(Contado pela Kate)
- Não, eu não disse isso. – tentei me livrar.
- Disse sim. – Brian insistiu. – E isso não faz nem cinco minutos.
O quê que eu faço agora? A senhora C estava me fuzilando com os olhos, pedindo uma justificativa para aquilo. Que vontade de sair correndo só pra não responder nada.
- Pode me explicar essa história? – pergunta a senhora C, com os braços cruzados.
- Claro. – respondi. – Bem, o Brian havia me perguntado o significado de “gay”, e lhe respondi que era uma pessoa inteligente, e mais alegre que o normal. E quando ele fez esse desenho, lhe disse que era inteligente.
- E quando foi isso? – ela descruzou os braços.
- Não me lembro muito bem. Mas não faz muito tempo.
- Se ele perguntou o significado, é porque ouviu em algum lugar.
- Ah, isso eu não faço idéia. – mentira.
Só estava torcendo para que ele não abrisse a boca de novo, e contasse que eu chamei o príncipe da história de gay.
- Me desculpa. – disse. – Tomarei mais cuidado ao falar sobre certas coisas na frente dele.
- Acho bom mesmo. – disse ela, pegando as sacolas e indo pro quarto.
Me sentei no sofá, e soltei um suspiro de alivio. Brian se deitou novamente no chão, e continuou a desenhar. Meu celular começa a tocar; era Laura.
- Liguei pra saber se ainda está viva. – disse ela.
- Graças a Deus, e ao meu esforço, continuo viva. – respondi.
- E como vão as coisas ai?
- Acho que piores a cada dia.
- Sério?
- Acredita que o garoto ligou pros bombeiros, que vieram bater aqui no apartamento achando que tinha um incêndio?
- Oh meu Deus! – disse ela, incrédula. – Eu preciso conhecer esse garoto.
- Acredite em mim, você irá se arrepender se conhecê-lo.
- E o que aconteceu depois?
- Levei algumas broncas dos bombeiros, e conversei com o Brian sobre o assunto. Mas minha vontade era de bater nele. – ela riu.
- Estou com saudades de você.
- Também morro de saudades de ti. – estava quase chorando.
- Precisamos marcar para sairmos juntas.
- Concordo. Mas agora que estou cuidando dele, as coisas ficam um pouco mais difíceis.
- Tem razão. Alguma novidade?
- Ah, tenho sim. – me animei. – Conheci um garoto.
- E ai? Ele é gatinho?
- Gatinho é só apelido! – rimos. – O cara é muito lindo. Além de ser simpático também.
- Já está de olho nele, não é?
- Só um pouquinho. – rimos de novo.
- Sei. Olhe lá o que irá fazer, hein? Você não pode perder esse emprego.
- Pode deixar. Não irei perder esse emprego por nada!
- Amiga, eu tenho que desligar agora. Quando tiver folga, me liga, para sairmos.
- Ok, ligo sim.
- Te amo, e se cuida.
- Também amo você.
Desligue. O Brian olhou pra mim e sorriu. A porta do apartamento é aberta novamente, e desta vez era a Brenda. Ela me cumprimentou, e foi diretamente para a cozinha.
–--
(Contado pelo Bill)
Estava sentado no sofá, assistindo televisão, comendo sanduíche com refrigerante, quando o Tom chega em casa cantarolando.
- Que felicidade é essa? – pergunto.
- Adivinha com quem eu tava? – diz ele, colocando a chave na mesinha de centro, e se esparramando no sofá.
- Já disse uma vez, e irei repetir; não sou vidente, não tenho bola de cristal, e também não sou nenhum tipo de bruxo ou macumbeiro.
- Engraçadinho. – eu ri. – Eu estava com a Brenda.
- A empregada dos O’Connell? – fiquei surpreso.
- Exatamente.
- O que fazia com ela?
- Notei que nossa casa está muito suja, e pedi que viesse limpar. – disse ele.
- Fez isso mesmo?
- Como você é lento, hein? Óbvio que não fiz isso! Estávamos...
- Ah, não precisa responder. – coloquei o prato em cima da mesinha de centro. – Prefiro continuar acreditando que pediu a ela para vir limpar a casa.
- Por mim, tudo bem. – ele se levantou. – Vou tomar um banho.
- Esperai! – lhe chamei. – Senta ai, que tenho que te contar uma coisa. – ele se sentou.
- O que foi?
- Ontem, no parque no prédio, conheci a babá do Brian.
- E ela é bonita, gostosa?
- Sim. – respondi, e ele sorriu maliciosamente. – E também é muito simpática. Mas é igualzinha as outras.
- Como assim?
- Não tem muita paciência com o Brian. Aposto que não durará mais uma semana.
- Acha mesmo?
- Pelo que percebi, sim.
Após o Tom dizer que faria o possivel para conhecer e se aproximar da nova babá, ele se retirou e foi tomar seu banho. Como eu não tinha mais nada pra fazer, resolvi dar uma volta. Peguei minha chave, e sai de casa. Encontrei no corredor, a babá e o Brian. A cumprimentei, mas nem deu tempo de conversarmos alguma coisa, pois o pequeno começou a correr, e ela teve de ir atrás.
Alguns tempo depois, cheguei ao parque nacional. Era um belo lugar para se distrair, e muitas pessoas gostavam de ir até lá para passear com seus animais, filhos, e até mesmo para tirar uma soneca na grama verdinha. Me sentei num dos bancos, em frente ao lago, e comecei a ler uma revista que eu havia comprado a poucos minutos atrás.
- Bill! – ouvi alguém me chamar. Desviei meus olhos da revista, e olhei para os lados.
Como não sabia quem era, voltei minha atenção a leitura. Pouco depois o Brian se aproxima, um pouco ofegante.
- O que faz aqui, sozinho? – pergunto, preocupado.
- Não estou sozinho. – responde ele, ainda ofegante. – A Kate veio comigo.
- E onde ela está? – olhei em volta para ver se conseguia enxergá-la.
- Deve ter se perdido por ai. – ele se senta ao meu lado.
- Como assim?
- É que estávamos brincado de esconde-esconde, e ela deve estar me procurando.
- Que irresponsável!
- Eu sei. – disse ele.
- Quer que eu te leve pra casa?
- Quero.
Nos levantamos e começamos a caminhar. Logo mais na frente, encontramos a Kate.
- Aonde pensa que vai com o Brian? – pergunta ela.
- Vou levá-lo para casa.
- Eu não sei se você percebeu, mas eu sou a babá dele.
- Uma babá muito irresponsável, por deixar um garoto de apenas seis anos vagando por ai.
- O-O quê? – ela gaguejou um pouco. – Não deixei ninguém vagando por lugar nenhum. Ele é que fugiu de mim.
- E deve ter um motivo pra isso.
- Escuta aqui, não se intrometa em assuntos que não lhe diz respeito, ok?
- Os O’Connell ficarão sabendo disso. Eles não podem deixar uma garota como você, cuidando dele.
- Uma garota como eu? – ela cruzou os braços.
- Exatamente! Você não sabe cuidar de crianças.
- E você deve ser o melhor especialista nessa área, não é? – ela segurou na mão do Brian, fazendo com que o mesmo soltasse a minha mão.
- Não tenho experiência, mas devo cuidar bem melhor do que você.
- Já que se diz ser melhor, porque não pede o meu lugar aos O’Connell e cuida do Brian?
Discutimos por pouco tempo. O Brian permaneceu calado durante toda discussão. A babá falou mais algumas coisas, e foi embora. Fiquei parado ali por pouco tempo, e depois segui meu caminho de volta para casa.
Postado por: Grasiele
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