terça-feira, 4 de setembro de 2012

Sempre Sua! - Capítulo 7 - Portugal e Arrependimentos!


Entrei na sala, depois de um longo banho olhando no relógio, novamente, pela vigésima vez, eram 22 horas, o show em Portugal começaria em poucos minutos, sentei-me no sofá e olhei mais uma vez para o meu celular, para minha surpresa tinha uma mensagem de chamada não atendida, fixei meus olhos no visor e a dúvida me consumiu, duas vozes gritavam dentro do meu cérebro.
“Liga Kate!” - e a outra duelava me trazendo de volta a realidade: “Não liga Kate!“
Depois da nossa conversa ao telefone, naquela tarde que Gustav me trouxe para casa, dois dias atrás, não nos falamos mais, nem por telefone, com certeza Bill estava bravo ou mesmo desapontado com minha decisão de não acompanhá-lo para Portugal.
Eu não havia passado na entrevista. Bill com certeza adoraria essa notícia, talvez tivesse sido praga dele, mas chorar o leite derramado também não era um dos meus adjetivos, sem emprego e sem Bill, por mais que minha saudade apertava em meu peito, uma certeza eu tinha, a decisão de não viajar, tinha sido a mais coerente, e não me arrependia.
O que estava feito, estava feito!
Ou não... Peguei o celular rapidamente em cima da mesinha de centro, como se estivesse com medo de ser advertida por alguém, disquei o número, depois de três toques, ele atendeu.
–Alô? – A voz que atendeu, não era dele – David? Bill está por ai?
–Sim!
Houve um silêncio.
–Oi, Kate!
–Bill... É você? A sua voz? – eu perguntei. - O que houve com ela?
–Minha garganta! – Bill disse baixo, triste.
–Está com dor de garganta?
–Sim... Mas não deve ser nada! – ele mal conseguia falar.
–Mas você irá se apresentar dessa forma?
–E por que não?
–Por que você não tem voz, isso não basta?
–Um médico está vindo para cá e depois de medicado, subirei no palco e cantarei.
–Pretende fazer mímica em cima do palco? - eu disse friamente.
–Eu vou cantar! – disse logo após pigarreando.
–Desse jeito?
–Sim! – ele foi ríspido.
–Falar com você é como falar com a parede! – bufei, vendo que ele não mudaria de idéia tão facilmente.
–O que espera que eu faça? – Bill perguntou num tom baixo de voz
–Cancele o show!
–Gosto do seu senso de humor, Kate! – Bill sorriu sem vontade.
–Eu não estava tentando ser engraçada – disse séria – Cancele!
–Isso seria inadmissível... – Bill suspirou longamente e depois sussurrou. -Não posso decepcionar os nossos fãs dessa forma.
–Não vai decepcionar, apenas adiará é muito diferente! – Eu expliquei, já sem paciência. –Remarque esse show!
–Não posso e não vou! – ele disse com muito esforço
–Se eu estivesse aí não deixaria você cometer esse absurdo. – disse brava
–Se você estivesse aqui talvez eu não estivesse com tanto medo.
Justamente a frase que temia ouvir. Droga!
Eu não consegui responder nada de imediato. Ele dessa vez, tinha razão. Eu devia estar ao lado dele naquele momento o impedindo de subir no palco e impedir que ele tornasse a tragédia maior, mas estava longe e com as mãos atadas.
–Nada a dizer em sua defesa? – ele perguntou quase inaudível. - Arrependida?
– Não... Ou talvez... Tudo bem, eu deveria ter feito a coisa de outro jeito! – confessei embora nunca tivesse me considerado estúpida, até aquele momento.
–Sim, você realmente deveria! – ele disse tossindo logo em seguida murmurou. –Queria que você estivesse ao meu lado nesse exato momento... Estaria me sentindo menos confuso!
–Se quer que eu me sinta culpada e...
–E...?
–Arrependida... Conseguiu! – eu disse respirando, triste – Por favor, faça a coisa certa, não suba nes...
–O médico chegou! – Bill disse me cortando.
–Bill está ouvindo o que estou dizendo?
–Não! - foi curto e grosso. –O médico vai me medicar e tudo ficará bem!
–Pare de ser teimoso! – tentei fazê-lo mudar de opinião.
–Sou profissional, são duas palavras muito diferentes!
–Que não vai levar a nada, não percebe? – eu disse zangada e logo em seguida pedi. –Me deixa falar com David!
– Preciso desligar!
–Bill não! – Eu o chamei. – Bill? – Ele havia desligado. Tentei todos os celulares possíveis e imagináveis, não consegui falar com nenhum.
Coloquei meu celular no sofá, abracei meus joelhos colocando meus pés em cima da almofada branca.
Olhei para a foto que estava na pequena mesa ao lado do sofá e toquei o vidro com a ponta do dedo, olhei por alguns segundos e coloquei o porta-retrato no lugar, me levantei e fui para cozinha preparar uma xícara de chá e tomar um calmante, pois tinha certeza, que a espera até o fim do show de Portugal seria uma tortura, aquelas duas horas, se tornariam doze intermináveis horas.
Minha tortura acabou quando ouvi o meu celular e com pressa o atendi.
–Bill?
–Não é o Tom!
–O que houve com ele? – Eu já sabia que a notícia não era agradável.
–Não conseguimos terminar o show! – A voz de Tom falhou ao dizer, como se estivesse emocionado. -Bill está seguindo para o aeroporto voltando para Alemanha. Cancelamos o concerto, ele está com um quisto na laringe e parece que o médico vai operá-lo.
–Parece?
–Sim, o médico de Portugal deu uma prévia, só falta o nosso médico confirmar, na Alemanha!
Meu coração bateu três vezes mais rápido, minha boca ficou seca, minhas mãos trêmulas, eu segurei minhas lágrimas, imaginei Bill, ele devia estar apavorado afinal tudo o que ele tinha era a sua voz, tudo que ele mais amava em sua vida era estar em cima de um palco e não poderia permanecer nele sem a sua voz.
–Vou ligar para ele! – não conseguia controlar minha voz, que tremia violentamente.
Liguei para ele e quem atendeu mais uma vez foi David, e ele me informou que Bill tinha sido medicado, por que tinha ficado muito inquieto e o médico por questão de segurança decidiu ceda-lo. Meu coração ficou mais aflito, e mais uma vez me xinguei por ter sido tão cabeça dura e não ter ido com ele para Portugal.
Se arrependimento mata-se...”
O jato particular pousou no começo da madrugada na Alemanha e imediatamente seguiram para o hospital no carro de Gordon, logo depois de dez minutos ao hospital, eu estava sentada na última cadeira, longe. E quando o vi sair do carro minhas lágrimas que até então havia segurado, encheram meus olhos, as enxuguei antes mesmo delas cairem, permaneci distante e ele me olhou triste, querendo dizer diversas palavras, como se pedisse ajuda, como se pedisse para eu o abraçar, sem muito que fazer, esperei-o seguir para uma sala e David me vendo de longe, moveu a cabeça para eu segui-lo, andou até a escada de emergência, quando entrei e ficamos frente a frente a única coisa que eu consegui dizer foi:
–Um segundo... É só isso que eu peço!
David entendeu que permitindo ou não, eu entraria no quarto para ver Bill, então não disse mais nada, abriu a porta de emergência, me deixando sozinha, depois de alguns segundos, eu também abri-a entrei pelo corredor, e avistei Tom e David na porta, quando eu me aproximei, David abriu a porta rapidamente, eu entrei fechando-a atras de mim.
Primeiramente, quando coloquei os pés no quarto, nossos olhares se encontraram, os dele estavam cristalinos, tomados por lágrimas, quando me viu ali parada, abriu os lábios, mas nada disse, apenas fechou os olhos com força fazendo as grossas lágrimas rolarem sobre seu rosto apático.
Mordi meus lábios e o nó se fez em minha garganta, eu tinha que lhe dar forças e não desmoronar junto com ele, então respirei fundo e antes de me aproximar da cama ele já ergueu seus braços para me receber. Nossas mãos foram as primeiras a se tocarem, depois nos abraçamos, sem dizer nada, os braços dele me apertava, o abraço estava carregado de medo e incertezas, era como se pedisse para trazer de volta a sua voz e se implorasse para acordá-lo daquele terrivel pesadelo.
–O médico vai me operar! – ele sussurou em meu ouvido, apertando seus braços em meu corpo.
–Eu não posso fazer nada... Desculpe!
Eu o abracei mais forte e afaguei seus cabelos negros, ele deitou a cabeça em meu peito e beijei o topo de sua testa. Ele permaneceu apoiado, recebendo meu carinho por alguns minutos, o mundo fora daquele quarto, para nós, era inexistente.
Bill foi relaxando aos poucos, seus braços foram se desprendendo do meu corpo e sua respiração foi voltando a normal, eu segurei seu rosto com minhas duas mãos, e passei a ponta do meu nariz no dele, beijei-o e logo em seguida toquei seus lábios, Bill fechou os olhos e deixou ser beijado, quando abrimos nossos olhos, sorrimos um para o outro e eu disse a ele, encorajando-o:
–Tudo vai dar certo! – sussurrei fazendo carinho em suas mãos. –Não precisa mais ter medo, agora estou aqui!
Encostei minha testa na dele, ele apertou minhas mãos fortemente, depois eu o aninhei contra o meu peito como se tivemos todo o tempo do mundo, mas não tinhamos...
David entrou no quarto e incomodado avisou que eu tinha que sair, que os enfermeiros já viriam para leva-lo. Dei um beijo e lhe disse afagando seus cabelos.
–Tenho que ir! – tentei conter minhas lágrimas. –Eu vou estar te esperando... Lá fora!
Bill me olhou e entendeu que o meu “lá fora” ” não era for do quarto, não era dentro do hospital, e sim fora dele, longe dali. Percebi que ele queria que eu ficasse, mas a imprensa em poucos minutos estaria toda ali, dei um último beijo e arrumei seus cabelos negros, e antes de sair pisquei com os dois olhos, como sempre faziamos um com o outro, ele fez o mesmo e minha alma doeu quando lágrimas escorreram em seu rosto, vendo-me sair do quarto.
Saí do quarto rapidamente, olhando para Tom e David que fazia vigia na porta, assim que saí, eles entraram, desci pelo elevador e pensei em esperar no saguão do hospital, depois de vinte minutos, percebi uma movimentação na porta da recepção e sem ter nada o que fazer, peguei um táxi e fui para o meu apartamento.
Abri a porta e caminhei até o sofá e deitei-me colocando uma almofada entre as pernas, ficando em posição fetal e ali permaneci, calada e imóvel. O medo nos olhos de Bill vinham como um flash em minha mente, perder ou ter a voz alterada por esse acidente acabaria com a sua vida, seria como arrancar-lhe alma.
Olhei mais uma vez para o relógio, fechei os olhos com força como se isso fosse adiantar os ponteiros do relógio, o tempo parecia passar ainda mais desesperadamente devagar... As horas foram se arrastando...
Até muito longe eu ouvir o som do meu celular, andando devagar fui até minha bolsa e o peguei atendendo-o, a voz do outro lado era grossa. Era a voz de Tom.
–Acabou a cirurgia!
 Postado por: Alessandra

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