terça-feira, 1 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 28 - Farpas, farpas, beijos à parte.

(Contado por: Aiyra)
Acordei certa e decidida que não iria ao colégio naquela manhã. Meu ânimo parecia diminuir a cada minuto, e eu não fazia ideia do que fazer para mudar a situação. Ainda me perguntava se a ligação dessa madrugada fora apenas um sonho ou fruto da minha fértil imaginação. Descartei as duas opções ao consultar o celular e verificar o nome dele, na lista da “última ligação recebida”.
Ele disse que estava bêbado, mas o que isso significava? Que não sabia exatamente do que falava? Que, ao acordar, não se lembraria de absolutamente nada? Não sei, e tinha medo de saber. Devo confessar que fiquei mexida com suas declarações. Um bêbado costuma ser sincero e... Estou confusa. Minha mente tenta raciocinar, dá voltas e mais voltas em pensamentos, lembranças... Mas no fim, acaba retornando ao mesmo lugar: o dia em que o Gordon atravessou aquela porta e “denunciou” seu próprio filho.
(Flashback)
- Eu não queria estar aqui para falar esse tipo de coisa – diz Gordon. -, mas não seria justo com uma garota tão encantadora quanto você.
- Poderia diminuir os rodeios e ir direto ao ponto? – minha ansiedade e curiosidade me fizeram ser um tanto grossa.
- O Bill está te enganando. – foi direto.
Parei por um instante, tentando imaginar de que maneira ele poderia estar me enganando.Não, acho que não se trata de traição. Será? Há dois dias ele jurou estar gostando quase que cegamente de mim. Como seria capaz? Primeiramente achei que aquilo poderia ser um blefe, ou uma jogada muito mal dada do Gordon. E porque ele faria algo assim com o próprio filho? E a cada frase concluída, cada ponto final, eu passava a acreditar mais nele.
- Quer dizer que o Bill esteve me usando durante todo esse tempo? – perguntei, sem entender muita coisa.
- Ele sempre foi um rapaz inteligente, calculista... Ganancioso. – a última palavra veio num tom diferente. – Também fiquei surpreso ao descobrir que ele a usava como boa influência.
- Boa influência?
- Sim. – respondeu. – Ou você não acha que a filha de um importante empresário não seja uma boa e grande influência para conseguir uma vaga numa faculdade?
- Isso não faz o menor sentido. – disse.
- Tem certeza? – colocou mais dúvidas em minha cabeça. – Os reitores da melhor faculdade dessa cidade adorariam ter um casal de grandeza para, além de promover o campus, mostrar aos outros alunos que eles teriam uma grande oportunidade de estudar ao lado de “celebridades” – riscou as aspas no ar.
- Ou seja, sou como uma figurinha carimbada para o Bill. A porta de entrada para o sucesso dele.
- Exatamente.
A revolta tomou conta de mim por breves minutos. Eu ainda não queria acreditar que pudesse ser verdade, mas seu pai fez o favor de encher os poucos espaços vazios que minha mente tinha, com histórias que realmente pareciam verdade. E ao meu ponto de vista, o Gordon não teria motivos para prejudicar o relacionamento de seu filho comigo, a não ser que houvesse algo de que eu não estivesse sabendo.
(/Flashback)
Desci as escadas e a casa era de um silêncio ensurdecedor. A empregada que limpava cuidadosamente a louça de porcelana na cozinha, me avisou que o Pedro se encontrava em seu escritório, ocupadíssimo com uma papelada que chegara da empresa para que ele pudesse analisar. Se eu quisesse faltar mais um dia de aula, teria que avisá-lo. Não queria criar mais problemas ou aborrecê-lo. Dei meia volta, indo ao escritório. Bati duas vezes na porta e entrei logo em seguida. Ele ergueu a cabeça e seus olhos praticamente me perguntaram o que eu ainda fazia em casa àquela hora.
- Atrapalho? – pergunto. – Tá fazendo o quê?
- O Gordon me enviou uns papéis para análise e depois terei que assinar. – tirou os óculos e repousou sobre a mesa. – E você, não deveria estar no colégio? – consultou o relógio.
- Se eu te pedir pra ficar só hoje, vai se chatear? – fui cautelosa.
- Não pode continuar faltando. – diz ele. – Pode perder o ano por falta.
- Já sei disso, mas... Não dá pra ir.
- Bem, se me disser o motivo, talvez eu pense no caso.
- Bill me ligou essa madrugada. – me abri e ele soltou um suspiro.
- Se trata de um “assunto secreto”?
- Não. – puxei a cadeira em frente a mesa e me sentei. – Ele meio que se desculpou, e disse algumas coisas das quais não me recordo. – menti.
- E posso presumir que as palavras dele tenham mexido com você. – não respondi de imediato.
- Um pouco. É que... Apesar dos acontecimentos, ainda me sinto ligada à ele, entende?
- Porque não o chama para uma conversa?
- Pra quê? Aposto que ele vai inventar mais mentiras, e não quero cair na mesma armadilha duas vezes.
- Então vá ao colégio e mostre a ele que nada mudará após sua ligação.
–--
(Contado por: 3º pessoa)
Aiyra pegava uns livros em seu armário, antes de partir para a classe. Ela cantarolava uma música que ouvira há alguns dias numa propaganda e que não saia de sua cabeça de maneira alguma, chegava a ser irritante. Estava distraída, tão distraída ao ponto de não notar quem passava por ali. Colocou dois livros dentro de sua mochila, fechou o armário e ao se virar, se deparou com o Jess.
- Te assustei? – pergunta ele, com um sorriso nos lábios.
- Você não me assustaria nem que quisesse. – responde ela. – Apenas me surpreende, aparecendo nos lugares desse jeito. Sem que ninguém perceba sua presença.
- Fiquei com saudades e resolvi fazer mais uma visitinha. – se aproximou mais dela. – Eu queria... Sentir um pouco mais de perto o seu cheiro.
- Se encostar em mim, eu te mato!
- Ah, fala sério! – ele solta uma leve risada. – Você não pode me odiar tanto assim! Não pode ter esquecido o que tivemos. Nossos encontros pra lá de agradáveis.
- Jess, o que temos não foi nada de tão interessante assim para ser lembrado.
- Por isso que eu tô aqui. – encostou suas mãos no armário, deixando-a entre seus braços, como numa forma de impedir que ela saísse dali. – Pra te provar que as más línguas estavam completamente enganadas ao meu respeito.
- Já disse que não vou transar com você, nem que fosse o único homem do planeta!
Aquele corredor era basicamente o caminho que Bill sempre percorria, quando ia para a sala de música. Naquele dia não foi muito diferente, e ele passava por ali no instante em que encontrou Aiyra e Jess. Resolveu se esconder numa das pilastras, para não ser visto e conseguir escutar sobre o que conversavam. Ele tomou essa decisão, após procurar a diretoria e descobrir que o Jess não era e nunca tinha sido aluno daquela instituição. Também percebeu que o rapaz ficava de plantão do lado de fora do colégio – inclusive nos dias em que ela não freqüentou -, esperando que Aiyra saísse a qualquer momento.
- Pelo menos confessa que você gostou. – disse Jess. – Você gostava dos meus beijos, não gostava?
- Quer mesmo que eu responda?
- Vai bancar a difícil logo agora? – a olhava nos olhos. – Sei que você quer tanto quanto eu.
- Jura? – foi irônica.
- Não, não, não, não. – diz ele, balançando a cabeça. – Está fazendo isso errado, muito errado. Deveria dizer que sim. Que quer mesmo passar uma noite inteirinha comigo.
- Cara, como você é irritante! – ela o empurra. – Larga do meu pé! Vá procurar outra pessoa! – ele solta um suspiro, seguido de mais uma risada.
- Você sabe melhor do que qualquer um que, só desistirei quando finalmente conseguir. – acariciou o rosto dela. – E pra mim seria uma honra poder desfrutar desse corpo maravilhoso.
- Eu acho que não sinto ódio de você. Sinto nojo! Que tipo de garota aceitaria dormir contigo?
- Às vezes suas palavras me machucam profundamente, sabia? – a expressão no seu rosto era de mágoa, mas logo se desfaz. – Passou. – sorri. – Porque não vem comigo e faz todas as coisas que você fez com seu namoradinho naquela casa? – seu cinismo era de tamanho indescritível. – Eu sinceramente adoraria ter a mesma sensação que ele. Imagino seus lábios percorrendo meu corpo e...
Aiyra fica boquiaberta. Ele estava me seguindo? Me vigiando? A raiva que, muitas vezes não conseguia controlar, se manifestou ali mesmo. Sua mão “pesada” foi parar diretamente no rosto bem delineado do Jess, deixando a marca de seus dedos e vermelhidão. Ele ficou calado por alguns segundos, enquanto isso, Bill ria da situação. Se orgulhava da garota com quem passara bons momentos, e tinha certeza de que aquilo tinha ficado bem dolorido.
- Vadia! – Jess mostrou sua agressividade e partiu para cima dela. Segurou firmemente seus braços e tentou roubar-lhe um beijo.
Temendo que algo grave pudesse vir a acontecer, Bill se aproxima para intervir.
- Largue ela! – grita Bill, entrando no meio e desvencilhando as mãos dele dos braços dela.
- E o super namorado aparece! – diz Jess. – Era só isso que faltava pra completar a festa.
- Dá o fora daqui, antes que eu chame os seguranças.
- Explica pro seu namorado com quem ele está falando. – disse a Aiyra. – E aproveita pra avisar que você será minha e que ele não deve mover um dedo contra mim. – Bill olha pra ela. – Bom, eu já vou indo. – A gente se encontra qualquer hora dessas.
Jess sai caminhando normalmente, como se nada tivesse acontecido, deixando Aiyra ainda mais preocupada com suas ameaças. Bill chega mais perto dela e pergunta se estava tudo bem.
- Qual seu problema, hein? – pergunta ela.
- Meu problema? Eu acabei de te ajudar!
- E por acaso eu pedi a sua ajuda? – foi um tanto grosseira.
- Deixa de ser má agradecida, garota!
- Eu não sou...
- Má agradecida, mimada, complicada, chata, complexa...
- Ei! – interrompeu, esmurrando seu ombro e fazendo-o se calar. – Você é bem pior... Seu... Seu canalha, chaminé ambulante, cara de pau, cínico, conquistador barato, sedutor de meia tigela... Seu...
Num impulso meio que proposital, Bill a interrompe selando seus lábios nos dela. Ao se desanexarem, se olham nos olhos.
- Não... Não faça isso outra vez. – diz ela que, em seguida segue seu caminho. Bill sorri.
- Ela me ama. – diz para si mesmo.
 Postado por: Alessandra

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