sexta-feira, 8 de julho de 2011

Nós Dois - Capítulo 1

Faça algo por você, e faça sozinha Mila.

8 e meia da noite. Dormi a tarde inteira, depois de passar a madrugada arrumando minhas malas. Minhas roupas, sapatos, shampoos e cremes, meu urso, escova de dentes, e grande parte das poucas coisas que haviam no meu quarto. Pois a viagem que eu faria hoje a noite, por enquanto era sem volta. Alemanha, mais precisamente, Hamburgo, casa da minha tia e professora Angela.

Eu deveria estar empolgada, mais do que impolgada e radiante com a ideia. Mas eu iria terminar meus estudos la, em uma escola publica, e começar a faculdade onde minha tia dava aulas. Sim, qualquer um gostaria disso. Mas eu ia porque era um estorvo aqui, um peso. Minha mãe havia se casado novamente, e mesmo nunca dizendo claramente, eu sabia. Era a minha hora de sair de casa. Mas apenas com 17 anos? Que eu acabava de completar.

Tudo isso me fazia esquecer o porque eu deveria ser a pessoa mais feliz nesse momento, ir para Alemanha, era um sonho, um sonho de uma adolecente que queria de todas as formas encontrar aquele guitarrista famoso por quem era apaixonada. Mas isso havia ficado para tras, eu tinha de crescer agora. Eu não ia mais pra Alemanha por esse motivo. Iria para ficar sozinha.

Depois de uma despedida de alivio, por parte da minha mãe e meu padrasto, entrei no avião segurando minha bagagem de mão. Depois de me sentar olhei pela janela, admirando a lua que parecia ficar ainda mais perto de mim conforme decolavamos.

- Faça algo por você, e faça sozinha Mila.

Passei a viagem toda assim, olhando pela janela, vendo a distancia até a Alemanha ficar mais curta a cada nuvem.

Quando cheguei fui andando carregando minha mala de mão que parecia mais pesada do que antes. Encontrei minha tia me esperando no portão de desembarque, tão animada que me fez sorrir um pouco.

Angela:Cansada não é? Eu entendo querida. Vamos?

Ela foi cuidadosa comigo, perguntou pouco sobre minha vida no Brasil, mas falou bastante de como minha vida aqui seria. Ela não parecia tão mais velha desde a vez que haviamos nos visto pela ultima vez.

Chegando em casa, ela preparou um café da manha pra mim com coisas simples, que a gente encontra no Brasil, pão, manteiga, rosbife e suco de laranja.

A tv estava ligada em algum canal de novelas. Muito engraçado um drama novelistico em alemão.

Aproveitamos o café da manha para ela me contar sobre a escola. As aulas começavam semana que vem, 8 de janeiro, depois das férias de fim de ano. A escola ficava não muito longe, mas eu poderia ir com ela de carro todos os dias, ela lecionava la, graças a Deus. A escola era de inglês e alemão, eu dominava o inglês, mas não o alemão. Mas ela me disse que seria mais facil do que eu pensava.

Depois de chegar no meu quarto, que era mil vezes melhor que o que eu dormia no Brasil. Super arrumado e organizado, tomei um banho e cai na cama pra descansar da viagem. Me deitei na cama olhando a decoração em volta. As paredes eram lilás, e todos os moveis de madeira não muito escura. Havia uma escrivaninha logo a frente da minha cama perto de uma das janelas. Havia um banheiro só pra mim, e varias prateleiras para eu colocar o que eu quiser, era bastante aconchegante. Minha cama era boa tambem, ficava com a lateral direita para porta.

Angela: Hey não durma muito, aproveite o dia, estamos no inverno e hoje é o unico dia que o sol apareceu.

Mila: Ha claro, otimas boas vindas. - Falei abafando o som da minha voz no travesseiro.

Eu acordei um pouco antes do almoço, bem mais disposta e animada com toda a situação. Decidi que depois de comer iria dar uma volta pelo bairro. Pelo o que eu tinha visto a ruas eram tranquilas e haviam poucos carros passando.

Angela: Ha claro, pode andar tranquila por ai. Você vai a pé?
Mila: Hum, é né.
Angela: Nãão, pegue os meus patins, não uso eles a anos, mas estão em bom estado.

Me sentei na calçada para calça los, serviram perfeitamente. Quando eu ainda terminava de amarra los, um garoto com uma bicicleta passa a centimetros da minha cabeça baixa. Ele olhou para tras e sorriu debochando de mim.

Mila: Idiota. - Falei pra mim mesma.

Coloquei meu fone de ouvido e me levantei na direção contraria. Eu comecei andando em volta do quarteirão, as ruas não tinham nenhum buraco se quer, eram lisas e perfeitas, tudo ficava mais agradavel a cada minuto, eu estava adorando.

Eu cheguei no final de uma rua que eu não fazia a minima ideia de como se pronunciava o nome, que estava escrito na placa amarela logo acima.

Mila: Ok, só espero que não esteja escrito "Pare, risco de morte".

Eu decidi seguir a rua, pelo menos até o final da rua e depois voltar pelo mesmo caminho, era uma linha reta, não tinha erro.

Chegou a uma altura que as casas foram diminuindo, eu começei a encontrar uma casa a cada 200 metros. Eu estava concentrada na musica que ouvia, em volume alto,quando percebi um barulho insitente atras de mim. Um carro buzinava freneticamente.

Eu olhei para tras e um carro preto enorme buzinava feito loco. Eu fiz sinal com a mão para ele passar, mas o idiota insistia.

Mila: Hey pode passar. Não ta vendo a pista? Falei em ingles.
 
Eu acho que esse idiota não estava vendo mesmo a pista, nas laterias da pista não havia calçada, somente mato, e não tinha como eu sair da via estreita. Ele continuava buzinando com o carro lento atras de mim, mas nem se quer abriu o vidro.
 
Mila: Passa logo seu idiota, pode me atropelar. - Eu gritei para ele ouvir.
O carro subiu em cima do mato do outro lado e passou por mim furioso, enquanto ele passava eu bati com a mão na lateral do carro e o chinguei novamente.

Mila: Seu estupido.

A pessoa freiou bruscamente o carro a alguns metros de mim e a luz traseira se acendeu, ele estava dando  ré.

Mila: Merda!
 
 Eu tomei impulso com os patins e corri o mais rapido que pude, meu coração disparou de medo e eu corri corri feito loca. Eu só olhei para tras quando cheguei no final da rua. Ele havia sumido.
Eu suspirei aliviada e corri para casa da minha tia, eu cheguei tão descontrolada, que corri pelo gramado com patins e tudo e grudei na maceneta da porta feita uma esfomiada por madeira.

Angela: Mila, nossa, o que aconteceu?


Mila: Nossa tia, um..um idiota buzinando pra eu sair da frente na rua, eu chin..chinguei ele depois sai correndo.

Angela: Nossa, toma cuidado hein. Mas provavelmente não deve ser ninguem de fora, aqui é bem fechado.
 
Eu preferi escutar o que ela dizia e pensar que foi somente porque cheguei hoje e ainda estou um pouco assustada. Mas era assim que os alemães tão educados tratam a vizinhança? Passando o medo, agora eu pensava, quem aquele cara pensava que era?

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