quinta-feira, 7 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 7

 Bill
Assim que chegamos à festa, conforme havia planejado, cheguei com o Tom e a Luiza veio com a Natalie, que, logo de cara, achou que era minha namorada. Quer dizer, sabia que tinha terminado com a Sofia e sabe-se lá como, descobriu sobre a Luiza. Apesar de ter uma vaga ideia de quem foi o linguarudo, ainda sim, prefiro não revelar a identidade, por mais que esteja óbvio.

Assim que passamos pelos fotógrafos, conseguimos entrar e não demorei muito para achar as duas. Só a reconheci porque a Natalie falava com ela, que estava virada de costas para mim. Os cabelos estavam trançados de um jeito um pouco displicente, mostrando as joaninhas tatuadas na sua nuca. Ainda ia perguntar se tinha algum significado. Usava um vestido roxo, que lembrava uma daquelas túnicas gregas. A saia era plissada e, mesmo sendo acima do joelho, era comportada. A Natalie me viu, deu um sorriso enorme (Que foi retribuído por mim) e, quando a Luiza se virou, meu queixo caiu, fazendo com que um dos cantos da sua boca se curvasse para cima. A Natalie disse alguma coisa e se afastou. Foi a minha deixa. Um garçom passou por mim e peguei duas taças. Fui até a Luiza e entreguei uma para ela, que agradeceu e, quando viu que eu estava inclinando minha taça na minha direção, perguntou:

- Brinde à quê, exatamente?

- Pode ser à nossa trégua. O que me diz? Vamos começar a trabalhar juntos e acho que ficar brigando feito cão e gata o tempo inteiro vai ser ruim.

Deu um sorriso torto ao me ouvir a chamando de gata.

- Quer saber? Não custa nada tentar. À trégua infinita. - Bateu sua taça de leve na minha. Sorri e cada um tomou um gole.

Depois de algum tempo, via o Tom lançando olhares furtivos para nós a cada segundo e dando aquele sorriso malicioso típico dele. A Luiza também via e sorria fraco.

O resto da festa foi bom. Quer dizer, tinha a necessidade de tocar a Luiza, nem que fosse simplesmente pegar brevemente no seu braço enquanto estávamos conversando. Por sorte, consegui me controlar. Assim que saímos da festa, um pouco altos por causa da bebida, falando as coisas mais absurdas que nos fazia quase chorar de tanto rir, ela disse:

- Quem no mundo ia imaginar que eu estaria dividindo um táxi com você?

- Como assim? - Perguntei, sem entender.

- Desculpa, mas nem na época que você... - Parou de dizer, deu uma olhada na direção do motorista e, se aproximando de mim, continuou: - ainda era um ilustre desconhecido que ninguém conhecia, eu acho que pegava táxi. Tem cara de quem andava a pé boa parte do tempo.

- E por que você acha isso?

- Sei lá. Só um pensamento total e absurdamente aleatório que me apareceu agora, por causa desse maldito cachorro sarnento dos infernos de meia tigela chamado álcool. - Riu da própria piada.

- Realmente. É bem aleatório. - Falei. Assim que chegamos ao nosso prédio, ficamos o tempo todo em silêncio até que chegamos ao nosso andar. Estava com a chave em mãos, pronto para destrancar a porta quando ouvi sua voz fraca me chamando. Me virei e por um único segundo, me arrependi de ter feito isso: Estava descalça, com aquela cara de pidona idêntica a do gato de botas do Shrek e o pior: Mordendo o lábio inferior e dando um meio sorriso.
- O que foi?

- Fica aqui comigo um pouco?

Um pedido desses e naquela situação... Era crueldade.

Tranquei minha porta e atravessei o corredor, vendo-a sorrir de um jeito tímido.

Assim que entrei no apartamento dela, como sempre, me ofereceu alguma coisa para comer ou beber. E como eu não estava no meu juízo perfeito...

- Na realidade, não quero comer e nem beber nada. O que eu quero é bem mais... Interessante que isso. - Falei, dando um meio sorriso e jogando charme para cima dela.

- E o que é?

- Você. - Respondi. Vacilou por um instante e confessei: - Desde aquele dia do mercado que não consigo te tirar da minha cabeça. E só piorou depois que terminei com a Sofia. Sei lá, estava vendo que o caminho estava livre e queria me arriscar, mas estava com medo.

- Medo de quê?

- Ser rejeitado por você.

Me olhou, surpresa.

- Não seria. - Confessou.

- Tem certeza? Pelo que eu vi quando você agarrou o Tom, na manhã seguinte àquela ida à boate...

- Foi para te fazer ciúmes. - Despejou, me deixando de queixo caído. - Queria que você me notasse e... Sei lá, às vezes por um golpe de sorte do destino, você simplesmente parasse de brigar comigo. Eu vi o jeito que você fica com os outros e a sua postura comigo. Queria que me tratasse melhor. Só isso. Eu sei que foi uma tremenda infantilidade da minha parte, reconheço isso e te peço desculpas por ter agido daquela maneira. Sou mais do tipo que age e depois que percebe que as consequências foram as piores possíveis, se arrepende amargamente de não ter pensado na hora certa.

Se era possível, meu queixo caiu ainda mais.

- Fala alguma coisa, pelo amor de Deus! - Disse; Sua voz estava uma oitava acima do normal e num volume meio... Impróprio para aquela hora.

A olhei e, num movimento rápido, dei poucos passos até ficar de frente e muito perto dela. Passei um dos meus braços pela sua cintura e eliminei a distância mínima entre nós. Percebi que, à medida que ia me aproximando meu rosto do seu, ficava um pouco mais alta. Ergui uma das mãos e toquei seu rosto, vendo-a fechar os olhos por causa do gesto. Abriu um pouco a boca e, encostando a minha brevemente, falei:

- Estou apaixonado por você, Iza.

Ia abrir os olhos quando a beijei. De início, foi calmo. Me aproveitando do fato que sua boca era carnuda, vez ou outra a mordia de leve. Não demorei a sentir uma das suas mãos indo para a minha nuca enquanto a outra estava apoiada sobre meu ombro.

Não conseguindo me contentar depois de alguns minutos, comecei a dar indícios do que queria e, para minha sorte, ela atendeu prontamente, abrindo a boca um pouco mais, dando a chance para que o beijo ficasse mais... Intenso. Apertava sua cintura de leve enquanto a sentia arranhar minha nuca de leve. A puxei para mais perto, deixando nossos corpos completamente colados e, quando dei por mim, uma das suas mãos estava sobre o passador de cinto da minha calça. Sentindo que não ia conseguir me controlar se continuássemos, diminuí a velocidade do beijo, o finalizando com alguns selinhos demorados e mordidas leves no seu lábio inferior. Eu mal sabia que parar seria pior ainda; uma vez que, quando abri os olhos, ela também o fez e vi que estava ainda mais linda, com os olhos brilhando, bochechas coradas e a boca ainda mais carnuda e vermelha.

- Fica aqui hoje... - Pediu.

- Isso tudo é vontade de me ter por perto? - Brinquei, vendo-a rir fraco.

- Também.

Sorri e a segui até seu quarto.

Antes de o sono nos vencer por completo, ficamos em silêncio, virados um de frente para o outro. Eu brincava com suas mãos, distraído, e ela me fixava. Aos poucos, via que seus olhos, que já eram pequenos, iam ficando ainda menores conforme o sono ia tomando conta dela.

- Dorme. Não vou a lugar nenhum. - Falei.

- Promete?

Assenti e ela atendeu ao meu pedido.

Na manhã seguinte, acordei com a cabeça estourando. Sentia que estava com o braço envolto numa cintura fina e me perguntei, por um instante, quem seria aquela garota que estava comigo. O mais estranho é que estávamos usando roupa. Quer dizer, desde que terminei o namoro com a Sofia, andava dormindo casualmente com garotas que eu encontrava nas festas ou quando saía. E sempre tinha um sentimento estranho. Parecia culpa, mas eu não conseguia entender o porquê, já que estava solteiro. E o sentimento só fazia aumentar quando a Luiza me via chegando ou alguma menina saindo do meu apartamento na manhã seguinte.

Por um instinto muito estranho, puxei a garota para mais perto de mim e senti um cheiro muito bom. Era doce, mas não muito. Respirei fundo e percebi que começou a se mexer. Abri os olhos e vi um coque mal feito e solto (Só havia enrolado os cabelos como se fosse um coque), castanho-escuro e liso. Em seguida, vi as tatuagens de joaninha e não contive um sorriso.

- Guten morgen, liebe. - Falei, com a boca próxima ao seu ouvido e vendo sua pele arrepiando. Sem falar que ela estremeceu levemente.

- ‘Morgen. - Disse, em meio a um bocejo enquanto espreguiçava. Em seguida, resmungou em português: - Ai que ótimo!

- O que foi?

- Dormi de vestido. - Respondeu, me olhando e sorrindo fraco. - Agora parece que estava na boca da vaca. - Resmungou, batendo na própria coxa, tentando desamassá-lo e me fazendo rir.

- Não imaginei que se importasse... - Comentei, displicente.

- Me importo porque é incômodo, venhamos e convenhamos. Espera aí que eu vou trocar de roupa e já volto. - Disse, se levantando e indo até a cômoda. Pegou uma camiseta e algo que me pareceu um short. Em seguida, foi até o banheiro e perguntou, de lá de dentro: - Me ajuda a fazer o café da manhã?

- Claro. - Respondi. - Mas se quisesse, eu mesmo poderia fazer tudo.

- Até parece que eu ia te deixar fazer tudo sozinho! – Respondeu. Ouvi o barulho da chave e em seguida, saiu.

- Não tem medo que eu te agarre? - Perguntei, ao ver o tamanho dos seus shorts.

- Eu não vou usar burca, me desculpa. - Brincou, me fazendo rir.

Alguns minutos depois, estávamos na cozinha, fazendo o nosso café da manhã e eu me divertia com algumas palhaçadas dela. Ouvia uma música e mexia a cabeça discretamente, no ritmo da música. Parecendo se esquecer que eu estava ali, a ouvi cantando e tinha que dizer que, ainda que fosse de um jeito tímido, gostei da sua voz:

It was the night before,
(Foi na noite anterior)
When all through the world,
(Quando tudo através do mundo)
No words, no dreams
(Sem palavras, sem sonhos)
Then one day,
(E então, em um dia)
A writer by a fire
(Um escritor perto de uma lareira*)
Imagined all of Gaia
(Imaginou toda a Gaia)
Took a journey into a childless heart
(Foi para uma jornada em um coração sem infância)

Na hora em que vinha o refrão, era quando exagerava nas caras e bocas. Assim que tive uma brecha, perguntei:

- Se você realmente não gosta dessa cantora, então por que está cantando a música?

- Primeiro: Desde que ela entrou no lugar da Tarja, tiveram pouquíssimas músicas que eu gostei. Essa é uma delas. Mas ainda sim, não consigo gostar dela, nem como cantora. Sei lá, a acho muito... Pop para uma banda de metal. Ainda mais quando essa banda é o Nightwish.

Nessas horas é que eu ainda me assusto com minhas surpresas. Quer dizer, era de se esperar que ela, patricinha de primeira, que usa roupas cheias de babados, cor-de-rosa, rendadas, vira e mexe, aparece com salto alto (E enfeitados com laço), detestasse esse tipo de música, como a Sofia. Mas daí, ela simplesmente vira e fala que gosta de Scorpions, Within Temptation, Epica, Tarja Turunen... É inusitado, para dizer o mínimo. Na maioria das vezes, vi os metaleiros usarem roupas escuras, coturno, braceletes com tachas (Parecido com as coisas que eu uso de vez em quando) e o único indício que a Luiza mostrava era o cabelo comprido, que chegava à cintura. E talvez a maquiagem carregada em algumas vezes que saímos em grupo. Afora isso... Nem em sonho imaginava o tipo de música que ela ouvia.

- Que raiva que tive dessa criatura bancando a Branca de Neve. Devia tomar antipatia de maçã só pela cara de “tia-velha-safada-comendo-maçã-com-cara-de-tarada”. - Resmungou. [n/a: Aconselho a ver o link. Nem tentando imaginar chega perto da realidade.]

Dessa vez foi impossível não rir alto.

- E você gosta de maçã? - Perguntei.

- Daria uma excelente Branca de Neve, xuxu. - Disse, brincando. - Mas falando sério... Gosto. E não associo a fruta à ela, que é a princesa que eu mais odeio. É sonsa demais!

- E associa a quê, então?

- Se importa se eu te disser numa hora em que não estiver quase pelada?

- Eva?

Concordou, ruborizando.

- Bom saber disso... - A provoquei.

- Sossega, tá? - Perguntou, me fazendo rir.

Quando tudo estava pronto, ela quis saber:

- Vem cá... Sou só eu que estou achando que o Tom e o resto do povo tão dando uma de cupidos para cima de nós?

- Não. Até tentei descobrir se tinha alguma coisa com o Georg e o Gustav, mas, não consegui.

- E então? Contamos para o Tom o que aconteceu ou não?

- Acho que melhor que contar... É mostrar. - Disse, vendo-a fazer uma expressão que era entre a diversão e a curiosidade. Pelo visto, ela aceitaria. E meu irmão mal perderia por esperar...

Postado por: Grasiele

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