(Contado pelo Bill)
Porque estão fazendo isso comigo? Porque me torturam tanto? Será que o meu sofrimento já não é suficiente? Tá legal, eu confesso que venho aprontando algumas coisas, mas precisava disso tudo? Minha dupla tinha que ser logo ela? Eu aceito ficar com o Ed – o braço torto -, qualquer um, menos a Duda!
Quando o sinal tocou, ela saiu da sala, e tive ir atrás pra saber como ficariam as coisas.
- Você me odeia, eu te odeio. E tudo continuará da mesma maneira. – disse ela, me dando as costas.
- Mas, e o trabalho? – perguntei, segurando seu braço.
- Se não quiser perder o braço, então é melhor me soltar.
Me enganei quando pensei que ela poderia ter mudado. Acho que voltou ainda pior. Se isso for possivel.
- Escuta, se pensa que gostei de ser escolhido pra ficar ao seu lado nesse trabalho, está muito enganada. – disse.
- Que bom. Porque também não gostei.
- Mas não posso perder os meus pontos por sua culpa!
- Minha culpa?! Você é maluco ou o quê?
- Só quero ganhar a minha nota!
- Eu também!
- Então faremos uma trégua?
- Você e eu? – ela riu. – E desde quando acha que isso é possivel.
- É, você tem razão. Mas então, o que faremos?
- Ta legal. Só fala comigo se o assunto for o trabalho. A não ser, nem ouse dirigir qualquer tipo de palavra a mim. Ok?
- Ok. E você faça o mesmo.
Ficamos parados um em frente ao outro, sem saber o que fazer. Mas como a Duda tem aquele seu jeitinho educado...
- Saia da minha frente. – disse ela.
- Você que está em meu caminho. – disse.
- Está falando comigo por quê? Que eu saiba isso não é sobre o trabalho.
Se eu continuasse ali, com certeza iríamos brigar. Me afastei um pouco, lhe dando passagem. Duda deu um meio sorriso, passou por mim pegando levemente em meu queixo, e me jogando um beijo. Aquilo me irritou até o último fio de cabelo. Como ela consegue me tirar do sério?
Voltei a sala, e Tom conversava com alguns colegas. Me sentei calado em minha cadeira, e ele logo veio falar comigo.
- A Duda é muito gostosa. – disse ele.
- Nem ouse se interessar por ela! – disse.
- Que egoísmo é esse, Bill?
- Só não quero que se envolva com alguém como ela!
- Aposto que está dizendo isso só pra eu não pegá-la.
- Vai por mim, a Duda não presta!
Na saída, fui diretamente pro estacionamento. Queria sair daquele lugar o quanto antes. Coloquei a mão no bolso pra pegar a chave do carro, mas não a encontrei. Abri a mochila e fiquei procurando dentro, enquanto caminhava.
- Está procurando isso aqui? – pergunta Duda, que estava rodando a chave do meu carro em seus dedos, e se encontrava sentada no capô.
- O que está fazendo com minha chave? – perguntei, tomando-a de sua mão.
- Por nada. – disse ela. – A encontrei no chão da sala, e de cara sabia que era sua, pois ainda tem esse chaveiro que te dei no dia do seu aniversário. – ela deu um meio sorriso. - Bonito carro.
- Dá pra descer daí? – disse.
Ela desceu, e ficou do outro lado. Abri a porta, e entrei. Não achei que ela fosse fazer o mesmo. Mas aprendi uma coisa: da Duda deve-se esperar qualquer coisa.
- Você tem um bom gosto. – disse ela.
- O que você quer?
- E depois diz que a ignorante sou eu. Calma! Eu só quero conversar.
- Fala logo, Duda, que eu não tenho tempo a perder com você.
- O que fará essa tarde?
- Pra quê quer saber?
- Tô a fim de sair com você. Ir ao cinema, talvez até num motelzinho. – ela sorriu maliciosamente.
- Está brincando, não é?
- Claro que estou! Olha bem pra minha carinha de interessada em ter um encontro com você! – ela fez uma pequena pausa. – Mas bem que você iria adorar sair comigo, hein?
- Não saio com pessoas irritantes.
- Confessa que você adora essa “irritante” aqui.
- Ô Duda, diz logo, que eu preciso ir pra casa.
- Tá legal. Sei que odeia essa idéia tanto quanto eu. Mas precisamos nos encontrar pra ensaiar.
- E quando faremos isso?
- Não sei. Me diga você.
- Hoje à tarde às 15h00, em minha casa?
- Nem pensar! Não quero correr o risco de ser agarrada por você.
- E porque eu faria essa loucura?
- Porque eu sei que você me ama.
- Desce do carro! – disse, ela ficou olhando pra mim. – Desce do carro agora!
Ela sai e fecha a porta. Deu a volta, e se abaixou um pouco para falar comigo.
- Me encontra às 15h00 no jardim da quadra de futebol.
Depois disso, foi embora. Pude sentir meu sangue ferver dentro de mim. Nenhuma garota havia conseguido me fazer pirar. Mas a Duda consegue fazer qualquer coisa. Ela sabe ser chata, irritante, ignorante, marrenta... Como alguém consegue ser tudo isso de uma só vez?! Liguei o carro, e parti pra casa.
–--
(Contado pela Duda)
Acho que é praticamente impossível ficar longe dele, já que somos uma “dupla” no trabalho. E sim, eu adoro provocá-lo. Sei que ele não agüenta muito tempo, e logo começa a revidar. Mas se quero passar no semestre e voltar a morar com minha mãe, preciso mudar esse meu jeito. Não posso deixar que as nossas brigas do passado, e as de agora atrapalhem isso.
Cheguei em casa, e meu pai ainda não havia chegado do trabalho. A única pessoa que encontrei foi a Carol. Fui pro quarto pra tomar um banho, e assim que terminei, desci para almoçar. Tive que me sentar com a Carol, se não quisesse ficar com fome.
- Como foi a aula? – pergunta ela.
Fiquei calada, almoçando.
- Está gostando do colégio?
Eu estava me controlando pra não ter que dar uma boa resposta a ela. Não queria ser ignorante, sabendo muito bem que ela merecia.
- A comida está boa?
- Foi você quem fez? – perguntei.
- Sim. – respondeu.
- Nossa! Então acho que deveríamos dar uma festa para comemorar essa incrível descoberta! Carolina finalmente aprendeu a cozinhar, embora eu prefira a comida da minha mãe.
- Engraçadinha.
Quando terminei o almoço, meu pai chega. O cumprimento, e vou pro quarto. Não resisti em cair na cama e cochilar um pouco. Acabei perdendo a hora, e apareci no jardim da quadra às 15h20. Bill olhava no relógio e caminhava de um lado para outro.
- Está atrasada! – disse ele, assim que me viu.
- Eu juro que não sabia disso! – disse com cinismo.
- Vamos começar logo.
Caminhamos um pouco e como não encontramos nenhum lugar confortável, acabamos nos sentando nas raízes de uma enorme árvore. O cheiro das folhas e a sombra que elas faziam, estava uma maravilha, se não fosse pela má companhia. Começamos a estudar as falas dos personagens. Ficamos ensaiando por várias horas, até uma garota se aproximar, com um enorme sorriso nos lábios.
- Oi Bill. – disse ela, com cara de boba.
- Oi. – responde ele.
- Estará livre essa noite? – pergunta ela.
- Não, ele não estará livre! – respondi. – Não tá vendo que estamos ocupados?
- Não liga pra ela não, Mandy. – diz Bill. – Eu ainda não tenho planos pra essa noite.
- Como assim não tem planos? – perguntei. – Você prometeu que cuidaria da sua avó!
- O quê? – pergunta ele, incrédulo.
- Tudo bem, Bill. – diz ela. – Outro dia a gente marca de sair. E é melhor cuidar bem da sua avó.
A garota se retira, e pude sentir que o Bill queria me matar.
- Ficou maluca! Porque disse aquilo?!
- Reparou bem naquela garota? O segundo dedo do pé dela é maior que o primeiro.
- Você é completamente doida!
- Deveria me agradecer. Te salvei de uma extraterrestre!
Ele me fuzilou com o olhar. Mas assim que essa raiva passou, continuamos o ensaio.
Postado por: Grasiele
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