(Contado pela 3º pessoa)
Duda acaba de sair do avião. Ficou parada alguns segundos, olhou para os lados, abriu sua bolsa e pegou seu celular. Colocou os fones de ouvido, e começou a ouvir músicas. Deu uma bagunçada no cabelo, e caminhou em direção as cadeiras do aeroporto. Se sentou, e ficou aguardando que seu pai chegasse para buscá-la. Os minutos passavam, e nada. Ela cruzou as pernas, em seguida os braços. Mexeu mais uma vez no cabelo. Começou a balançar o pé, ansiosa. Cansada de ficar esperando, resolveu se levantar para sair dali, quando dá de cara com seu pai.
- Desculpe a demora. – disse John. - Tive que acertar algumas coisas de trabalho.
- Tá. – responde Duda, insatisfeita.
- Como foi a viajem? – os dois caminhavam para a saída.
- Cansativa.
- E a sua mãe?
- Está ótima.
- Gostou de ter voltado?
- Quer mesmo que eu responda?
Eles entraram no carro, e seguiram por dez minutos até chegarem a casa. John estacionou, e desceu para pegar as malas. Duda carregava sua mochila nas costas, e foi logo entrando em casa, enquanto trocava a música do celular. Subiu as escadas, passou por um corredor, e entrou pro quarto. Em seguida, sua madrasta aparece.
- Gostou do quarto? – pergunta Carol.
- Que droga de cor é essa?
- Pensei que fosse gostar.
- Odeio rosa!
- Eu gosto de rosa.
- E daí? O quarto é meu, e não tinha direito nenhum de mudar a cor!
- Só estava tentando te agradar.
- Me agradaria muito mais se tivesse deixado tudo como estava!
- Desculpa.
- Pedir desculpas por acaso faz a cor voltar ao normal?
- O que está acontecendo aqui? – pergunta John.
- A sua esposa mudou a cor das paredes. – diz Duda.
- E você não gostou?
- Olha bem pra mim, pai. Vê se eu to com cara de alguém que gostou da cor.
- Podemos dar um jeito. – disse Carol.
- Se tocar mais uma vez no meu espaço...
- Você vai fazer o quê? – pergunta John, a interrompendo.
- Quero que fique bem longe daqui, ok? – disse Duda. – Será que agora posso ficar sozinha, ou vão querer me impedir disso também?
- A Carol e eu estamos saindo pro trabalho, e se precisar de alguma coisa é só ligar. O número está na porta da geladeira.
Os dois saíram do quarto, deixando a sozinha. Duda começou a desfazer suas malas. Depois de tudo arrumado, deitou-se na cama, e ficou ouvindo música por um bom tempo. Se levantou, e foi até sua escrivaninha. Se sentou, abriu a gaveta que era trancada com chave, pegou seu caderno de desenho, e um lápis. O desenho aos poucos começara a surgir. Desenhar era uma das melhores coisas que ela sabia fazer, além de tocar piano.
Já passava das 16h00, e agora Duda estava deitada no sofá, abraçada a uma almofada, e assistindo um filme de terror. Carol chega, trazendo algumas sacolas de compras.
- Comprei isso pra você. – disse Carol, lhe entregando um pacote.
- Acha mesmo que irá me comprar com um presente? – diz Duda.
- Não estou tentando te comprar. Só pensei que quisesse algo.
- Um-hum. – Duda pega o pacote. – Obrigada.
- Não vai abrir?
Duda abre, e se depara com um vestido, cor lilás.
- Um vestido? – pergunta Duda.
- Não gostou?
- É... um-hum.
- Posso te pedir uma coisa?
- Eu sabia que por trás disso havia mais alguma coisa.
- Só queria pedir que usasse o vestido amanhã no jantar que iremos oferecer aos nossos amigos.
- Está brincando comigo, não é?
- Não. Por favor, Duda. Esse jantar é importante.
- Ta legal.
Na tarde seguinte, mesmo sem precisar, Duda ajudava a cozinheira Anne a preparar o cardápio do jantar. Aproveitou para fazer a torta de pêssego que ela e sua mãe sempre faziam juntas. Era como uma tradição. Carol aparece na cozinha.
- O que está fazendo? – pergunta Carol.
- Torta de pêssego. – responde Duda.
- Quem lhe deu permissão pra fazer isso?
- E preciso de uma?
- O jantar começará em uma hora. Vá para o seu quarto agora, e se arrume.
- Vou terminar a torta.
- Vá agora, Duda! – disse com a voz um pouco alterada.
- Quem você pensa que é? Se situa Carol, você não é a minha mãe!
Com raiva, a garota largou tudo, e foi pro quarto. Mais tarde, quando saiu do banho, ela se deparou com o vestido lilás em cima da sua cama. O pegou e colocou dentro do guarda-roupa. Escolheu algo confortável, e de seu gosto. Pôs-se em frente ao espelho, secou os cabelos, deixando-os soltos. Fez uma leve maquiagem, passou seu perfume favorito, e já estava pronta.
Os convidados aos poucos iam chegando. Duda desceu as escadas, e ficou parada no final dela, vendo aquele bando de gente, todos arrumadinhos. Carol vinha da sala de jantar, e viu a roupa que a garota usava.
- Que roupa é essa? – pergunta ela.
- Ah, essa daqui? Foi a primeira que encontrei ao abrir o guarda-roupa.
- Porque não está com o vestido?
- Não gostei dele.
- Está querendo me provocar, não é?
- Eu? Claro que não. – responde ela, sinicamente.
- Suba e troque de roupa.
- Nem pensar. Ficarei com esta aqui.
Carol a fuzilou com o olhar, mas não respondeu mais nada, por conta dos convidados. Horas depois, o jantar foi servido. Todos conversavam sobre a empresa que o John trabalhava, e Duda era a única que não se interessava pelo assunto.
- Você nem tocou no prato. – disse John a Duda, sussurrando.
- Estou sem fome. – responde ela.
- Se continuar com essa cara de enterro, as pessoas começarão a perguntar. – disse Carol.
- Problema deles. – diz Duda.
- Porque você não estampa um sorriso no rosto, e começa a fingir que está gostando. – sugere Carol.
- Porque não estou gostando. – responde ela.
- Então se retire. – disse John.
Duda colocou o lenço em cima da mesa, e se levantou. O garçom vinha trazendo um carrinho com todas as sobremesas.
- Cadê a torta de pêssego da mamãe? – pergunta ela.
- Dei um jeito de despachar aquilo pros cachorros. – responde Carol.
- Você fez o quê?
- Nem morta que eu deixaria meus convidados comer aquilo.
- Sua...
- Duda, - interrompe seu pai. – escolha qualquer outra, e vá pro seu quarto.
Com certeza se seu pai não tivesse interrompido, a Duda teria falado alguns palavrões a Carol. Ela pegou a primeira que avistou, e se retirou, indo para a cozinha. Colocou a sobremesa em cima do balcão, e começou a chorar. Naquele momento, desejava mais do que tudo, estar ao lado da sua mãe.
Postado por: Grasiele
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