quarta-feira, 6 de julho de 2011

Angel In Disguise - Capítulo 6

-         Que sonho estranho.-  Me espreguicei abrindo a maior bocarra num bocejo preguiçoso. – Que cheiro é esse? -  Respirei ao sentir um cheiro de café.- Ué, não chamei o Damon para vir pra cá.- Comentei comigo mesma, me levantando da cama, ou melhor, me arrastando para fora dela e indo para a cozinha.

Ao abrir a porta levei um susto.

-         Bom dia.-  Bill sorriu largamente colocando duas xícaras sobre a minúscula mesa de vidro. -  Eu fiz café.- Disse agora observando minha cara de “Não estou entendendo nada”. -  Esqueceu de mim? -  Perguntou levantando a sobrancelha.
-         Não, quer dizer... eu pensei que ontem tivesse sido um sonho, mas parece que não. – Disse fazendo uma cara indiferente e indo até a cozinha.- O cheiro ta bom pelo menos, você aprendeu a fazer café?
-         Eu gosto muito de café. -  Disse animado sorrindo de novo.
-         Nunca vi alguém tão feliz por causa de café, mas enfim, no céu não deve ter café né? -  Disse indo me sentar e Bill veio em minha direção e afastou a cadeira para que eu pudesse sentar. -  Obrigada.-  Agradeci o olhando enquanto ele ia até a cafeteira.
-         Eu não sei se ficou bom, mas fiz umas coisas que já comi também, panqueca o nome, eu vi que tinha a massa pronta na geladeira e fiz conforme as instruções. – Disse olhando o prato cheio de panquecas.-  Na embalagem estava falando que era aconselhável servir com mel ou chantilly, então eu fui comprar os dois. – Disse colocando o chantilly e em seguida o mel sobre a mesa.

Eu fiquei parada olhando para o prato de panquecas, elas estavam perfeitas.

-         Que injustiça... – Pensei alto, agora olhando para ele soltando sorriso aberto e inconformado. -  Eu sempre tentei fazer essas malditas panquecas, e as filhas da mãe nunca saíam assim, sempre ficavam murchas ou queimavam. Fala a verdade, você fez alguma mandinga angelical pra deixar elas assim perfeitas não fez não? -  perguntei o fitando com olhar duvidoso.
-         Eu só fiz o que estava indicado na embalagem. -  Respondeu dando ombros e fazendo bico de peixe.
-         Certo, você está há o que... dois dias na Terra? E sabe fazer panquecas e café perfeitamente, e eu nasci aqui e não sei fritar um ovo. – Disse comendo um pedaço da panqueca e não pude evitar de soltar um “hmmmmm que delícia”, pois aquilo estava o paraíso... ironicamente. -  Você não vai comer? -  Perguntei com a boca cheia, não conseguia parar de comer as panquecas.
-         Não, eu não preciso me alimentar muito. -  Disse puxando uma cadeira e sentando.
-         Mas, então você fez café só pra mim?
-         Sim.
-         Não precisava.
-         Precisava, se não fizesse você não teria o que comer.
-         Eu como na lanchonete, não precisava perder seu tempo comigo. -  As garfadas nas panquecas eram cada vez maiores, fazendo parecer que eu estava morrendo de fome, mas era pura gula, pois aquilo estava bom demais.
-         Eu estou aqui justamente para perder meu tempo com você, esqueceu? -  Disse com os cotovelos sobre a mesa e as mãos sobre o queixo. Ele era muito bonito sem maquiagem.
-         É né.  -  Disse balançando a cabeça enquanto tomava um gole de café. – Meu Deus! Esse é o melhor café que eu já tomei, e olha que eu recebo mil elogios pelo meu café, mas o seu... é muito melhor. -  O olhei rapidamente e voltei a dar outro gole no café.- Bom, já que vamos passar um tempo juntos, acho que você precisa me dar algumas explicações. – Terminei afastando o prato de panquecas e o café.
-         Quais? -  me perguntou agora encostando na cadeira e cruzando os braços.
-         Primeiro, desde quando você desceu?- perguntei apontando para o teto.
-         Três dias.
-         Hmm, e esse corpo não é seu, ou é?
-         Não, não é meu.
-         De quem é? – Franzi a testa curiosa.
-         Não posso falar sobre isso. – Desconversou me olhando fixamente.
-         Como não? Você possuiu o corpo de alguém, como não pode falar sobre isso? É segredo celestial?
-         Sim, é. Eu posso responder suas perguntas, qualquer uma, mas nenhuma relacionada ao meu recipiente.
-         Seu... recipiente? É assim que vocês nos chamam? De recipiente?
-         Exato.
-         Ta ok. Quanto tempo você tem para ficar aqui na Terra?
-         Vai depender de você, o tempo é indeterminado, porém se eu conseguir alcançar meu objetivo amanhã, eu volto amanhã.
-         E o seu objetivo é o que especificamente?
-         Fazer com que você recupere sua fé, e pare de se destruir.
-         Seu objetivo é me levar para igreja e me converter então?
-         Não, você não entendeu. Não é algo que envolva uma religião, fé e religião não são a mesma coisa, você perdeu, ou melhor, esqueceu da sua fé, e eu preciso que você a recupere, só isso.
-         Não vai ser fácil, já estou avisando. Eu acredito em coisas boas, só não acho que seu Deus ajude em alguma coisa. Minha vida é uma merda, mas eu vejo coisas muito piores. Se supostamente somos filhos de Deus, que tipo pai deixa um filho morrer de fome? De sede? Que Deus é esse que deixa pedófilos e traficantes vivinhos e saudáveis e crianças puras,cheias de vontade de viver, como a Vitória, doentes com os dias contados para morrer? -  Fiz uma pausa para olhar a face de Bill que estava séria, e ele prestava atenção em cada sílaba que saía da minha boca. -  Não meu amigo, vai ser MUITO difícil você me provar que existe um Deus que se importa conosco. Se ele existe ele só se preocupa com o umbigo dele.
-         Você está certa.-  Disse calmo e sua resposta me fez ficar espantada. – Você tem razão em se questionar, mas isso é fruto do livre arbítrio. Deus não nos manipula como fantoches, Ele deu a liberdade de escolha para o ser humano, e as doenças e a maldade são fruto das escolhas feitas pelos homens. Enfim, nós teremos tempo, eu estou aqui para lhe ensinar, e não para lhe forçar, é algo que tem ocorrer naturalmente, e de certa forma eu também estou aqui para aprender com você. -  terminou se levantando e pegando as coisas da mesa para guardar. -  Você precisa de mais alguma coisa?
-         Não... não preciso, obrigada.-  Ainda estava pensativa e surpresa pela reação dele ao meu desabafo, ele parecia tão seguro de que iria me mudar, e não parecia estar com pressa. -  Bom eu preciso ir, a Lourdes deve estar me esperando já. Você pode ficar aqui se quiser.
-         Não, eu quero ir com você, posso? -  Pediu colocando as louças na pia.
-         Ta bom, mas lá é tão chato, você vai ficar entediado.
-         Não, não vou.
-         Você que sabe, mas se troca antes, eu vou me trocar e já venho.-  Me levantei da mesa e fui para meu quarto, coloquei uma calça jeans clara, um top preto, um cachecol lilás e um casaco de lã preto. Sai do quarto ele estava todo de preto e com seu sobretudo de couro, o cabelo estava intacto, para cima e avante. Deus como aquele punk era lindo!
-         Vamos? -  Perguntei o olhando de cima a baixo.
-         Vamos. -  Respondeu como uma criança animada para ir ao parquinho.

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