quarta-feira, 6 de julho de 2011

Angel In Disguise - Capítulo 7

Ethan


O dia foi cheio, Bill me ajudou na lanchonete e fazia tudo com um sorriso no rosto. Disse a Lourdes que ele era meu primo que tinha vindo da Alemanha para fazer intercâmbio. Ela perguntou como eu tinha primo na Alemanha se eu era brasileira? A Lourdes era esperta, mas eu era mais e logo dei a desculpa que uma tia morava lá e acabou casando com alemão e teve o Bill, e como ela não havia lembrado da cara dele no dia em ele apareceu pela primeira vez ela não só caiu na minha desculpa, como caiu de amores por Bill que tratou Lou com o maior carinho, a admirou por ser uma pessoa de fé, e os dois começaram a conversar sobre promessa e bíblia, Lou era uma católica super devota, tudo para ela tinha Deus, Jesus e a virgem, os dois riam e se ajudavam na cozinha e aquilo me deixou profundamente irritada por algum motivo desconhecido. Terminei o trabalho na lanchonete e voltamos para casa.

-         Eu vou dormir um pouco, se quiser sair, fique a vontade, eu vou para a boate mais tarde, então... está dispensado. -  Disse fechando a porta do meu quarto.


Bill pensando


Ela parece um pouco incomodada comigo, não acho que será fácil, mas não está sendo tão difícil quanto me disseram que seria.
Ela definitivamente não gostou de mim, talvez o recipiente não tenha lhe agradado. Minha garganta está muito seca, não sei se é por causa do café, talvez precise beber mais água.
Vou tomar banho, e não posso esquecer de colocar a toalha no piu-piu.


Bill entrou no banho, deixava a água escorrer e passava a mão sobre as partes do corpo, se conhecendo, conhecendo a maciez do corpo do seu recipiente. Ele bebia a água do chuveiro e olhava com atenção as gotinhas que caíam do chuveiro, ele observava tudo, o sabonete, leu toda a instrução e composição do shampoo e do condicionador, tudo aquilo era fascinante pra ele. Saiu do banho, lembrando do que Sara havia dito sobre a toalha e sua parte íntima e se trocou ali mesmo. Secou os cabelos negros e o penteou para trás.



                                                      ~***~~***~


Estava sonhando com minha avó, no dia que ela fez 80 anos. Foi à última vez que eu a vi. Ela estava com seu vestido laranja floral, sentada em uma cadeira na sacada da casinha dela em Jundiaí. Ela me contava histórias da minha mãe, como minha mãe fugiu de casa para se casar com meu pai, que era filho de deputado, rico e cheio de poder, e minha mãe era uma menina sonhadora do interior. Eu tinha 10 anos quando isso ocorreu, mas no sonho eu estava com a  idade que tenho hoje, mas estava vestida com a mesma roupa, um vestidinho rodado, cor creme com uma fita branca na cintura e uma faixa também branca no cabelo liso e com as pontas loiras. No sonho a minha avó falava que eu tinha mudado muito, depois que meus pais se separaram, minha mãe casou com outro, meu pai também vivia cheio de namoradas, umas tinham a minha idade, e ela me pedia que eu ficasse calma, e que não estragasse a minha vida por causa deles, e que eu não desistisse de ter um amor, uma família só porque a minha não deu certo. Eu chorava no sonho, eu raramente chorava com vontade, a última vez foi quando meu pai disse que estava se separando da minha mãe, e que tudo era culpa minha. Minha avó segurava meu rosto e dizia que ficaria tudo bem, porque eu estava em boas mãos, e que se ela sentia minha falta, mas que cuidava de mim lá de cima, me beijou a  testa e disse que o bolo estava queimando, levantou-se rapidamente e entrou na casa, e não saiu mais. E foi aí que acordei, levando um susto ao abrir os olhos e ver Bill na minha frente, prestando atenção enquanto eu dormia.

-         Não faz isso!! Você quase me mata de susto... de novo!- Me levantei assustada com as mãos sobre o rosto.
-         Me perdoa? – pediu arrependido.
-         Não... droga,  desculpa, é que eu ainda não me acostumei com tudo isso, e eu acabei de sonhar com a  minha avó. Ela disse que eu estava em boas mãos, Será que ela estava falando de você? -  estava sentada na cama e me abracei ao travesseiro, olhando para Bill pensativa.
-         Não sei.
-         Que horas são, por favor?
-         22h. -  Disse olhando para o relógio que ficava ao lado da minha cama.
-         Ai droga, to tão cansada.
-         Você não precisa ir pra boate se não quiser.
-         Ahhh engraçadinho, ta jogando verde né? Sabe que boate é o antro de perdição, por isso ta falando isso, quer começar a sua missão já né? – Disse sorrindo.- esse é irmão desse, sou loira, mas não sou burra. – falei debochada.
-         Eu gosto da cor do seu cabelo. -  Elogiou observando meu cabelo e me fazendo ficar com vergonha pelo comentário. O que era estranho, pois eu jamais senti vergonha de algum homem, muito pelo contrário, se o Damon... quer dizer, o Damon, ou os homens com quem eu costumo sair não falam do meu cabelo, eles falam que minha bunda é gostosa, que eu tenho os seios lindos, mas que gostam do meu cabelo? Nunca, talvez por isso eu tenha ficado envergonhada pelo elogio do punk.
-         Bom... er... eu vou me trocar, tenho que ir trabalhar... de novo. -  Disse pulando da cama e indo até meu guarda roupa. Não me importei muito e para falar a verdade resolvi fazer um teste. Virei de costas e me troquei ali mesmo, na frente do punk, a porta do guarda roupa estava cobrindo meu corpo quase todo, mas ele podia ver minha sombra e partes, como perna e braço surgindo enquanto eu me esticava para me vestir. Fechei a porta e ele ainda estava lá sentado, olhando nada, me olhou de cima a baixo e sorriu.
-         Você está muito bonita com essa roupa. –Elogiou me olhando nos olhos agora.
-         Obrigada, se você tivesse um pouco mais de vivência nesse mundo, você falaria que estou parecendo uma stripper. – Comentei dessa forma, pois eu estava com uma micro saia branca, e um top prateado. -  Vou arrumar o cabelo e me maquiar.

É incrível, mas Bill me maquiou. Fez a maquiagem que ele fez nele, quer dizer, eu perguntei e pelo que pareceu, o recipiente dele é que se veste assim mesmo, então ele “herdou” o dom de maquiador do recipiente que até então não sabia se estava vivo, morto ou dormindo dentro daquele corpo. A maquiagem ficou perfeita e arrumei meu cabelo, deixei ele preso num rabo de cavalo alto e alguns cachos nas pontas, coloquei várias pulseiras prateadas, passei um gloss transparente e me despedi de Bill que disse que ficaria assistindo tv.
-         To indo Bill, até mais tarde.
-         Até mais.



Fui andando até a boate que ficava perto de onde eu morava, atenta a qualquer movimento, depois do que havia acontecido com aqueles marginais, não poderia dar mole, ainda mais do jeito que estava vestida.
Trabalhei como louca, a boate estava cheia, pois era sexta-feira. Tocava a música Just Dance da Lady Gaga quando apareceu no balcão pedindo um Martini com duas cerejas, aquele que mais me fez sofrer de paixão. Ethan. Ele era o homem dos meus sonhos. O conheci quando cheguei aqui, ele estudava na NYU e eu trabalhava de garçonete em uma cafeteria próxima ao campus. Ele ia todo dia para conversar comigo. Ele era o típico sonho americano, loiro, alto, ombros largos, olhos profundos e azuis. Depois de quase dois meses só pedindo café e me perguntando como falava alguma coisa em português ele teve coragem de me pedir para sair com ele. E foi tudo muito clichê, cinema, pegação, meu apartamento e  sexo. Mas não tinha sido só sexo pra mim, ele era tão diferente, não me tratava como uma brasileira fácil, ele era carinhoso, me tratava como um princesa. Mas tudo veio abaixo quando conheci a família dele, que mesmo me tratando com cordialidade num jantar de ação de graças, fizeram o favor de armar uma cena, fizeram ele acreditar que queria usá-lo para ter uma carreira, para ter um sossego, e ele acreditou. Éramos muito diferentes socialmente, e por mais que parecesse perfeito, aquilo começou a destruir nosso relacionamento, e foi aí que retomei a minha vida rebelde, a mesma que queria ter deixado no Brasil. O namoro não durou nem um ano, ele terminou comigo dizendo que iria estudar em Londres, reapareceu três meses depois noivo de uma riquinha nerd e meu mundo acabou. Meu mundo sempre acabava quando eu o via, mas como não demonstrava, ele fazia o favor de aparecer todo feliz para me atormentar.

-         Oi Sarinha. – Disse sorrindo.-  Sabia que te encontraria aqui.
-         Por que será né? Minha vida não vai sair daqui mesmo.- retruquei já colocando os drinks sobre o balcão.
-         Quanto é?
-         Essa é por minha conta.
-         E aí como você está?
-         Estou ótima, obrigada e você?
-         Vim comemorar.
-         Jura?- Fingi estar interessada no por que.
-         Vou me casar amanhã, acredita nisso?
-         Acredito, você nasceu para ser um homem de família.
-         E você, ainda nessa vida de deixar todos os homens caindo de amores por você e você não dando bola para nenhum deles?
-         Aham.
-         Você realmente é doida, mas eu sei que essa frieza toda é só charme, um dia você vai encontrar um cara legal, vai se apaixonar e sossegar. – Bebeu um gole do drink.
-         Não, não quero mais...-  Fiz uma pausa levantando o balcão. – O cara legal que eu queria vai sossegar amanhã.-  Desabafei saindo dali, me segurando para não desabar e entrando na multidão, sem olhar para trás, sem olhar para Ethan.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog