quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Wenn Nichts Mehr Geht - Capítulo 3 - O Desabafo

Quando me levanto pra ir embora, consigo fazer a proeza de atropessar nas minhas próprias pernas e cair de cara no chão. Ainda bem que aqui é escuro, acho que ninguém viu. Apoio minhas mãos no chão e tento me levantar. Vejo uma mão estendida para mim, levanto minha cabeça para ver quem é a pessoa que teve a boa vontade de querer me ajudar, mas que, porém eu preferiria mil vezes que não tivesse visto nada.

- Quer uma ajudinha aí?

É o cara dos dreads! Não sei se me sinto lisonjeada ou extremamente envergonhada por justamente ele querer me ajudar.

Seguro sua mão e me levanto.

- Ah, obrigada. - respondo já com o rosto corado.

Porque eu não consigo disfarçar quando choro, ou fico com vergonha?! Tenho sempre que ficar vermelha!

- Eu já sabia que sou charmoso, mas não ao ponto das mulheres caírem literalmente aos meus pés!

Ah! Que cara mais convencido! Tava bom demais pra ser verdade...
Não queria ouvir mais nenhum tipo de gracinha, chega de ver os outros rirem da minha cara por hoje. Peguei minha bolsa e nem olhei pra cara dele, quando já estava indo embora sinto alguém segurando firmemente o meu braço.

- Hei, eu só estava brincando, não precisa levar tudo a sério também. Pode ficar tranqüila que você não é a primeira e nem vai ser a última mulher que cai aos meus pés. - diz ele as gargalhadas.

Embora eu achasse toda essa exibição dele extremamente ridícula e machista, tinha que concordar que esse jeito cafajeste dava à ele um charme a mais.

- Meu nome é Tom, e o seu?
- Camila.
- Camila, eu fiquei te observando a noite inteira sabia? Você tem um jeito diferente. O seu rosto é meio que... angelical. E se você tirasse esses óculos ficaria mais lindo ainda.

Como se já não bastasse terem me feito de chifruda, agora querem me fazer de idiota. Que dia maravilhoso!

- Olha eu tenho que ir tá... - eu disse já caminhando em direção a saída.

Mas para minha surpresa ele me segue:

- Eu te faço um elogio e você diz que tem que ir embora?
- É sério eu preciso ir embora agora!

E continuei andando em direção a saída.
Meu Deus já 02h00min da manhã e nenhuma porcaria de táxi passa nesse lugar!

- Você não tem carro?

Nem olhei pra trás para ver quem estava a me fazer pergunta tão idiota, estava muito nervosa pra manter a boa educação, e respondi:

- Você acha que se eu tivesse um carro eu estaria parada feito uma idiota aqui na calçada esperando um táxi?

Ao acabar olho para trás para ver a quem dei resposta tão mal educada. Era ele, Tom.

- Porra pelo visto você só tem carinha de anjo mesmo, eu só quis ajudar!
- Desculpa, mas eu estou muito nervosa hoje, e preciso ir pra casa. Já está muito tarde.
- Você por caso é a “Cinderela” dos tempos modernos é?
Não pude conter o riso e disse:
 - Nem que eu fosse a Cinderela... já são 02:00...  E se eu não chegar logo em casa minha mãe vai dar é com o sapatinho de cristal na minha cabeça!
- Vamos eu te levo pra casa no meu carro... - disse ele balançando as chaves do carro.
- Pode deixar, eu continuo aqui esperando o táxi.
- Táxi por aqui há essa hora?! É raro.
- Então eu vou de ônibus mesmo!
- A essa hora já não tá passando mais ônibus. Vamos logo! Eu não mordo! Quer dizer, a não ser que você peça.

Minha mãe sempre me alertou para nunca falar com estranhos e muito menos aceitar carona deles, pois eu corria muitos riscos fazendo isso. Mas risco maior eu corria ficando ali. Então resolvi aceitar a carona.

-Tá bom eu quero!
- As mordidas? Aê gata é assim que eu gosto!
- Claro que não! Eu quero a carona!
- Pow, me empolguei agora... aí você me joga esse balde de água fria.
- Vamos logo, antes que eu desista!
- É mole, eu nunca banco o cavalheiro, aí quando resolvo dar uma de bom moço, já querem abusar!
- O tempo tá passando!
- Calma, o meu carro está logo ali.

Quando eu percebo qual era o carro dele, quase me arrependo de ter aceitado a carona... Era um carrão! E digamos que a minha casa não seja uma das mais bonitas...

- Pra quem estava com tanta pressa você tá demorando muito pra entrar!

 Assim que entrei no carro disse onde eu morava e ele pisou fundo no acelerador, eu rezei para que nada de mal me acontecesse, ao lado daquele pervertido. Gustav era tão fofo, tão carinhoso... ao lembrar dele inevitavelmente uma lágrima veio aos meus olhos e solitária escorreu pelo meu rosto. Aquelas cervejas podem ter aliviado a dor, mas não me fizeram esquecer o que ocorreu. Como ele pode me enganar dessa maneira? Porque não me disse que já não gostava mais de mim e sim de outra ao invez de me trair?  A dor não seria menor, mas a raiva com certeza sim.
Eu inocentemente achando que eu era a única na vida dele, me culpando por não ter “o deixado avançar o sinal”, mas não foi por eu não querer, e sim por não me sentir preparada para um momento tão importante. Será que foi por isso que ele me traiu? Eu sei que muitas garotas até mais jovens do que eu já perderam a virgindade... Mas poxa... Eu sou diferente! Será que ninguém entende? Nesse momento não pude evitar que outras lágrimas de tristeza, dor e frustração escorressem pelo rosto.

- Por que você está chorando? Foi por alguma coisa que eu disse? Liga não eu sou assim com todo mundo!
- Não, me desculpe, não foi por nada que você tenha feito... Mas é que, hoje foi um dia muito difícil pra mim.
- Olha eu não sou muito bom para conselhos e tal... Mas dizem que desabafar sempre ajuda né?!

Desde que tudo aconteceu, eu ainda não havia conversado com ninguém, tudo estava ali guardado dentro de mim. E mesmo que ele não ouvisse sequer uma palavra do que eu dissesse talvez isso me fizesse sentir melhor.
Então eu contei sobre o meu namoro com o Gustav, sobre o nosso término e a conversa que acabei ouvindo. Durante todo o meu relato ele não comentou nada, não fez nenhuma pergunta, apenas escutou.
Quando eu acabei com todo o meu desabafo ele disse:

- Acho que você já percebeu que eu não sou o cara mais fiel do mundo. E pra te falar a verdade nem me lembro qual foi a última vez que tive um namoro sério com alguém. Sempre tenho romances de apenas uma noite. Mas com certeza se eu encontrar a mulher da minha vida, não vou te dizer que mudo completamente porque eu estaria mentindo, mas daria uma diminuída no ritmo. Talvez você não fosse a mulher da vida dele, e nem ele o seu par perfeito. Entende?
- Acho que sim.

Não sei dizer se aquelas palavras me confortaram ou me deixaram ainda mais pra baixo. Mas sem dúvida fiquei mais aliviada em ter desabafado. Geralmente eu sou uma pessoa muito discreta e reservada, mas com o Tom era diferente. No pouco tempo que passamos juntos ele conseguiu me fazer ficar bem a vontade. Coisa que algumas pessoas que eu já conheço há anos não conseguem fazer.

Chegamos ao meu bairro, e eu o indiquei como chegar a rua em que moro.

Postado Por: Grasiele

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