quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

Wenn Nichts Mehr Geht 2 - Capítulo 13 - Medos e Incertezas

Momentos antes de que Bill  fosse se deitar uma enfermeira lhe trouxe dois comprimidos, dizendo que eram recomendações médicas.
Porém Bill preferiu não arriscar, ele sabia que não precisava de nenhum remédio, e que este ao invés de lhe tratar, poderia fazer com que sentisse alguns sintomas indesejados. Provavelmente aqueles eram remédios muito fortes, que acabariam por deixá-lo realmente louco.
Assim que a enfermeira foi embora, ele os tirou rapidamente da boca, pensando em um local que poderia os esconder, mas acontece que não havia onde. No seu quarto havia apenas a cama e um criado mudo, e escondê-los dentro do mesmo, seria muito óbvio.
Bill então desforra seu colchão e procura por algum rasgão no objeto já envelhecido. Como era de se esperar, haviam dois ou três orifícios no mesmo. No menor deles Bill esconde os comprimidos, estava certo de que enquanto permanecesse internado não iria ingerir nenhum daqueles medicamentos, os escondendo todos ali.
Bill passara a noite toda acordado, por não estar acostumado a dormir tão cedo, e principalmente por sentir falta de sua cama, de suas coisas.... Mas tarde da madrugada,acabou sendo vencido pelo cansaço e adormeceu.
No entanto Bill não era o único com dificuldades para dormir, na casa de D.Lúcia todos ainda permaneciam acordados. Gerthe chorava incansavelmente, chegando por vezes a perder o fôlego, sua face muito vermelha já preocupava aos avós tão dedicados.
Chegaram até mesmo a pensar que a menina estivesse doente, e pretendiam levá-la à um hospital. Porém quando D. Lúcia a deita na cama para que assim pudesse se arrumar, Gerthe aos poucos vai se acalmando e minutos depois já dormia tranquilamente.

Tom revirava-se na cama. A dúvida e a insegurança não permitiam que ele conseguisse relaxar para então dormir. Em quem ele deveria acreditar? No irmão que tinha várias evidências contra a si próprio, ou nos médicos que lhe diziam que seu gêmeo precisava de tratamento psicológico intenso? Ele passou a noite toda perguntando-se se o que havia feito era realmente o melhor. Bill não parecia estar mais feliz ou saudável, muito pelo contrário. Tom nunca havia visto Bill tão furioso com ele, e a imagem de seu irmão gritando que o odiava, o deixava ainda mais angustiado.
Não se perdoaria se algo de ruim acontecesse ao irmão, mas e se os médicos realmente estivessem certos? E se Bill ao  sair da clinica tentasse novamente se matar? Por mais que fosse triste, Tom sabia que lá Bill estaria protegido, protegido de si mesmo.

No dia seguinte o Sol não apareceu, o céu estava cinza e algumas vezes uma leve chuva caia, mas logo cessava.
Bill adorava olhar pela janela as gotas de chuva caírem do céu, e sentir o cheiro de terra molhada que tanto lhe agradava. Mas do seu quarto era impossível o fazer, já que não havia janela, então ele decide ir até o jardim e esperar que o café da manhã fosse servido.

A caminho dali, em um ônibus, seis adolescentes com idade média de 17 anos conversavam sobre suas expectativas para o primeiro estágio em uma clinica psiquiátrica. As cinco garotas e o rapaz estavam concluindo o primeiro ano do curso de Téc. de Enfermagem. Não possuíam muito experiência ou conhecimento na área, mas sim muitos medos e incertezas. Pelo menos um deles...

– Vanessa larga de ser medrosa, não vai acontecer nada demais lá! – diz Fernanda para a amiga.
– Você não ouviu o que o professor falou? Eles fazem coisinhas entre eles! – diz Vanessa um pouco envergonhada.
– O professor Roberto é um maluco também! Você não percebe que ele falou isso só para nos assustar?!
– Mas é claro que foi. Além de doido, gay?! É muito castigo para uma pessoa só... se bem que para ser gay só sendo doido mesmo. – diz Felipe intrometendo-se na conversa.
– Eu não acho que seja mentira. Me falaram que nessas clinicas não tem só malucos, tem ex drogados também. A amiga da minha mãe que é enfermeira teve um caso com um drogado de uma clinica dessas que ela trabalha. Também, o cara tinha dinheiro, quem não pegava?! – diz Cíntia, sentada ao lado de Felipe.
– Mas você pode ficar despreocupada que nessa clinica só tem malucos mesmo, tá dona Cíntia! – diz Fernanda.
– E eu lá quero ficar com maconheiro? O meu lance é com os enfermeiros.. – responde Cintia.
– Ela acha que assim vai conseguir um estágio remunerado, tadinha... – diz Taís sentada no banco ao lado, junto de Marcela.
– Eu só quero aumentar as minhas amizades profissionais... – defende-se Cíntia.
– Você é uma vadia, isso sim! Por isso todo mundo pensa que técnica e enfermeira é “lanchinho” de médico. Por causa de umas e outras iguais à você! – retruca Taís.

Cíntia prepara-se para iniciar uma discussão, ali mesmo no ônibus, mas é contida por Felipe, que a segura firmemente pressionando seu corpo contra o dela. Ao perceber que Vanessa o olhava seriamente, ele disfarça e se afasta de Cíntia.

– Desculpa interromper essa discussão “tão emocionante”, mas alguém sabe em qual ponto a gente tem que descer? – pergunta Fernanda.
– É no próximo. – responde Filipe.
– Se a Marcela não tivesse pegado a porra do ônibus errado, a gente já estaria lá! – diz Cíntia.
– Ai desculpa gente... – diz Marcela abaixando a cabeça.
– Essa garota é tão tapada que me irrita! – resmunga Cíntia.
– E o pior é que dizem que a nossa supervisora de lá, é super exigente.. – diz Vanessa.
– Lá vem a Nerd... você só tira 10 em todas as matérias e agora vem me falar que está com medo da supervisora... faça-me um favor.
– Já te falei pra parar de me chamar de nerd. – diz Vanessa.
– Quando você parar de agir como uma, quem sabe... E não é só nesse aspecto que eu estou falando, você sabe muito bem disso... – diz ela olhando de lado para Felipe.

Algum tempo depois eles então chegam ao local, e encontram com Jucélia, sua supervisora, que os esperava em frente à entrada da clínica.

– Vocês são o novo grupo de estágio? – pergunta ela, jogando o cigarro que acabara de fumar, no chão.
– Sim. – reponde Vanessa, com um sorriso nervoso no rosto.
– Meus parabéns... Já começaram errado! Vocês estão 15 minutos atrasados, sua blusa está decotada demais. Esse cabelo já era para estar preso. Nunca te avisaram que não se deve usar esmalte escuro menina? – diz ela apontando para cada uma das meninas.

Vanessa ainda mais nervosa pelas reclamações tenta defender o grupo, porém Jucélia não parecia estar com vontade de ouvi-la.

– Vamos, vamos logo entrar... – diz a supervisora.

Eles então vestem o jaleco e põem seus crachás de estagiários , guardando as bolsas e mochilas no armário de madeira localizado logo na entrada, ao lado do vigia.

– Tem que pegar o aparelho de pressão, termômetro e essas coisas? – pergunta Vanessa.
– Não só o caderno de anotações e a caneta. Responde Jucélia.

Quando todos já estavam devidamente arrumados e todos com os cabelos amarrados, a supervisora fala:

– Antes de nós irmos para o alojamento, há algumas coisas que eu preciso avisar. Primeiro: alguém aqui fuma?
– Eu. – diz Felipe, levantando o dedo.
– Não fume aqui dentro! Alguns deles fazem trocas desesperadas por um cigarro que seja...
– Ok.
– Segundo: eles vão querer abraçar vocês, tocar no seu cabelo... Não deixem! Afinal vocês não fazem ideia da onde eles colocaram aquela mão antes. E digamos que eles não são muito higiênicos.
– É verdade que eles fazem sexo um com o outro? – pergunta Fernanda.
– Se deixarmos, os mais assanhadinhos fazem mesmo. Então temos que ficar de olho para que eles não fiquem muito perto um do outro. E nem fiquem cheios de amizade com eles. Eles não são seus amigos, são seus pacientes!

Diz ela elevando seu tom de voz.

– Mas também não é para ficar com essas caras de medo, né pessoal? – diz ela olhando diretamente para Vanessa, que parecia querer chorar.
– E o que nós vamos fazer aqui? – pergunta Taís.
– Não há curativos imensos, banhos no leito... Vocês apenas terão que “brincar” com eles, tentar entender o que se passa na cabeça de um paciente psiquiátrico, ver como é o seu comportamento. Além de aprender sobre algumas medicações, realizar pequenos curativos, e ajudar na alimentação e higiene. Resumindo,não há muito o que se fazer aqui.
– Uma clinica psiquiátrica é diferente de um hospital. – diz Marcela.
– Isso mesmo. Agora vamos logo que já deve estar na hora do café da manhã deles. – diz Jucélia.

Postado Por: Grasiele

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