sábado, 25 de fevereiro de 2012

Glamourous - Capítulo 36 - My Salvation...

HOSPITAL CENTRAL DE NEW YORK

NARRADO POR TOM...

 Sabe quando você tem a sensação de que não deveria estar se sentindo tão bem? Eu havia acordado daquela maneira.   
 Tinha acordado cedo demais...liguei a TV, mas não tinha nada de interessante passando, pensei em sair para tomar um ar, mas parei ao sentir o respirador em meu nariz....não podia nem sequer mais sair da cama! Aquilo incomodava tanto, sem contar na constante coceira que eu sentia no nariz. . Mas o que me deixava preocupado era eu não estar sentindo nenhuma moleza, enjôo, dor, tontura, até a falta de ar não parecia ser tanta. Já tinha ouvido falar que quando alguém muito doente se sente bem repentinamente é porque o pior esta por vim...balancei a cabeça afastando esse pensamento. Respirei fundo, estava entediado, não tinha ninguém pra conversar. Olhei para todos os cantos do quarto...nunca tinha reparado que a cortina do meu quarto era exatamente igual a da casa da minha falecida avó...me lembrei quando roubei um de seus pincéis de pintura e com tinta guache fiz varias bolinhas na cortina, fiquei sem comer o bolo de chocolate dela durante um mês, ri ao lembrar da bronca que eu levei. Senti uma dor profunda no peito, mas não era física, era emocional...saudades...saudades de tanta coisa que eu deixei fazer, tanta coisa que eu queria ter dito a ela...me senti só, de um momento para o outro era como se as paredes do quarto se aproximassem fazendo com que ele ficasse menor e minha solidão aumentasse.
 Abracei a mim mesmo para espantar um frio que não existia...ouvi um barulho na porta, a maçaneta girou e Bill colocou a cabeça pra dentro...sorri, era como se tudo ficasse bem novamente. Ele entrou e parou ao meu lado.

__ Como esta se sentindo?

__ Por incrível que pareça muito bem... – falei com dificuldade, o respirador atrapalhava na hora de conversar, minha voz era quase inaudível. - ...não sei explicar, mas acordei bem hoje...

__ Isso é um bom sinal. – Bill disse sem muita coragem na voz, talvez já estivesse desiludido sobre mim...seus olhos baixos mostravam o quanto sofria... – eu tenho uma noticia que talvez não te agrade muito...a mamãe esta vindo pra cá, eu liguei ontem pra ela e contei tudo o que aconteceu, o que está acontecendo.

__ Por que fez isso Bill? – perguntei, senti uma incomoda coceira na garganta, aquilo era horrível... – eu não queria que ela soubesse, pra que? E-ela nunca se importou co-comigo... – sentia que não conseguiria ter uma conversa com Bill, minha voz começou a falhar e ficava mais baixa a cada palavra.

__ Até quando vai manter seu orgulho Tom? – Bill perguntou me olhando nos olhos, se virou e sentou-se na poltrona ao lado da minha cama. – até o momento em que você não tenha mais chances de poder dizer uma única palavra?! – aquilo doeu profundamente em mim. – a mamãe cometeu muitos erros Tom, eu não nego, mas também não posso negar que quando o papai estava vivo ela nunca nos desamparou... quando ficávamos doentes ela sempre perdia o sono e ficava acordada a madrugada inteira...ela sempre nos apoiou em nossa carreiras...mas quando o papai morreu ela pirou! – naquele momento me lembrei dos últimos dias de vida do meu pai...eu não o reconhecia naquela cama de hospital...magro, os olhos fundos, fraco...me lembrei da minha mãe, o quanto ela sofreu, como ela ficou ao lado dele até seu ultimo suspiro...ela o amava demais! – é muito egoísmo nosso acharmos que só nós sofremos com a morte do papai, ela também sofreu e muito...

__ Você tem razão! – disse por fim, olhei para o teto, não queria olhar para o rosto triste de Bill. – sabe, eu passo dia e noite nessa cama me lamentando por tudo o que eu não fiz...tu-tudo o que eu não disse...m-mas é bobagem... eu ti-tive uma vida maravilhosa...eu tive a carreira que se-sem-pre sonhei, conheci todos os lugares que eu sempre quis conhecer...eu me apaixonei como nunca pensei que fosse me apaixonar... e sabe de uma coisa... – olhei para Bill, ele sorria com os olhos chorando...e eu também sorria chorando – se eu morresse hoje, agora, eu morreria feliz! Porque eu VIVI Bill, eu acertei, eu errei, mas eu VIVI! Eu não vou mais me lamentar pelo o que eu não fiz, mas vou agradecer pelo o que eu pude fazer... – Bill nada disse apenas me deu um forte abraço, não eram necessárias palavras...o gesto já dizia tudo!

*******


Eu não sei ao certo por quanto tempo Bill e eu ficamos ali naquele quarto, rindo, chorando, lembrando de vários momentos de nossas vidas, mas foi tempo o suficiente para que eu me sentisse o quanto valeu a pena esquecer nossa briga!
 Meus olhos quase não se mantinham abertos para o filme que assistíamos...assim como o bem estar repentino tinha vindo ele tinha ido, o cansaço tomou conta de mim novamente, assim como a dificuldade para respirar.

__ Acho melhor eu ir, desde a metade do filme que você esta cochilando... – Bill disse se levantando e pegando seu casaco.

__ É...seu velho irmão já não tem mais aquela vitalidade de antes... – lhe respondi rindo.

__ Bom vou te deixar descansar... – ele veio ao meu lado e me deu um beijo na testa, antes que ele saísse pela porta, segurei seu braço lhe impedindo.

__ Cuida bem da Annie Bill, nunca a decepcione... e acima de tudo, SEJA FELIZ! – ele me olhou confuso. – eu amo você irmão! – senti uma forte necessidade de lhe dizer aquilo...ele sorriu.

__ Eu também amo você seu malandro! – ele me deu mais um beijo na testa e caminhando lentamente saiu pela porta do quarto...o vazio me preencheu novamente, mas esse era diferente...

HOSPITAL CENTRAL DE NEW YORK,

CAFETERIA, ALGUMAS HORAS MAIS TARDE...

NARRADO POR ANNIE...


Carly e eu tínhamos criado uma forte ligação, era estranho como você acaba de conhecer alguém e já sente que pode lhe contar seus mais íntimos segredos...lhe contava sobre meu romance com Tom, mas algo me fez parar de falar, algo que os enfermeiros que passaram correndo pela enfermaria disseram: “ Estamos perdendo o quarto 321...”
321! O numero passava diversas vezes em minha mente...esse era o quarto do Tom!
*****

Não me lembro de ter corrido tanto como corria agora pelos corredores do hospital, sentia o vento frio bater em meu rosto, fazendo as lagrimas parecerem mais frias...não podia ser verdade, eu não queria acreditar...cheguei em frente ao seu quarto, a porta fechada, fui até o vidro e através dele pude ver inúmeros enfermeiros e médicos ao seu redor...o balão de oxigênio tinha sido colocado, tentavam reanima-lo com o desfibrilador, uma, duas, três vezes....seu corpo não se movia...gritava seu nome, batia no vidro, chorava! Eles lhe aplicaram algo que supus ser adrenalina, mais uma vez o desfibrilador, seu corpo caiu mole sobre o colchão...esmurrava o vidro, tentava gritar mais minha voz não saia pelo nó que tinha na minha garganta! Um dos médicos pareceu notar minha presença, foi até o vidro e fechou a cortina, gritei mais, esmurrei mais, eu queria ver o que acontecia, meu corpo foi caindo ao chão...Carly apareceu na minha frente, se agachou na minha frente e me abraçou...

*****


A movimentação no quarto de Tom era intensa, iriam transferi-lo para a UTI, mais uma vez conseguiram reverter a parada cardíaca, mas dessa vez tinha sido por pouco...Tom estava em como induzido...Esperávamos ansiosos pelo medico, queríamos noticias. Bill que tinha estado com seu irmão mais cedo chorava silenciosamente ao meu lado, Carly estava do meu outro lado e segurava firme minha mão...do corredor da UTI o médico apareceu...corremos até ele.

__ E então doutor? Como ele esta? – Carly perguntou com pressa e preocupação...ele balançou a cabeça.

__ Nada bem, essa ultima parada cardíaca foi mais forte do que eu esperava...ele ficou por um fio eu confesso! – levei a mão a boca assustada. – vou ser muito sincero, se o Tom não fizer o transplante até amanhã no máximo, eu infelizmente não poderei fazer mais nada por ele...mas eu tenho uma ótima noticia... Encontramos um doador!

 Postado por: Grasiele

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