quinta-feira, 7 de junho de 2012

The Neighbour - Capítulo 2

 Tom
Tinha que admitir que a Iza era realmente uma ótima amiga e não tinha como não se apaixonar por ela. Por sorte, estava conseguindo nutrir só um sentimento de amizade por ela. Quer dizer, vendo o jeito que ficava quando falava do meu irmão, o brilho no seu olhar, aquele sorriso besta de quem está apaixonado, mesmo que o Bill seja um idiota com ela o tempo inteiro, não tem como não torcer para que ele deixe de ser tão criança e perceba que a Iza vale mais a pena que a Sofia, mesmo falando toda aquela baboseira sobre signos incompatíveis. É... Viver do lado de dois românticos e sonhadores incorrigíveis dá nisso: Você acaba se contagiando.

É engraçado, de certo modo, pensar como nos tornamos amigos. Quando a encontrei no elevador, junto ao meu irmão, percebi os olhares disfarçados que um dava na direção do outro. E foi nesse instante que decidi dar uma de cupido. Afinal, haja saco para aguentar toda aquela ladainha do Bill sobre nunca encontrar o amor da vida dele e etc.!

De início, foi meio dura na queda, mas aos poucos, consegui conquistar a confiança dela. E de certo modo... Também conquistou a minha. Aos poucos, à medida que íamos nos conhecendo melhor, percebia que realmente era diferente das outras garotas e, se fizesse meu tipo, já teria a pedido em namoro. Quer dizer, óbvio que eu me aproveitava de algumas oportunidades que surgiam, apanhava ou tomava xingo depois, mas ainda sim, ela não conseguia ficar brava comigo. Ainda mais que ver a cara de bunda do Bill nos observando era ótimo, não havia como negar.

Muitas vezes, falava umas coisas tão... Inesperadas que só me restava rir. Ainda mais por causa das caras, bocas e comentários que fazia. Era de alguém assim que o Bill precisava.

O mais curioso foi o dia que apareceu uma barata na sua cozinha enquanto eu estava lá. Surpreendentemente, a Iza não deu escândalo, não subiu na cadeira e nem estourou meus tímpanos tentando me pedir para dar um jeito na barata. Simplesmente pegou o inseticida, jogou no inseto e, depois de pegar a vassoura e a pá, jogou a “defunta” (Como ela mesma disse), no vaso sanitário de um banheiro que construíra perto da cozinha. A única reação que vi foi uma leve franzida de nariz. Fora isso... Só me pediu para segurar a sua gata enquanto dava um jeito na barata.

Tinha perdido a conta de quantas vezes a surpreendia cantando e dançando, fazendo palhaçada, enquanto cozinhava. Nessas horas, tinha certeza de que ela e o meu irmão se dariam bem, caso tivessem se esbarrado em outras circunstâncias.

E justamente numa manhã em que cheguei à sua casa, a peguei no pulo, cantando uma música animada. Ela também estava no mesmo ritmo, fazendo uma dança¹... Meio estranha, ainda mais que estava com as mãos ocupadas.

- Fica fazendo esse monte de doce que, se eu não virar diabético, fico gordo. - A assustei, fazendo com que desse um gritinho agudo e, logo depois, me sujasse de espuma; Não podia ter escolhido hora melhor para isso: Justo a de lavar a louça.

- Mereceu. - Se justificou. - O médico receitou que você me assustasse dessa maneira?

- Não. - Falei, rindo daquilo. Tinha me explicado que seu avô dizia isso nas situações que realmente mereciam o comentário, como aquela.

Passados alguns breves instantes, a ouvi cantando, com sotaque britânico... Bonitinho:

Though I'm walking...
(Embora eu esteja andando...)
Through the shadows...
(Através das sombras...)
You are with me...
(Você está comigo...)
And you comfort me
(E você me conforta)

Lay me down now...
(Me deite agora...)
Time for sleeping...
(Hora de dormir...)
but before that ...
(Mas antes disso...)
would you restore me?
(Você me curaria?)

Before I... Pluck your wings,
(Antes que eu... encaixe suas asas)
Cover me, please
(Me cubra, por favor)
Spread your wings... cover me and...
(Abra suas asas... Me cubra e...)

Promise this...
(Prometa isso...)
If I die before I wake
(se eu morrer antes de acordar)
Oh, Promise this...
(Oh, prometa isso...)
Take a time to say your grace.
(Tome um tempo para dizer sua graça)
On your knees you pray for me.
(De joelhos, você reza por mim)
Promise this...
(Prometa isso...)
Be the last to kiss my lips.
(Seja o último a beijar meus lábios)

A olhava, pensando nas palavras que cantava. Quer dizer, se encaixava perfeitamente para nós. Sei que é loucura, porque sei que ela é a fim do meu irmão, eu gosto dela como amiga e é recíproco. Mas ainda sim, se eu tivesse a chance...

- Cara, eu estava pensando... - Comecei a dizer, mas me olhou de uma maneira que deu medo. Garanto que o Bill nunca tinha ganhado uma olhada dessas.- Quê?

- Cara? Eu tenho peito, não pinto! - Reclamou, me fazendo rir, principalmente do jeito.

- Ô mulher...

Bateu o pano de prato no meu ombro, me fazendo rir.

- Decide como quer que te chame!

- Já sabe qual é meu apelido. E se vier com “velho”, juro que te dou uma bordoada nessa orelha que nunca mais vai poder usar esse... Essa coisa aí. - Disse, indicando o meu alargador.

- Ih... Tá toda bravinha... Olha que mais um pouco e não me seguro, hein? A situação já tá bem crítica com esse seu short de malha que não é Deus, mas é justo, hein?

Revirou os olhos, querendo rir e disse:

- No que você estava pensando? E para de olhar para minha bunda!

- Já falei que tá difícil. Enfim, tinha pensado em fazer tipo uma sessão de cinema lá em casa. O que você acha? Pensei em chamar o Andreas, o Georg, o Gustav, a Elise e a Karin.

- Essas duas seriam...?

- As respectivas namoradas do Georg e do Gustav. São gente fina. Vão gostar de você e te garanto que vai gostar delas.

- Nada de me obrigar a ver filme de terror, hein? - Perguntou, apontando um dedo para mim.

- Se você tiver medo, pode me agarrar que eu deixo. - A provoquei, brincando com o piercing.

- Ah tá... - Falou, debochada e naquele tom de pouco caso.

- Despreza, vai... Se eu te pegar de jeito, garanto que muda de ideia rapidinho.

Revirou os olhos e continuei ali com ela pelo resto da tarde.

Lá pelas três e pouco, começamos a ver um daqueles filmes melosos, típicos de garotas como ela.

- Sinceramente, não consigo entender como tem pessoas que gostam dessas porcarias. - Disse, fazendo-a me olhar. - Ah, Iza, vai tomar banho! Esses filmes fazem uma lavagem cerebral nas mulheres, fazendo com que elas acreditem que a vida real é assim.

- “Vai tomar banho”? Não tem noção do perigo, não é?- Perguntou, atirando uma almofada em mim.

- Que perigo? - A provoquei. Tomei outra almofadada e, por fim, perguntei: - Vamos fazer alguma coisa hoje à noite?

- Tipo? - Perguntei.

- Tem a inauguração de uma boate.

- Ai, Tom... - Disse, fazendo manha.

- Quê?

- Não sou muito fã de boates. Fui uma vez para nunca mais.

- Por quê?

- Te digo sinceramente que não gostei. Não é o tipo de música que eu gosto.

- Porque provavelmente a boate não era boa.

- Porque obviamente eu prefiro um show de rock a música eletrônica.

Respirei fundo e disse:

- Vai ser divertido, anda...

- Sabe o que me tira do sério? Pessoas insistentes. E te garanto que você não vai querer conhecer meu lado negro.

A olhei, fingindo procurar o tal lado negro e perguntou, curiosa:

- O que você está fazendo?

- Procurando esse seu tal lado negro.

Suspirou, impaciente e lá veio mais almofadada.

- Sério, se quiser, vou com você ao teatro, cinema, comer pizza... Menos ir a boate.

Foi minha vez de suspirar. Desisti, mas por hora.

Cerca de uma semana depois, tinha acabado de abrir a porta e, assim que passou pelo portal, perguntou:

- E aí? Como está a operação cupido com o Bill e a...

- Luiza. - Respondi, trancando a porta. Fiz sinal para que me seguisse até a cozinha. - E eu vou precisar de ajuda, Georg. É impressionante o quanto os dois se parecem. Dois cabeças-duras.

Riu e perguntou:

- O que está pensando em fazer?

- Para o plano A... Um ataque mais sutil, usando coisas bem clichês, tipo falsificando as letras de cada um e escrevendo bilhetes apaixonados um para o outro.

- E o plano B?

- Atitudes drásticas. Tipo trancar os dois em uma sala e só soltá-los na manhã seguinte. Isso depois de fazer com que ingiram bastante álcool para ajuda-los a se desinibirem. Afinal, como dizem: Entra o álcool, sai a verdade. E, neste caso específico da Luiza e do Bill... A verdade é positiva.

- Posso te ser sincero? Faria algumas adaptações nos planos A e B.

- Alguma ideia?

Sorriu e começou a contar. Até que ele deu boas ideias para me ajudar.

Uns dias depois, quando estava numa reunião com o Jost, aproveitei que fiquei sozinho com ele e perguntei:

- Posso falar com você?

- Aconteceu alguma coisa?

Concordei.

- Queria te pedir um favor. Lembra daquela vizinha do Bill de quem te falei a respeito?

Foi a vez de ele assentir com a cabeça.

- É estudante de jornalismo. Está quase se formando e, por isso, queria ajuda-la.

- E no que você pensou?

- Em duas coisas. A primeira é que ela tira algumas fotos incríveis. Se quiser, dou um jeito de pedi-las a ela e te mostro. Acho que seria interessante se fizéssemos um livro da turnê só com as imagens de shows, backstage, na passagem de som, dentro do ônibus... E a outra, acho que seria interessante se ela fizesse um documentário sobre a turnê, parecido com a Tokio Hotel TV, mas, de certo modo, diferente. Eu sei que ela vai acabar inventando algo que vai realmente ser... Surpreendente.

Se encostou na sua cadeira e, cruzando os braços, perguntou:

- E por que, exatamente, você está me pedindo isso?

- Quero fazer com que ela fique com o Bill.

- Mas ele está com a Sofia.

- Pois é. Mas eu sei que ele não gosta tanto assim dela. Várias vezes, me disse que quer terminar, mas não consegue porque ela sempre dá um jeitinho de enrolá-lo. E te digo com toda a segurança e sinceridade que vai dar mais certo com a Luiza do que com a Sofia. Ela é fã nossa...

Me olhou, interessado.

- E seu irmão gosta dela?

- Tão se estranhando um pouco porque começaram com o pé esquerdo. Mas dá para ver que ali tem coisa.

- Quero conhece-la antes de tomar qualquer decisão. Quero saber exatamente com quem estou lidando para não acabar com a carreira de vocês.

Concordei e garanti:

- Olha, pelo que eu já conheço dela... Posso te garantir que não é como as meninas que costumam se aproximar de nós. A prova disso é que o Bill bateu no carrinho dela e, em pleno supermercado, a Iza deu aquele esporro no meu irmão.

O Jost tinha uma expressão que era um misto de curiosidade e diversão.

- E ele? - Quis saber.

- Obviamente, não gostou. Desde então, fica implicando com ela, que quase sempre, responde à altura. David, sério, precisa ver a Iza discutindo com o Bill. É rara a vez em que ela fica sem resposta.

Arqueou as sobrancelhas, surpreso.

- E sua mãe já sabe da Luiza?

Assenti.

Passei mais alguns minutos ali dentro e, por fim, o Jost me deu a notícia que eu tanto estava querendo: Dali a alguns dias, teríamos que ir a uma premiação em Berlim e disse que, se quisesse, poderia levar a Luiza. Seria uma ótima oportunidade para eles se conhecerem, sem falar que podia começar a executar meu plano de juntar a Luiza com o Bill. Ao mesmo tempo, ia conseguindo aliados para conseguir ser bem sucedido com tudo. Até minha mãe e o Andreas seriam meus cúmplices.

Numa tarde que tinha ido até o apartamento do Bill, meu irmão tinha saído, mas a Sofia estava lá, com cara de poucos amigos, como se soubesse o que eu estava aprontando. Me tratou com desprezo e foi seca nas poucas vezes que conversou comigo. Quer dizer, falou o estritamente necessário (“Oi”, “Quer alguma coisa?”) e, logo depois, foi para o quarto, me deixando sozinho na sala.

Quase uma hora depois, o Bill finalmente chegou e, assim que percebeu o que tinha acontecido, ficou furioso com a Sofia. Vendo que iam discutir mais uma vez, saí à francesa, cruzando o corredor e batendo a campainha do apartamento da frente. Justamente quando a Luiza abriu a porta, ouvimos um barulho alto e ela pediu:

- Traz o Bill para cá. Espero que a Sofia não tenha arrebentado a cabeça dele.

Imediatamente, fiz o que ela me pediu. Realmente, ela tinha acertado em termos: A Sofia tinha atirado alguma coisa no Bill, que, teve o azar de desviar e não conseguir escapar. Resultado: Estava com um galo enorme no cocuruto. A Sofia não queria me deixar tirá-lo dali e, por muito pouco, ela não apanhou. Quando viu para onde eu estava levando meu irmão, começou a dizer uns desaforos para a Luiza, que disse, surpreendentemente calma:

- Em primeiro lugar: Abaixa seu tom, porque você está na minha casa. Se quiser gritar, caça uma feira. Em segundo: Esfria a cabeça porque é o melhor que vocês dois fazem. E em terceiro: Volta para a sua casa porque ninguém te chamou aqui.

- EU GRITO O QUANTO EU QUISER! VOCÊ NÃO TINHA O DIREITO DE MANDAR O TOM TIRAR O BILL DA MINHA CASA! O BILL É MEU NAMORADO, NÃO O SEU!

- Sofia, para de gritar, porra! Minha cabeça tá doendo! - O Bill resmungou. De repente, a Luiza fez algo inesperado que nos deixou de queixo caído: Pegou a Sofia pelo braço e a arrastou para fora do apartamento. A Sofia, para não deixar barato, fez alguma coisa que não conseguimos ver muito bem o que era, mas que fez a Luiza revidar com AQUELE soco. Em seguida, ela (Iza) voltou e trancou a porta justo quando a Sofia vinha correndo. Vi que a minha amiga tinha dois arranhões na bochecha e fui correndo atrás dela, que tinha ido para o quarto. Chegando lá, perguntei:

- O que houve?

- Se a Sofia ousar cogitar na hipótese de sonhar em pensar em me bater de novo... Juro que eu deixo a pose de boa moça e dou um jeito de conseguir aquela liminar que a mantenha a uns... Cem quilômetros de distância de mim.

Tive que sorrir e, num instante, peguei a embalagem de água oxigenada das suas mãos e fiz a Iza se sentar sobre uma cadeira que tinha no seu banheiro. Pus um pouco em um algodão e o encostei sobre sua bochecha. Para minha surpresa, fez um escândalo.

- Você vê uma barata e fica quieta. Daí, eu cuido de você, usando um algodão embebido em água oxigenada e parece que o mundo tá acabando.

Riu torto e, de repente, nossos olhares se fixaram um no outro. Acompanhei o movimento que suas íris castanhas faziam e, quando dei por mim, estava acariciando sua bochecha. Lentamente, fechou os olhos e, misteriosamente atraído como se fosse um imã, me aproximei dela. Roubei um selinho demorado e, quando ia me afastar, senti sua mão sobre minha nuca e me puxou para perto. Não resistindo mais, aproveitei que separou os lábios para beijá-la. Depois de alguns breves instantes, comecei a dar sinais de que queria intensificar o beijo e, assim que ela me permitiu, a puxei pela cintura, deixando nossos corpos colados. Deixei uma das minhas mãos escorregar até sua bunda e, não resistindo, a apertei, recebendo um ofego como resposta. Justo quando ia fazer com que enroscasse suas pernas em volta do meu quadril, ouvimos um barulho e nos separamos. Quando fomos ver o que tinha acontecido, vi um movimento perto da porta e percebi o que tinha acontecido: O Bill tinha nos visto. É, até que minha falta de autocontrole funcionou...

Postado por: Grasiele

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