terça-feira, 1 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 23 - Jess, um problema a mais.

(Contado por: Aiyra)
(Flashback)
Passava das duas horas da manhã de sábado. As ruas desertas viravam palco de uma das disputas mais perigosas, o racha. Nem a madrugada gelada impediria que os playboys exibissem suas máquinas, tentando intimidar o adversário. Digamos que era o tipo de programa semanal que a maioria dos “quase adultos” faziam questão de comparecer, um tipo de “obrigação” como ir à missa no domingo de manhã.
Havia uma regra rígida e clara, feito a água: os candidatos só poderiam participar se apostassem uma quantia alta em dinheiro. Isso sustentava a manutenção das pistas e a venda de bebidas e drogas. Sem contar que a maioria dos apostadores além de oferecerem rios de dinheiro, colocava seus carros na jogada. O perdedor certamente voltaria para casa andando.
A prostituição também rolava solta. Meninas de quinze a dezoitos anos eram consideradas troféus, passavam no meio dos garotos usando roupas curtíssimas, shorts que mostravam metade de suas nádegas, blusinhas justas que não chegavam nem ao umbigo e saltos exageradamente altos. Não era tão difícil encontrar uma delas encostada numa parede qualquer se agarrando com o primeiro que lhe entregasse duas notas de cem. Elas são espertas e caras, não vendem seus corpos por miséria.
Minha participação nisso tudo começa quando fui apresentada ao Jess há alguns anos. Ele é o rei da parada, quem comanda todo o esquema, aquele que decide quem vai correr e quem vai ficar apenas babando. Ele havia ficado com boa parte daquelas meninas, mas nunca teve nada sério com nenhuma delas, não passava de uma noite. É o tipo de homem que te faz suspirar à primeira vista. É alto; tem um sorriso branquinho e perfeito; malha uma hora e meia por dia numa academia particular, mas seu corpo não é exagerado, é deslumbrante. Talvez seja a definição de “homem perfeito”.
Saímos duas ou três vezes, mas não considerei nada de importante ou que fosse realmente ter um futuro. Depois dos nossos encontros, todos que participavam desses encontros passaram a me enxergar de uma maneira diferente, eu era respeitada. De um jeito meio torto, mas era. Na verdade, todo mundo temia que alguma coisa me acontecesse, já que eu me tornara a mais nova protegida do poderoso chefão. Nenhum homem além dele ousava se quer me olhar diferente, isso seria como cavar sua própria cova.
Confesso que adorava toda aquela popularidade repentina, e foi quando me aproximei mais do Nick que percebi onde e com quem estava me metendo. O pai do Jess é um mafioso procurado pela polícia de vários lugares, e o filho obviamente não poderia ser tão diferente assim. Ele foi preso umas duas vezes por porte indevido de armas e contrabando de drogas, mas não ficou preso graças às suas origens. Só descobri isso numa conversa mais “intima” com o Nick.
Esse lance com o Jess também me trouxe algumas conseqüências, comecei a usar alguns tipos de drogas. Felizmente percebi o erro antes que algo mais grave pudesse acontecer e acabei sendo internada numa clínica de reabilitação. Durou alguns meses, o suficiente para eu ser a mais nova procurada do pedaço. A desculpa do Jess era que eu lhe devia muito dinheiro pelo uso das drogas, mas muita gente sabia que não tinha nenhum fundo de verdade nisso. A raiva por não ter conseguido o que queria, fez com que ele agisse assim.
(/Flashback)
- Não vai me convidar para entrar?
A voz já não passava mais pela minha garganta e meu primeiro reflexo foi tentar fechar a porta imediatamente. Jess colocou o pé e empurrou a mesma com as mãos. Fiquei assustada, temendo que ele pudesse sacar uma arma e me matar no minuto seguinte. Com sua ousadia, entrou na casa.
- Poxa – diz ele. -, demorei tanto tempo para encontrá-la e é assim que me recebe? – seu cinismo me estraçalhava por dentro. – Bela casa. – olhou em volta e fechei a porta.
- O que está fazendo aqui? – perguntei, com medo. – Como me encontrou?
- Não é da sua conta! – respondeu sério e grosseiramente. Depois abriu um sorriso. – É brincadeira. – se aproximou e me afastei. – Senti sua falta. Você foi embora sem nem ao menos se despedir e achei que fosse gostar de me ver.
- Já te vi, agora vá embora.
- Calma, que pressa é essa? – se sentou no sofá. – Vamos conversar. Há tantas coisas que eu gostaria de relembrar.
- Jess... – eu tremia.
- Prometo não fazer nada. – sorriu novamente. – Venha – deu leves batidinhas no sofá. -, sente-se comigo.
Não dava para prever o que ele poderia fazer e eu não tinha força o suficiente para expulsá-lo. Minhas pernas tremiam tanto, que resolvi me sentar o mais rápido possível, se eu não quisesse despencar no chão. Pra minha sorte, a empregada estava em casa, e isso fazia com que eu não estivesse completamente sozinha. Ela não era sinônimo de total segurança, mas talvez o intimidasse de alguma maneira. Me sentei no mesmo sofá que ele, mantendo uma certa distância e sentindo o coração bater na garganta. Como não era o suficiente, Jess fez questão de chegar mais perto.
- Você continua linda. – ele elogia e passa levemente sua mão em meu rosto. – Não, acho que agora está muito mais. – me encarava.
- O que você quer? – as palavras eram forçadas a sair.
- Eu não quero dinheiro, se é isso que está pensando. – se levantou e deu alguns passos. – Só quero... O que você tem de melhor. – se virou para me olhar. – Me dê à honra de tê-la por uma noite.
Eu não sabia se começava a chorar e implorar que fosse embora, ou se começava a rezar pedindo que o Pedro chegasse logo. O Jess é imprevisível e esse é seu pior defeito. O medo que crescia em mim, praticamente me impedia de falar muitas coisas, como se eu tivesse um limite de palavras a serem ditas antes de fechar os olhos e desmaiar.
- Se ficar comigo por uma noite... Apenas uma noite com tudo que tenho direito, prometo ir embora e nunca mais aparecer na sua vida. – disse. – Eu juro não procurá-la mais e pouparei a sua vida e de todos que a cercam. – voltou a se sentar. – Principalmente a vida do seu namoradinho. – falou novamente com cinismo. – Como é mesmo o nome dele? Bill, não é?
- C-Como sabe do Bill? – fiquei surpresa. – Andou me espionando?
- Sei de coisas que nem imagina. – parecia dizer a verdade. – E espionar é uma palavra muito forte. Digamos que eu estava apenas descobrindo coisas novas. – segurou minha mão. – Vamos, tenho certeza de que irá gostar.
- Até parece! – desvencilhei minha mão, me levantei e me afastei. – Vá embora!
- Estou lhe dando mais uma chance de concertar as coisas. – também se levante. – Não seja burra, garota! – quase gritou.
- Se não for embora agora, chamarei a policia!
- Você vai se arrepender. – estava sério. – Não sabe do que sou capaz! – ameaçou.
- Vá embora! – gritei.
Como anjos enviados do céu, o Pedro chega com a Anna. Nunca me senti tão feliz por vê-los em minha frente. Soltei um suspiro de alivio e quase corri para abraçá-los. Sentia um bolo na garganta, era meu coração batendo ali. O Jess fingiu ser um amigo meu que veio de muito longe para me visitar. Cruzei os dedos e rezei para que o Pedro não o convidasse para ficar no jantar, e felizmente ele não fez convite algum.
- A gente se encontra por ai. – diz Jess, dando uma piscadela e caminhando em direção a porta.
***
Dois dias se passaram e eu não tinha contado nada pra ninguém sobre o aparecimento indesejável. Minha mente estava tão preocupada, que nem parei para pensar no baile à fantasia do colégio. Normalmente não me importaria com esse tipo de comemoração, mas era a primeira festa que eu ia com o consentimento do Pedro. Estou um pouco receosa, pois a maioria das garotas foi convidada por alguém e o Bill nem se quer abriu a boca. Estou começando a repensar esse negócio de continuar ficando com ele. Não estou vendo muitos benefícios.
Fiquei um dia inteiro andando pelas ruas do centro da cidade com a Anna, procurando uma fantasia que me agradasse e caísse bem. Esse era o nosso segundo passeio – fomos ao aniversário e comemos muito – e eu estava me divertindo. Ela é uma boa garotinha e não dá muito trabalho, notei que fica mais quieta quando toma sorvete de morango com cauda de chocolate, seu preferido. Pra ser bem sincera, ela gosta de qualquer coisa que tiver rosa no meio.
Numa das lojas que entramos, a vendedora conhecia muito bem a Anna. Era ali que a Clarisse comprava todas as suas roupas. Um verdadeiro castelo cor de rosa e acabei me sentindo uma Barbie. Nunca vi a mesma cor num mesmo lugar, chegava a incomodar. A moça, muito educada, trouxe várias peças de roupas.
- O que acha desse vestidinho azul? – pergunta a moça. – Não é lindo?
Por um instante pensei seriamente em conversar com a proprietária da loja, para que ela levasse sua vendedora num oftalmologista. Talvez a moça fosse daltônica e não conseguisse diferenciar azul de rosa. O vestido que mostrava era rosa claro com mínimos detalhes em branco. Chamei a Anna e disse que estava ficando um pouco tarde, tínhamos que voltar para casa.
–--
(Contado por: 3º pessoa)
Naquela noite, Bill saiu de casa disposto a convidar Aiyra para ir ao baile. Ele se aproxima do quarto, empurra levemente a porta que estava encostada e se depara com ela em frente ao espelho, usando uma lingerie de renda preta com bordados vermelhos. Estava linda e incrivelmente sexy. Assim que o viu, ela se assusta, pega a toalha que se encontrava sobre a cama e esconde o corpo.
- Desculpa. – diz ele. – A porta estava aberta e...
- Poderia ter dado algum sinal. – ela o interrompe, caminha até o banheiro para vestir alguma coisa.
Ele encosta a porta e espera que ela volte. Aiyra aparece usando uma blusa grande, que ia até a metade de suas cochas. Os cabelos agora presos num coque, ela ri do recente acontecimento. Bill se sente meio constrangido, mas não desvia seu foco.
- Você vai ao baile? – pergunta ele.
- Ainda não sei. – responde ela, passando por ele e indo a escrivaninha. – Ninguém me convidou e também não quero parecer uma idiota sozinha naquele lugar. – puxa a cadeira, se senta e cruza as pernas.
- Uau! – diz ele. – Não precisava jogar isso na minha cara. - ele se senta na cama, de frente para ela. – Estou aqui pra isso.
- Está me convidando pra ir ao baile? – ela cruza os braços, duvidando.
- Quer ir comigo?
- Tem certeza que quer ser visto comigo? As pessoas podem comentar.
- Que falem, comentem, invejem! – eles riem. – Só quero que todos saibam que você agora é minha.
- Desde quando? E porque só eu não sabia disso?
- Era segredo.
- Segredo. – repete. – Sei. – outra vez riem.
Ficam em silêncio, olhando um para o outro. O Pedro aparece e diz que estava tarde demais para visitas, ainda mais no quarto. Envergonhado, Bill se despede da Aiyra com um beijo no rosto. E ela fica imaginando o quanto aquela noite será inesquecível.
 Postado por: Alessandra

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