quinta-feira, 7 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 1

Bill
Estava namorando a Sofia havia dois anos. Estava feliz, ainda que ela não fosse a garota com quem eu havia sonhado nos últimos anos. Quer dizer, era linda, carinhosa e vivia dizendo o quanto era apaixonada por mim. Só que, por mais que tentasse, não conseguia corresponder totalmente aos seus sentimentos.
A Sofia era a amiga da Elise, namorada do Georg. Nos conhecemos em uma festa e, desde o início, havíamos gostado um do outro. Logo, continuamos a nos ver e quando percebi, estávamos dentro do meu carro, nos beijando em frente à casa dela. Pouco tempo depois, a pedi em namoro e desde então, estávamos juntos.
E assim, aos poucos, foi fazendo minha cabeça e conseguiu me convencer a sair de casa e irmos morar juntos. O lugar escolhido foi um apartamento, do tamanho certo para nós dois, em um bairro sossegado, perto de onde meu irmão morava. Tínhamos quase tudo perto (Farmácia, mercado e até uma clínica veterinária) e logo que chegamos, vi que tinha um antigo palacete cor-de-rosa onde funcionava de jardim de infância que ficava do outro lado da rua.
No meio da tarde, enquanto a Sofia trabalhava, fiquei encarregado de ir ao mercado. O Tom aceitou ir comigo e achei estranho, mas não falei nada. Foi até melhor, porque teria ajuda para carregar as compras.
Quando estávamos passando por uma sessão qualquer, estava distraído e acabei batendo o carrinho no de outra pessoa. Tinha me estressado porque a Sofia me ligava a cada cinco segundos e sem querer, acabei sendo grosso com a garota à minha frente:
- Ei! Não olha por onde anda?
- Eu? - Perguntou, debochada. - Você que tromba no meu carrinho e eu que levo a culpa?
Parei para olhá-la e digo sinceramente que ela me deu medo; Parecia que estava vendo um fantasma e ia ter um treco a qualquer minuto.
Arqueou a sobrancelha e disse, empinando o nariz:
- Tudo bem. Deveria ter imaginado que esse mercado era só para estrelas do rock que se acham a gema do quindim só porque são famosas.
Encarei a garota, chocado com sua ousadia.
- Quem você pensa que é para falar assim comigo? - Perguntei, irritado.
- Eu que te pergunto! Está achando que pode ser grosso desse jeito só porque é conhecido? O fato de você ter fama não te faz melhor que ninguém. E com licença que tenho mais o que fazer que ficar aqui, batendo boca com um cara de calça justa. Boa tarde. - Disse, se afastando. Olhei para a garota, surpreso com a sua atitude.
- Bill? - A voz do Tom me chamou a atenção. - O que houve?
- Uma maluca que trombou com o meu carrinho e ainda me disse uns desaforos! - Contei, vendo-o rir.
Estava na sessão de frios, procurando por uma daquelas pizzas de calabresa, que eu sabia que a Sofia gostava, quando vi a maluca do carrinho mexendo em um dos freezers. Vi que segurava uma embalagem justamente do sabor que eu queria. Assim que se afastou dali, fui procurar outra pizza e descobri que aquela que a doida tinha pegado era a última. Respirei fundo, tentando manter a calma, e terminei de fazer as compras.
Quando acabamos de colocar as sacolas no chão do elevador, ouvimos uma voz fina, pedindo para que esperássemos e, quando a menina entrou, nos olhamos e resmungamos ao mesmo tempo; Era a maluca do mercado.
- Você mora aqui? - Perguntamos ao mesmo tempo e com a irritação evidente nas nossas vozes. Sabia que o Tom estava querendo rir daquela situação.
- Sou Tom. - Ele disse, esticando a mão para ela. A garota o olhou e respondeu, sorrindo de canto, apertando a mão dele e me fazendo revirar os olhos:
- Luiza. Mas pode me chamar de Iza. E eu sei quem vocês são. Você mora aqui? - Quis saber, fixando meu irmão.
- Não. Sou eu. - Respondi, azedo. - Eu, minha namorada e um dos meus cachorros.
Arqueou a sobrancelha e, nessa hora, seu celular começou a tocar. Mexeu na bolsa até encontrar o aparelho e o atendeu, conversando em inglês e em um volume de voz normal. Chegamos ao meu andar e o Tom, num surpreendente ato de cavalheirismo, segurou a porta para a garota passar e qual não foi minha surpresa ao descobrir que ela era minha vizinha de porta? Depois que entrou, indiquei para o Tom o pentagrama¹ preso perto da placa com o número do apartamento:
- Eu sabia! Essa garota é demoníaca! - Falei.
- Só por causa do pentagrama?
- Você não viu como ela me tratou. Essa garota é o capeta de saia! - Reclamei, fazendo meu irmão rir.
- Você está exagerando. E ela não me pareceu tão má assim.
- Por que você não viu o jeito dessa menina! Tom, escuta o que eu estou te falando! Ela é diabólica. Não vou nem me surpreender se ela for que nem a Megan Fox naquele filme e literalmente comer os caras depois de seduzi-los!
- Bill, não viaja! E vê se não quebra o pau com a sua vizinha. - Disse, antes de começar a tirar as compras da sacola.
No final da tarde, tinha acabado de sair do banho e estava fumando enquanto observava o movimento da rua quando comecei a divagar e, antes que pudesse evitar, comecei a pensar na minha vizinha. Nunca tinha encontrado uma garota como aquela. Por mais que, fisicamente, fosse como qualquer outra, havia algo que a fazia diferente do resto. Sem falar que foram poucas as meninas que tinham agido... Daquela maneira. E obviamente não pude evitar compará-la a Sofia; Enquanto minha namorada era loira, tinha olhos cinza-azulados, detestava piercings e tatuagens, amava vestidos, saltos e maquiagens, odiava jeans e tênis tipo Converse. E minha vizinha... Era o oposto: Cabelos escuros e com aquela aparência de quem os lavou e saiu de casa, deixando os fios secarem naturalmente, olhos castanhos, tinha um piercing no nariz (Não no septo como o meu, mas aquele brilhante pequenininho na “aba” do nariz, do lado direito), estava com a calça que minha namorada mais detestava, All Star preto e sem um pingo de maquiagem que fosse, além de um brilho labial discreto. Era bonita, não tinha como negar. Quer dizer, eu havia reparado três coisas nela: A boca (Sendo carnuda e vermelha, não tinha como não notar), as mãos perfeitas e os olhos. Seu olhar era um pouco triste e, por um instante, me peguei pensando no porquê de uma garota como ela parecer tão... Infeliz.
De repente, as vozes de crianças me despertaram dos meus devaneios e quando vi o grupo, me surpreendi ao ver que a líder era minha vizinha. As crianças marchavam e cantavam uma música:
1, 2, 3, 4
Arroz com feijão no meu prato
5, 6, 7, 8
De sobremesa, quero comer biscoito
Logo, minha vizinha pediu que só as meninas cantassem:
Se você quiser ser meu namorado
Tem que ser legal com minhas amigas
Fazer durar para sempre
A amizade nunca acaba
Ri ao ouvir aquelas vozes fininhas cantando Spice Girls. Em seguida, a minha vizinha pediu que só os meninos cantassem:
Estive com você por tanto tempo
Você é meu raio de sol
E agora preciso saber se meus sentimentos são verdadeiros
Eu realmente te amo
Oh, você é minha melhor amiga
De repente, minha vizinha bateu palmas ritmadas e meu queixo caiu quando a ouvi puxando o coro de “Hey you” com as crianças. Entraram na escola e quase imediatamente, ouvi o barulho das chaves da Sofia. Apaguei o cigarro e senti os braços da minha namorada envolvendo minha cintura e logo em seguida, beijou meu ombro e perguntou, vendo nossa vizinha subindo as escadas com as crianças:
- Querendo uma delas?
Tive a estranha vontade de responder: “Sim, a mais velha do grupo, que estava comandando o coro das crianças”.
- Estou só olhando. - Foi o que respondi. De repente, me ocorreu uma curiosidade: - Você tem vontade de ter filhos?
Pelo canto do olho, a vi franzir o nariz e negar com a cabeça.
- Dão trabalho demais, despesas demais... Sem falar que a gravidez deforma o corpo. Mas o pior de tudo mesmo é quando dão birra em plena loja de brinquedos. Se jogam no chão, esperneiam, choram e gritam só para conseguir a atenção da mãe, que é idiota e cede às vontades do monstrinho. Por isso também que não suporto crianças. - Respondeu.
Nessa hora, percebi que a minha vizinha estava de mãos dadas com uma menina que parecia um anjinho, loira de cabelos cacheados. As duas entraram no banheiro e nesse instante, ela teve um ponto a seu favor. Principalmente porque era evidente que tratava a menininha com extremo carinho e cuidado.
Senti a mão da Sofia deslizando pela minha barriga até alcançar o elástico da boxer que saía sob o cós da minha calça de moletom. Tudo aquilo que havia me dito sobre crianças ainda ecoava na minha cabeça e de certo modo, aquilo me causou uma estranha e repentina repulsa.
- O que foi, Bill? - Perguntou, quando afastei sua mão.
- Lembrei que tenho uma reunião com o pessoal agora. Mais tarde a gente se fala, tá? - Perguntei, me forçando a dar um beijo na sua testa.
Acabei ligando para o meu irmão e passamos um bom tempo conversando. Perguntou, antes de tomar um gole da sua cerveja:
- Será que seu foco mudou de... Alvo? Para o apartamento da frente, para ser mais exato?
Pensei com cuidado na resposta. Dei uma tragada no meu cigarro e disse:
- Eu pensei nisso. Quer dizer, tirando a parte do chilique no supermercado e o ar de prepotência... Dava até para tentar alguma coisa.
Olhei para o meu irmão, que fazia aquela expressão maliciosa.
- Deu para ver que você gostou dela... Quer dizer, ela não me pareceu tão má assim. Pelo contrário...
- Lógico! Ela ficou jogando charme para você!
- E se ela estivesse tentando fazer ciúmes? Pior é que eu estou vendo que funcionou...
- Tom, não viaja!
- Não estou. E vi o jeito que ela ficou te olhando.
- Sabe o que acho? Que está na hora de você parar de beber antes que comece a alucinar mais ainda. - Falei, tirando a garrafa da sua mão.
- Alucinar por causa de cerveja? - Perguntou, rindo. De repente, meu celular começou a tocar e já sabendo quem era, resmunguei impaciente. Ignorei a chamada e o Tom quis saber:
- Quer ficar aí?
A oferta era tentadora demais. Mas tive que recusar. Porém, quando ela me ligou pela sexta vez em cinco minutos, decidi que o melhor a se fazer era aceitar o convite dele.
Quando voltei para a casa, na manhã seguinte, a Sofia já estava me esperando, com aquela cara de poucos amigos, pronta para começar a reclamar comigo por ter passado a noite fora.
- ONDE É QUE VOCÊ SE ENFIOU, BILL? TENTEI TE LIGAR A NOITE INTEIRA, VOCÊ NÃO ME RESPONDIA DE JEITO NENHUM!
Revirei os olhos e ela continuou gritando comigo.
- Aposto que você estava com alguma vagabunda! Fala, vai!
- Quê? Sofia, não viaja! Nunca te traí!
Deu um riso sarcástico e disse:
- Ah, Bill, vai! Você passa a noite inteira longe de casa e ainda quer que acredite que não estava com outra? Bill, eu não sou idiota!
- Estava na casa do Tom. Fui para lá justamente para evitar essa discussão que estamos tendo agora. Você só vive com cobrança para cima de mim, o tempo inteiro quer me controlar e nem me deixa respirar um pouco!
- Eu não te deixo respirar? Você simplesmente some a noite inteira e ainda quer que eu não me preocupe? Desculpe se eu gosto de você, Bill.
A discussão durou quase a noite inteira e tudo o que ela conseguiu foi me dar aquela dor de cabeça por causa da irritação e toda a chateação que tinha me dado. Decidi dormir na sala mesmo. Era bom a Sofia parar de me encher tanto a paciência, senão ia acabar terminando com ela.
Na manhã seguinte, quando estava saindo para ir até o estúdio, já que o David tinha marcado uma reunião, nem bem destranquei a porta e vi que a minha vizinha da frente estava saindo também. Não resistindo à tentação, a provoquei, enquanto estávamos esperando o elevador:
- Estava pensando... Não sei por que me surpreendi ao ver o pentagrama pendurado na sua porta.
Me olhou, sem entender e, uma fração de segundo depois, me disse:
- Pois é... Que isso te sirva de aviso para não mexer comigo .Tenho certeza que a sua namorada não vai querer te beijar para te fazer deixar de ser sapo e voltar a ser um cara... - Respondeu, dando um sorriso torto. - Vai saber com que tipo de magia eu lido, não é?
O elevador chegou e, depois que a deixei passar, em um ato única e exclusivamente de educação, falei:
- Esconde aquele narigão com verruga na ponta através de magia, não é?
- Pois é. Já tentei com cirurgia plástica, mas não deu certo...
Por mais bizarro que isso possa soar... Estava divertido. Ainda mais que era óbvio que eu não era o único a gostar daquela conversa estranha...
- Só... Não enfeitiça o Tom, tá? - Pedi, ainda brincando.
- E por que enfeitiçaria? O único que me irrita é você.
Dando um meio sorriso, saiu assim que o elevador parou na portaria. É... Acho que o Tom tinha razão, no final das contas.
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¹ De acordo com a crença, pentagramas servem para proteção. E, segundo as bruxas, não têm qualquer relação demoníaca, mesmo que de cabeça para baixo.

Postado por: Grasiele

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