu em seguida, parecendo preocupado. –Tom? –arregalou os olhos.

Olhei atentamente para o meu amigo e percebi grandes olheiras se formando abaixo de seus olhos, parecia cansado.

–Tom?! –ouvi um grito vindo da sala e logo meu irmão apareceu ofegante, talvez por ter corrido até a porta. –Pelo amor de Deus, por onde você esteve? -Gustav afastou Camila e Bill me envolveu em um abraço apertado. –Eu fiquei preocupado, todos nós estávamos procurando por você! –fungou.

Eu estava assustado com aquela recepção incomum... Todos pareciam abalados. Bill também aparentava estar cansado, não usava maquiagem e suas olheiras eram muito profundas.

–Estou bem, mano. –respondi dando tapas leves em suas costas.

Bill soltou-me e caminhei para dentro da casa enquanto ele fechava a porta. Meu coração disparou ao ouvir vozes vindas do andar superior, passos aproximavam-se rapidamente da escada e corri subindo os degraus.

–Duda? –perguntei sorrindo.

–O que você está fazendo aqui? –Anne perguntou do topo da escada.

–Eu...

–Bem, não importa... A Duda foi embora.

Ouvir aquilo foi mil vezes pior do que levar uma surra, o ar sumiu de meus pulmões e meu coração apertou.

–O que? –perguntei desnorteado.

–Quer que eu repita pra ter certeza de que o seu trabalho foi bem feito? –sua voz saiu cheia de rancor. –Parabéns, conseguiu fazer com que a Duda pegasse as coisas dela e sumisse do mapa! –disse entre dentes. –Por sua causa ela foi embora sem dizer pra onde ia e sequer levou o celular. –eu permaneci imóvel sem acreditar no que ela dizia. –Some da minha frente antes que eu faça uma besteira, seu imbecil. –ordenou enxugando as lágrimas que escorriam por seu rosto.

David apareceu atrás de Anne, abraçou-a e fez sinal para que eu descesse as escadas. Minhas pernas simplesmente obedeceram levando-me para o andar inferior, meu corpo estava desperto, mas minha mente mergulhava em um abismo sem fim... Eu estava me sentindo perdido e a culpa voltava com força total.

Ela foi embora e não vai mais voltar.
A culpa é toda minha.
Idiota!
–Tom? –a voz de Bill soou quase como um sussurro. –Hey, mano! –sacudiu-me.

–Hein?

–Vai ficar parado aí se lamentando com essa cara de idiota ou vai correr atrás dela? –perguntou me encarando, não havia mais sinal algum de lágrimas em seus olhos.

–Do que diabos você está falando, cara? –perguntei confuso.

–Mas você é lerdo mesmo, hein! –bufou. –Vou resumir pra você, acho que só assim vai entender. –arrumou o cabelo rapidamente. –Eu sei que você e a Duda mantinham um caso.

–Você o que? –perguntei arregalando os olhos.

–Isso mesmo que você ouviu, agora cala a boca e me escuta. –mandou. –Você vai mexer esse seu corpo sedentário sem tropeçar nessas suas calças de obeso e vai atrás da Duda! –suspirou. –Georg, David, eu e alguns seguranças vamos te ajudar nessa.

–Mas como vamos encontrá-la? Ela já deve ter embarcado em algum avião! –disse entrando em desespero.

–Acho pouco provável... Não faz nem duas horas que ela saiu daqui. –olhou as unhas despreocupadamente. –Duvido muito que qualquer voo não esteja lotado nas próximas horas, hoje é sexta-feira!

–Digamos que você esteja certo... –inspirei profundamente. –TEMOS QUE PROCURÁ-LA EM TRÊS AEROPORTOS ENORMES, VOCÊ ENTENDE ISSO? –disse em alto e bom som.

Sim, eu estava desesperado! Duda poderia estar em um dos três aeroportos e eu duvidava muito que conseguiria encontrá-la a tempo de impedir sua partida.

–Você é que não entendeu! Nós vamos procurá-la em dois aeroportos, um deles é usado apenas para voos fretados. –sorriu como se tivesse descoberto um tesouro. –E vamos nos separar em grupos, assim a chance de encontrá-la será maior.

Não pensei duas vezes antes de sair pela porta com todo mundo me seguindo, exceto Gustav e Anne que ficaram na casa cuidando de Camila. Eu duvidava muito que Anne fosse me ajudar depois de ver a raiva em seus olhos e não julguei-a por isso, afinal ela tinha toda razão, eu era um imbecil.
Separamo-nos em dois grupos como Bill havia dito... Eu, Bill e mais alguns seguranças fomos para o aeroporto Tegal, o mais movimentado; Georg, David e os outros seguranças seguiram para o Tempelhof.
Não demoramos muito para chegar ao aeroporto, Bill tinha consigo algumas fotos de Duda e entregou aos seguranças, enquanto tentamos ao máximo disfarçar a nossa aparência.

–Hora da caça ao tesouro, Tom! –Bill riu saindo do carro. –Boa sorte!

Entramos no grande salão do aeroporto fingindo não nos conhecermos, estávamos arriscando sermos reconhecidos, mas eu não me importei. Me misturei aos passageiros e segui na direção contrária à do meu irmão, enquanto os seguranças separavam-se também.
Não tenho ideia de quanto tempo eu procurei, várias vezes avistei silhuetas parecidas com a dela, mas sabia que não era a mesma pessoa, eu saberia reconhecê-la até mesmo no escuro.
Após muito procurar segui para fora do salão, havia perdido a esperança e sentia o cansaço tomar conta de mim. Minutos depois Bill e os seguranças juntaram-se a mim e, quando estávamos caminhando em direção ao estacionamento, eu a vi. Meu coração disparou e minha respiração ficou irregular, meu corpo permaneceu imóvel e eu queria gritar, mas não saía nenhuma palavra sequer... E lá estava ela, entrando em um táxi, partindo.

–Hey, Tom, o que foi? –Bill perguntou, mas não saiu nenhuma palavra de minha boca, então resolvi apontar. –Gott, é ela! -arregalou os olhos. –Duda, hey. –gritou.

Era tarde demais, o táxi estava deixando o aeroporto e ela não escutaria... E mais uma vez ela se foi, bem diante dos meus olhos.

Postado por: Grasiele

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