quarta-feira, 6 de julho de 2011

Angel In Disguise - Capítulo 1

-         Saraaaaaaaaa. – Gritou Lourdes, uma imigrante mexicana que trabalhava comigo na lanchonete.

Meu nome é Sara, eu tenho 22 anos e estou aqui há quatro anos. Eu sou brasileira, capital de São Paulo para ser mais exata e vim para NY com o famoso sonho americano. Estudar inglês e fazer curso de teatro e dança. Fora isso também sonhava em chegar aqui e me apaixonar por um belo gringo rico que se apaixonaria pelo meu jeito brasileiro caliente no primeiro instante e me pediria em casamento e estaria feita. Mas de todos esses sonhos, o único que consegui nesses quatro longos anos aqui em Nova Iorque foi melhorar o inglês.
Eu não vou dizer que era uma menina exemplar, mas mudei muito desde que cheguei aqui. Como posso dizer? No Brasil eu bebia com minhas amigas, ia à balada todo final de semana, de vez em quando tomava umas balinhas. Aqui, bom... aqui eu trabalho numa boate nos finais de semana, e lá, eu preciso de remédios para ficar acordada, fora as biritas que a gente toma um vez ou outra, por que é uma tequila com um cliente aqui, outra com a companheira bartender lá e quando vejo já tomei uma garrafa. Ai depois do expediente sempre tem aquele gato que não para de olhar para mim dentro da boate e a noite se prolonga, na maioria das vezes eu preciso de um “empurrãozinho” para fazer as coisas, e aqui em NY, sempre tem alguém vendendo algo para te ascender. Aí chego em casa faltando 3 horas para acordar e trabalhar na lanchonete e eu simplesmente não consigo dormir por causa dos “aperitivos noturnos”, aí eu tomo um Lexotan ou Valium para conseguir dormir as benditas três horas. É isso, eu posso ser chamada de uma jovem livre e rebelde, mas aqui as pessoas não ligam para o que faço, no Brasil as pessoas se importam muito com a vida dos outros e aqui as pessoas simplesmente não dão a mínima para o que você faz dela, ainda mais se você for estrangeira e latina como eu.... e como a Lourdes que está desesperada por causa da máquina de cappuccino que não para de soltar espuma.

-         Saraaaaaaaaa.- Lourdes tinha uma voz estridente e fina.
-         Já estou indo Lou, calma mulher. – Gritei do balcão da frente.
-         Sara hija, por favor, ajuda-me! -  Lourdes pediu mais uma vez, mas dessa vez com uma voz de choro e apareceu na frente do balcão com a cara cheia de espuma de leite.
-         Ahahahhaha, calma Lourdinha. – Me levantei da cadeira e fui até ela. -  Não precisa chorar, eu vou te ajudar, calma, respira fundo, eu vou lá trocar um palavra com aquela máquina possuída. -  Disse entregando um pano na mão de Lourdes e balançando a cabeça, achando muita graça naquela cena, fui atrás da máquina vilã.

A lanchonete estava vazia aquele dia, e eu estava limpando a máquina fechando meus olhos de tanto sono. Mas havia lembrado que Jack, um “amigo” que conheci no bar tinha me dado de presente por uma noite maravilhosa algumas gramas de branquinha que estavam dentro do porta gloss. Olhei para os lados e somente para despertar cheirei um pouco, senti meu nariz queimar e balancei a cabeça. Fechei a tampa da máquina e a liguei para ver se estava funcionando direito e bingo! Nova de novo. Gritei Lourdes para que ela voltasse ao seu trabalho e fui ao banheiro me arrumar. Meu olho estava fundo e a maquiagem preta não ajudava em nada. Estava com o cabelo preso num rabo de cavalo bem alto e com aquelas roupinhas ridículas de garçonete, camiseta colada branca, short curtíssimo verde escuro e avental vermelho. Fiquei por alguns minutos me olhando no espelho, me achando deprimente.

-         Como eu consegui chegar nisso? Era para eu estar numa piscina, pegando um bronze em uma cobertura luxuosa de Manhattan e gastando o dinheiro de algum coroa otário, e estou aqui servindo cafezinho para um bando de gente que nem sabe pronunciar meu sobrenome certo. E ainda falam que Deus existe... pff! -  Falei para minha imagem no espelho, levantando a sobrancelha e debochando. Arrumei meus seios no sutiã, afinal nunca se sabe quando um gatão vai trombar em você na saída do banheiro, então é sempre bom deixar as meninas levantadas. Respirei fundo para voltar para o tédio e saí, indo para o balcão quando ouvi o sininho da porta.
-         Bom dia! Bem vindo ao... -  Não continuei o agradecimento, era para ter terminado com um “ao Maco’s” mas não consegui. Aquele rapaz era a figura mais exótica que tinha visto entrar na lanchonete. Não que nunca tivesse visto algo exótico, acreditem em mim, na noite de NY você encontra de tudo, mas as 9:00 da manhã? Um cara altíssimo, todo de preto, maquiagem mais bem feita que a minha e um cabelo moicano tão perfeitamente esticado que poderia jurar que ele passou a madrugada toda para deixar daquele jeito. Ele veio até o balcão de cabeça um pouco baixa e só a levantou quando foi fazer o pedido.
-         Bom dia. -  Disse finalmente olhando para mim. Os olhos eram um pouco puxados e tinham um brilho diferente. A cara estava séria e parecia um bad-boy, mas logo após me ver sorrindo completamente idiota coma  beleza dele, ele sorriu, e toda aquela imagem punk e violenta que passava na minha cabeça tinha ido embora. Ele sorria como uma criança.
-         Bom dia, você quer fazer um pedido?
-         Sim Sara, eu quero.
-         Como você sabe meu nome? -  Perguntei espantada.
-         Seu uniforme. -  Disse apontando para o pequeno crachá com meu nome escrito.
-         Ahh, é mesmo, disfarça, desculpa, qual seu pedido? -  Perguntei sem graça com o mico.
-         Eu quero pedir... -  Disse afastando o menu que tinha entregue a ele. – Quero te pedir...
-         Saraaaaaaa, de novo a máquina! -  Lourdes, mais uma vez, perdendo para máquina de cappuccino.
-         Já vou Lourdes. -  Gritei para os fundos da lanchonete e voltei meu olhar para o punk. -  Desculpa mais uma vez, é que ela é nova e a máquina de cappuccino não parece gostar muito dela. -  Disse fazendo bico.
-         Sem problema. Na verdade, é exatamente o que eu quero, um cappuccino, eu gosto de cappuccino. -  Disse sorrindo novamente.
-         Okay, já volto. – Fui até os fundos e voltei com o cappuccino e o moço punk altíssimo estava olhando as fotos da lanchonete. Fotos minhas com alguns artistas que passaram por lá, fotos do dono, fotos de funcionários que já tinham ido dessa para melhor.
-         Você parece muito feliz nessas fotos. -  Disse o moço ainda olhando as fotos que ficavam numa parede logo ao lado do balcão.
-         É, não da para sair triste em foto né? Ainda mais em momentos felizes. – Disse estranhando como ele passava o dedo em uma das fotos com Danny e Peter, dois ex-funcionários que morreram num acidente de carro. -  Seu cappuccino.
-         Obrigado Sara. -  Pegou o cappuccino sem beber. -  E você só tira foto quando está feliz? Ou você só fica feliz quando tira fotos? -  Perguntou curioso me olhando profundamente nos olhos.
-         Não entendi a pergunta.- Franzi a testa com o interesse dele em mim.
-         Você disse que é difícil sair infeliz nas fotos, mas eu disse que você parecia feliz nas fotos, não que você estava.
-         É, eu sou uma pessoa feliz, se é o que você quer saber. -  Me irritei com olhar clínico daquele punk. -  São $ 3,00 o cappuccino. -  Disse fechando a cara e esperando que ele pagasse. Ele tirou o dinheiro do bolso e me pagou. – Mais alguma coisa? -  perguntei seca.
-         Sim. -  Disse se aproximando do caixa. -  Não continue destruindo sua vida Sara Oliveira, seu coração é bom demais para esse mundo te perder. -  terminou olhando nos meus olhos e finalmente bebendo um só gole do cappuccino e o colocando no balcão, saindo da lanchonete e fazendo o sininho da porta tocar.

Eu estava paralisada, olhei o meu crachá para ver se tinha meu sobrenome nele.

-         Como ele sabe meu sobrenome?? -  Perguntei para mim mesma, me sentando ainda um pouco confusa com aquilo. Entrei nos fundo e fui falar com a Lourdes. -  Lou, você viu um rapaz todo de preto, meio punk que entrou aqui???
-         O que pediu o cappuccino? -  respondeu minha pergunta com outra, sem prestar atenção em mim.
-         É... é esse mesmo. O que foi aquilo?? -  Passei a mão na minha cabeça. -  Eu ein, só tem doido nesse lugar.

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