terça-feira, 1 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 29 - Amigo inimigo.

(Contado por: Aiyra)
Não tive paciência para assistir a qualquer aula. Sai do colégio sem que ninguém percebesse e caminhei um pouco pelas ruas. A todo instante a cena do beijo me vinha em mente e o coração acelerava como da primeira vez que nos beijamos. O Bill não me parecia o tipo de pessoa que gosta de enganar outras, mas seu pai me colocou tantas dúvidas na cabeça que chego a cogitar ser pura verdade. Ele também não insistiria tanto numa coisa, se estivesse totalmente errado.
Parei numa praça e me sentei num dos bancos, para continuar pensando. Logicamente ele deve ter culpa no cartório, mas não acho que faria isso sozinho. Digo, a desculpa de me usar como “boa influência” era um tanto quanto esfarrapada. E além do mais, não sou boa influência pra ninguém, muito pelo contrário. É bem capaz que eu seja a segunda pior influência pra alguém. Minhas atitudes comprovam esse fato.
Avistei de longe um bar. Eu estava mesmo querendo distrair qualquer pensamento, e que lugar melhor do que aquele? Faz um bom tempo que não entro num lugar assim, e estava precisando beber alguma coisa. Me levantei e andei em direção a entrada. Olhei para os dois lados da rua, conferindo se vinha algum veiculo e atravessei. Empurrei a porta, e só vi homens no estabelecimento. Era um local com pouca iluminação, várias mesas e uma música esquisita tocando. Um típico bar de cinema americano. Me aproximei do balcão, onde havia um rapaz que aparentava ter de vinte à vinte e cinco anos. Ele secava com um pano branco alguns copos de cerveja.
- Bom dia moça. – diz o garçom. – Vai querer alguma coisa? – continuava secando os copos.
- Hm... – pensei um pouco. – Me vê tudo que você tiver nesse bar.
- Não acha que está muito cedo para beber? – pergunta ele. – E está sozinha. Como vai embora depois?
- Estive sozinha uma boa parte da minha vida e não será agora que terei alguém comigo. – disse. – Porque, aliás, independente do que você faça ou diga, uma hora ou outra as pessoas simplesmente te deixarão. – ele deu uma leve risada. – E se você quiser depois se sente comigo e vamos beber até ficarmos loucos!
- É pra já moça.
O belo rapaz me serviu uma bebida um tanto amarga, num copo pequeno. Devo ter repetido umas quatro a cinco vezes, antes de passar para a próxima. Em poucos minutos, eu já estava ficando bêbada. Comecei a conversar com os homens que ali se encontravam, e em questão de segundos viramos velhos amigos de infância, compartilhando frustrações de uma vida cruel.
Ao som dos Beatles, dancei sobre a mesa. Quase fiz um strip-tease e nunca tinha me divertido tanto quando naquele dia. Um dos rapazes se disponibilizou a me ensinar a jogar sinuca, mesmo sabendo que eu não me lembraria de muita coisa no dia seguinte. Jogamos baralho apostado e ganhei duas das quatro partidas. Bebi mais um pouco, ou melhor, mais um tanto.
Em certo momento da tarde, meu estômago estava entupido de bebida. Minha bexiga cheia fez com que eu fosse ao banheiro esvaziá-la. Fui cambaleando, trocando as pernas, me segurando em tudo que via pela frente. A alma caridosa do garçom bonitão me acompanhou até lá. Ele me colocou dentro de uma das cabines do banheiro e aguardou do lado de fora. Fiquei impressionada com a quantidade de urina que saia parecia não querer mais terminar.
- Não quer acabar! – quase gritei, meio que desesperada. Ouvi a risada dele do lado de fora.
- É normal, já que você bebeu muito.
Abri a porta e seus braços me ampararam antes que eu pudesse cair. Eu não conseguia me agüentar de pé, e a solução que ele encontrou foi me colocar sentada no chão do banheiro. Eu soluçava e mesmo estando bêbada, conversava.
- Você é muito bonzinho, sabia? – disse. – Não poderia estar solteiro.
- Mas eu não disse que era solteiro.
- E sua namorada deixa você segurar outras garotas assim?
- Na verdade, eu sou solteiro. – eu ri, e ele se senta ao meu lado. – E o seu namorado sabe que você freqüenta esse tipo de lugar?
- Não. – respondi, balançando a cabeça. – Mas ele é um idiota que me enganou! Ele só queria me usar. E adivinha só?! Ele transou comigo!
- Que história triste.
- Mas quer saber de uma coisa? – olhei pra ele. – Eu o amo. Eu amo o Bill. Ele... É o maconheiro mais charmoso que eu já vi em... Toda minha vida. – solucei. – E eu...
Antes de terminar a frase, não me controlei e vomitei. Coloquei toda a bebida para fora, sujando toda minha blusa. O cheiro forte tomou conta do lugar.
- Ops. – disse. – Acho que me sujei.
- Ah, droga! – imediatamente ele se levanta, pega unas toalhinhas de papel e molha na água da torneira. Volta até mim e tenta me limpar. – Eu não podia ter deixado você beber daquele jeito.
- Você... Não manda em mim! – lhe dei um leve tapa no rosto.
Não estava adiantando muita coisa, então ele desabotoou os botões da minha blusa e a tirou. Fiquei somente de sutiã, na frente de um desconhecido. Ele também tirou sua roupa e me emprestou a camisa branca, que ficou enorme em mim. Não deixei de notar seu abdômen escultural e de arrancar suspiros. Me lembrei do Tom, naquele instante.
- Vem. – ele me ajudou a levantar e apoiei meu braço em torno do seu pescoço. – Vou te levar pra outro lugar.
- Mas a minha blusa...
- Você não precisa daquela coisa nojenta. – me levou de volta para o bar e me deixou sentada numa das mesas.
Aos poucos o sono foi chegando e acabei adormecendo com a cabeça sobre um dos braços na mesa.
***
Acordei sentindo a cabeça explodir de dor. Ainda estava no bar, olhei para a janela e notei que já era noite. O movimento era fraco e alguns dos homens da tarde permaneceram lá. O garçom veio até mim, trazendo um copo de água e um comprimido. Ele virou a cadeira ao contrário e se sentou de frente para mim.
- Faz muito tempo que estou dormindo? – perguntei.
- Umas três horas. – respondeu e empurrou o copo em minha direção.
- Esse tempo todo? – beberiquei a água. – E esse remédio serve pra quê?
- Vai amenizar sua dor de cabeça.
Desde pequena, nunca fui o tipo de pessoa que engole comprimido, mas também não era o tipo que dispensava para ganhar uma bela agulhada. Tinha pavor de injeções e se fosse o caso, choraria para não receber uma em qualquer lugar que fosse. Com o remédio na língua, bebi quase metade da água.
- Será que eu posso saber o nome do bom moço que me ajudou?
- John.
- John. – repeti. – Você sempre ajuda as pessoas bêbadas, John?
- Às vezes. – me encarava.
- E eu por acaso paguei algum mico?
- Não. – sorriu. – Só bebeu muito, dançou e quase fez um strip-tease sobre a mesa, jogou sinuca, confessou amar um tal de Bill e vomitou em si mesma.
- Eu disse que o amava? – me senti constrangida.
- Com todas as letras. E ainda completou dizendo que ele é o maconheiro mais charmoso. – cai na gargalhada.
- Caramba! Não posso ficar bêbada, se não confessarei todos os meus podres!
- Não acho que uma garota tão bonita como você tenha algum podre.
- Está me cantando?
- Você quer ser cantada?
- N-Não. – olhei em volta. – É melhor eu ir pra casa antes que se preocupem comigo.
- Quer que eu chame um táxi?
- Acho que prefiro ir andando.
- Tem certeza que vai acertar o caminho de volta?
- Ei! – nós rimos e me levantei. – Depois entrego sua roupa.
- Ah, não precisa. – também se levantou. – Tenho várias dessa em casa, para o caso de alguma garota vomitar nela mesma. – brincou.
- Obrigada por ter... Cuidado de mim.
- Disponha. E se quiser repetir a dose, já sabe aonde deve ir.
–--
(Contado por: 3º pessoa)
Aiyra saiu do bar e enquanto caminhava de volta para casa, abriu sua mochila para pegar seu celular. Ao dobrar a esquina, trombou de frente com alguém. Ergueu a cabeça e ficou surpresa ao ver o Nick. Desde que ele tinha ido embora, ela não conseguira entrar em contato. Bem que tentou ligar várias vezes, só dava fora de área.
- Seu cretino! – diz ela, abraçando-o. – Como teve coragem de ir embora sem me avisar e não atender ao telefone?
- Estive ocupado por um tempo. – diz ele. – Eu falei que estava trabalhando.
- Onde estava? Numa ilha deserta? Nesse lugar onde você trabalha não existe nenhum meio de comunicação?
- Cada minuto perdido é uma parte do meu salário indo embora. – fez uma pausa. – Não sou pago pra ficar perdendo tempo.
- Pensei que fosse sua amiga, não perca de tempo.
- Não seja dramática!
Ele estava diferente. Ela tinha plena certeza que alguma coisa nele estava mudada. A primeira coisa que o Nick faria ao reencontrá-la seria falar alguns palavrões, e não foi bem isso que fez. Também estava mais sério. Sim, a esquisitice o acompanhava.
- Tá tudo bem com você? – pergunta ela, numa tentativa de arrancar algo de sua boca. – Tá estranho.
- Estou ótimo. – respondeu. – Diferente de você.
- Como assim?
- Me desculpa.
- Te desculpar? – estranhou ainda mais. – Pelo quê?
- Eu juro que não tive escolha.
- Deixe de rodeios e fale logo!
- Me desculpa pelo que farei.
Atrás dela o Jess apareceu, segurando um pano umedecido com éter. Ele puxou-a pelo cabelo, fazendo com que se assustasse e num impulso gritasse, e pressionou o pano contra seu nariz e boca. Ela desmaiou em poucos segundos, sem que pudesse reagir. Aiyra era leve e seu corpo estava mole, então ele pode levá-la nos braços até o carro. Nick abriu a porta de trás, e Jess a colocou deitada no banco. Pouco depois foi dada partida no veiculo.
 Postado por: Alessandra

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