sexta-feira, 4 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 37 - Fim desta história e começo de todas as outras.

(Contado por: Aiyra)
- Quer dizer que você sabia de tudo, desde o inicio? – estava abismada. – Sempre soube que minha mãe o traria, e permaneceu calado enquanto ela saia com aquele canalha?!
- O que eu poderia fazer? A Cassie fez sua própria escolha, e independente do que eu dissesse, ela continuaria se encontrando com ele às escondidas.
- E esse foi o principal motivo pelo qual você aceitou se associar ao Gordon. Queria se vingar por todas as coisas que ele fez.
- Sim. – responde, assentindo com a cabeça. – Mesmo sabendo que agindo dessa maneira eu estaria praticamente me igualando a ele, decidi prosseguir. Eu sinceramente queria vê-lo na sarjeta!
- E não pensou um segundo se quer na família dele? Não parou para pensar que atingindo o Gordon, você estaria também prejudicando quem não tinha nada a ver com a história?
- Claro que pensei! Mas... Confesso que pensei um pouco tarde demais. E eu só queria que ele pagasse por tudo! – ele se levanta e dá alguns passos. – Aquele desgraçado tirou minhas jóias mais preciosas! Ele destruiu a minha vida!
Sempre soube que o Pedro fora completamente apaixonado pela minha mãe, mas não desconfiava que esse sentimento pudesse ter se estendido depois de tantos anos. Depois de ele ter se casado e formado uma nova família.
- Fala como se a Clarisse e a Anna não significassem tanto assim. – disse.
- Logicamente as duas são muito importantes pra mim.
- Mas...?
- A Anna não é minha filha.
Foi um misto de susto com surpresa, após aquela revelação. Nunca imaginei, e nada semelhante havia passado pela minha mente. Perguntei-me o porquê de ninguém ter me contado nada, até o momento.
Meus olhos miraram o porta-retrato sobre a lareira da sala. Uma fotografia da Anna, sorridente como de costume. Naquele instante parei para reparar. Nenhum dos seus traços se parecia com os do Pedro. Como não desconfiei antes? Talvez fosse por ele tratá-la com tanto carinho. Um carinho sincero de pai e filha. O mesmo carinho que ele me tinha, quando eu era uma criança.
Senti saudades daquela época, em que o Pedro entrava em casa com um sorriso gigantesco nos lábios, abrindo os braços para me receber. De vez em quando trazia um chocolate e tratava de perguntar como havia sido o meu dia. Foi ai que notei que em alguns dias, ele fez isso com a Anna. Era como se estivesse tentando repetir a rotina que levava antes das coisas mudarem...
- Quando me casei com a Clarisse – despertei do meu devaneio. -, ela já estava grávida. O pai da Anna as deixou assim que soube da gravidez. Foi mais ou menos nessa época que nos conhecemos, e no nosso segundo encontro ela me contou.
- Você... Amava a Clarisse quando se casou? – ele abaixa um pouco a cabeça. – Ou fez um “favor” a ela?
- Eu não a amava tanto quanto sua mãe. – me olha. – Mas com o tempo fui aprendendo a amá-la. E não posso mentir, porque quando vi o primeiro ultra-som, fiquei subitamente apaixonado pela Anna.
- E se acostumou com a presença da Clarisse ao seu lado.
- Talvez. – deu um sorriso pálido. – Mas de qualquer forma, o meu relacionamento não está em pauta nesse instante. – faz uma pausa. – Assim que chegou, você disse que o Bill estava com uma arma apontada para o Gordon e...
- Ai meu Deus! – me lembrei. – Havia me esquecido completamente disso! O Bill está prestes a cometer uma loucura!
***
O carro do Pedro fora estacionado um pouco mais afastado da mansão Kaulitz. A entrada estava sendo bloqueada por duas viaturas e alguns policiais. Lá dentro – depois dos portões – parecia ser um cenário de filme de ação. A propriedade estava cercada por agentes fortemente armados, esperando apenas por um sinal para “atacarem”. A fofoca era de que havia um rapaz descontrolado e armado, mantendo seus pais e irmão como reféns.
Do lado de fora, curiosos começavam a se aglomerar juntamente com fotógrafos e repórteres, que faziam transmissões ao vivo para o telespectador. Pela proporção que aquilo estava tomando, comecei a me preocupar ainda mais. E eu só desejava uma coisa: estar lá dentro.
- Você não pode passar. – disse um policial, me impedindo.
- Ele é meu namorado! Posso ajudar!
- Tem gente demais ajudando. – diz o outro. – Pela sua segurança, fique aqui. O rapaz está armado!
- Mas...
- Senhorita, é melhor ficar aqui!
As horas passavam, e por volta das 16h15 os empregados saíram. Deus, o que o Bill está fazendo? Senti o medo me invadir aos poucos. O dia estava quase chegando ao fim, e nada. Eu – e todos ali fora – não tinha noticia alguma. Tentei ligar para o celular do Tom, mas só chamava e caia na caixa postal. Minhas unhas nem existiam mais. Elas foram roídas de tanto nervosismo.
Os agentes se posicionavam estrategicamente, e estavam prontos para invadir a residência. Segundos depois pôde se ouvir um barulho, algo que se assemelhava a um disparo. Bill! Meu coração acelerou. Imediatamente os agentes invadiram o local. Aquele foi o ápice do meu desespero.
Meus olhos atentos e amedrontados não paravam de mirar a porta de entrada da mansão. Mentalmente eu rezava, pedindo que nada tivesse acontecido ao Bill. Quando avistei o Gordon saindo, o pior passou pela minha mente. Com a ajuda do Pedro, consegui driblar os dois policiais principais. Corri sem olhar para trás. Entrei na casa, passando e esbarrando com quem encontrava pela frente. A Simone saiu de uma das portas, chorando e sendo acompanhada pelo Tom.
- Cadê o Bill?! – perguntei, aflita. – Cadê ele?!
Ninguém respondeu nada. Segui na direção da mesma porta por onde Simone e Tom saíram. Parei, e junto senti o coração parar por breves segundos. A minha respiração ficou diferente, e os olhos marejaram de lágrimas.
(Flashback)
Naquele instante meu mundo desabou. A minha vida estava caída no chão, e uma poça grande de sangue a rodeava.
- Mãaaaae! – gritei e corri até ela.
As lágrimas escorreram como uma cachoeira, e eu desejava que nada daquilo fosse verdade.
(/Flashback)
Era como se eu estivesse revivendo aquele momento novamente. Meu instinto me fez ir até ele, caído no chão. Não tinha uma poça enorme de sangue, mas Bill havia sido baleado. Ao me aproximar, me abaixei. Ele esboça um sorriso a me ver.
- Bill... – disse, e as lágrimas desceram face abaixo. – O que foi que você fez?
- E-Eu... – diz ele, com certa dificuldade.
- Shhhhiii. Não diga nada.
Os paramédicos chegaram e trataram de me afastar dali.
DOIS DIAS DEPOIS...
(Contado por: Bill)
Abri os olhos, tentando me acostumar com a claridade do lugar, que tinha cores neutras e cheiro natural de hospital. Virei o rosto e a Aiyra estava sentada numa poltrona, lendo uma revista. Não me lembrava de muita coisa, mas de alguma forma me sentia aliviado. Lembro-me de ter uma discussão com o Gordon, antes de tudo acontecer. Ele veio pra cima de mim, na intenção de retirar a arma das minhas mãos, e enquanto “lutávamos” apertei sem querer o gatilho. Por azar, o tiro me acertou. Depois disso não consigo me recordar de mais nada.
- Aiyra... – ela se assusta. Fecha a revista e vem até mim.
- Graças a Deus, acordou! – diz ela, segurando minha mão. – Como se sente?
- Bem. – respondi. – Quanto... Quanto tempo estou aqui?
- Dois dias. E nos deu um baita susto!
- A minha mãe, onde ela está? E o Tom? – Aiyra se senta ao meu lado.
- Ela voltou pra casa esta manhã, precisava descansar um pouco. E o Tom deve estar na cantina. Ele também não saiu do seu lado, mas tinha que se alimentar.
Silêncio. Eu queria perguntar sobre o Gordon, mas o orgulho ainda me impedia.
- O que aconteceu com ele?
- Se refere ao Gordon? – assenti positivamente. – Ele foi preso. Os policiais vasculharam o escritório e encontraram coisas que o incriminam, e ainda tem o lance do tiro que você ganhou.
- Foi um acidente!
- Impressão minha, ou está defendendo aquele...
- Não! – interrompeu. - É que... Lógico que eu quero que ele pague pelo que fez. Mas o tiro foi um acidente.
- Tanto faz. De qualquer forma ele será julgado e condenado.
Sei que eu deveria estar “feliz” pelo que aconteceria ao meu pai, mas só de pensar que ele ficará muitos anos na cadeia por puro egoísmo e escolhas erradas, me faz pensar como e quando ele chegou a decisão de que faria aquelas coisas.
MESES DEPOIS...
(Contado por: Aiyra)
Estávamos todos sentados, ouvindo atentamente as palavras do juiz. Não demorou muito até que a sentença saísse. Por todos os crimes que cometeu, Gordon pegou sessenta anos de prisão. Haveria uma redução da pena, mas nada que alterasse muito. Dias antes eu soube que o Jess foi morto, por se meter em encrenca. Por ter participado de alguns atos criminais, o Nick foi sentenciado a quatro anos de reclusão.
Ao sairmos do tribunal, Bill e eu caminhamos um pouco. Desde que tudo aconteceu, ele andava um tanto estranho. Talvez estivesse meio abalado com a rapidez e proporção com que as coisas se sucederam. E o desfecho não foi exatamente o que esperava.
- Preocupado? – perguntei.
- Não. – parecia ter os pensamentos distantes. – Mas acho insuficiente a quantidade de tempo que o Gordon ficará na cadeia. Ele deveria...
- Ei! – parei de frente para ele. – Não vamos falar disso. Acabou. Vamos... Seguir adiante. Esquecer um pouco os acontecimentos.
- Tem razão. – ele sorri. – Vamos esquecer. – me dá um selinho.
Voltamos a caminhar, de mãos dadas.
- Ontem recebi uma ligação daquela universidade que fiz a prova para entrar no curso de música. – diz ele.
- E ai?
- Eles disseram que passei.
- Sério? – fiquei feliz. – Isso é ótimo!
- Mas tem um problema. – fez uma pausa. Novamente paramos. – A universidade fica muito distante daqui e eu teria que me mudar.
Fiquei quieta, sentindo o peso daquilo.
- Então eu recusei.
- O quê? – me surpreendi.
- É. Não fazia sentindo algum eu aceitar.
- Bill...
- Fiz besteiras por querer entrar na faculdade de música e quase perdi você. – me olhava nos olhos. – Eu não poderia cometer o mesmo erro pela segunda vez.
- Vai desistir de tudo... Por mim?
- Por nós.
- E o seu sonho? – ele sorri.
- Tenho novos sonhos, e eles agora incluem você.
Os meus planos e sonhos não eram muitos, mas também o incluía. A minha relação afetiva com o Pedro voltou a ser como nunca deveria ser mudada. Ele e a Clarisse deram um tempo do casamento, para poderem pensar melhor e tomar decisões mais concretas. Ela aproveitou para viajar com a Anna, que participaria de uma apresentação de balé numa outra cidade.
A Simone resolveu dedicar todo o seu horário vago a instituições de caridade. Era agora embaixadora de um importante colégio para meninas. Tom gastava o que lhe restara da sua parte da fortuna, com viagens e alguns investimentos, que no futuro com certeza lhe traria bons frutos.
O Bill conseguiu um emprego de meio período numa escola de música, e passou a compor com mais freqüência. Alguns finais de semana, tocava em barzinhos e ganhava uma certa quantia em dinheiro. Aos poucos sua conta no banco ia crescendo com o esforço do seu trabalho.
Eu? Eu decidi retomar a minha verdadeira paixão: o desenho. Agora não desenho mais em folhas de caderno. Tento transmitir tudo que sinto ou penso, para uma tela em branco. Um conhecido do Pedro descobriu o meu talento escondido, e se ofereceu para patrocinar uma exposição com os meus quadros. E se tudo der certo, em poucos meses estarei leiloando algumas coisas.
“Talvez não fosse sua intenção, mas eu quase morri por sua causa. Por todas as suas besteiras. Acreditei com toda a ingenuidade que uma criança pura poderia ter. Pra mim, as suas palavras eram as mais sinceras. E o que me deu em troca? Um mar de mentiras! Fez com que, de certa forma, a minha vida se transformasse numa verdadeira mentira. Mas quer saber, Cassie? Tudo bem. A sua garotinha agora já está bem crescida, e com munições o suficiente para se defender do mundo lá fora. Estou preparada para tomar todas as rédeas, e prometo que jamais alguém voltará a me enganar.”
Havia um buraco pequeno – do tamanho de uma caixa de sapato – aberto no jardim. Nele havia todas as coisas que eu queria me desfazer: alguns objetos de infância, o porta-retrato com a foto da Cassie, a carta que eu havia escrito pra ela... Com as mãos, fui jogando a terra sobre o buraco e vendo-o diminuir aos poucos.
- Como se sente? – pergunta Bill, assim que terminei o serviço.
- Livre. – respondi, dando um sorriso. – Livre e certa de que nenhuma mentira será capaz de me derrubar.
FIM
 Postado por: Alessandra | Fonte: x

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