sexta-feira, 4 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 36 - Confissão.

(Contado por: 3º pessoa)
A essa altura, Simone olhava para o filho, perplexa. Não entendia a situação, mas também não se interessava em entender. Só queria saber a razão para aquilo tudo. Aponta uma arma para o próprio pai, como se tivesse sérias intenções em matá-lo. Bill está ficando louco? Ela sempre soube que seu esposo não era flor que se cheire, mas talvez não chegasse a tanto. O que de tão terrível ele poderia ter aprontado desta vez? É certo que ela não concordava com algumas atitudes do Gordon, mas não conseguia se quer pensar em algo que ele tenha feito que tivesse deixado o Bill com tamanha raiva.
Por outro lado, Bill queria respostas. Queria uma explicação para tudo que tinha acontecido. Não se conformava em saber que seu pai havia pagado alguém para lhe matar, e muito menos, que tivesse matado alguém. Como ele consegue ser tão frio? Como foi capaz de acabar com a vida de alguém, sem nem hesitar? Será que não pensou um segundo na família que tinha? Provavelmente não. Mas por quê? A ganância por dinheiro alheio era uma justificativa, fútil, sem cabimento algum, mas para o Gordon funcionava perfeitamente. O que Bill não conseguia compreender era porque um homem tão bem sucedido como o Gordon, com uma conta recheada no banco e uma vida consideravelmente confortável, tinha interesse nos bens financeiros do Pedro Burke? E porque diabos ele matou a Cassie, sendo que ela era sua amante?
- RESPONDE! – grita Bill.
- Por favor, Bill. – diz Simone. – Abaixa essa arma.
- Não se mete, mãe! – ele estava claramente bravo. – Eu não saio daqui, enquanto esse monstro não disser toda a verdade! É melhor a senhora se sentar e ouvir tudo que ele vai dizer.
- Eu não fiz nada! – diz Gordon. – O que eu ganharia se mandasse te matar?
- Escuta Gordon, a minha cota de paciência está acabando. – Bill respirava fundo, tentando manter o controle. – Se não começar a falar, eu juro que...
- Vai me matar?! – Gordon se exalta. – É isso mesmo, moleque?! Eu derramei suor para oferecer o melhor para você e seu irmão, e é assim que me agradece? Tentando acabar com a vida do próprio pai, sem dó nem piedade?
O cinismo do Gordon impressionava, de fato. Ele agora tentava se passar por vítima, na “esperança” que Simone, com jeitinho, convencesse Bill a esquecer aquela história de uma vez. Mas a ideia estava fixa na mente do rapaz que, se não cometesse a loucura de atirar, certamente vasculharia o escritório do empresário ali na casa, e entregaria toda a papelada que comprovava o envolvimento do Gordon com a milícia, e todos os seus podres que vinha cometendo desde sempre. Pra alguma coisa deve servir, ter passado tanto tempo ao lado dele indo a reuniões.
Se a teoria de Aiyra estivesse correta, então ela precisava conversar com o Pedro, antes de tomar qualquer atitude. Naquele momento, invadir a suíte dos Kaulitz não era a melhor solução. Isso causaria um tumulto ainda maior, e talvez só piorasse as coisas. Pensando calmamente, com as idéias organizadas na cabeça, ela decidiu que iria para casa. Sem sombra de dúvidas, o Pedro teria algo a lhe dizer. Tom recebeu a tarefa de ficar espreitando do outro lado da porta, tudo que se passava dentro do quarto. Caso houvesse algum sinal de que as coisas estavam esquentando além do ponto, ele chamaria a policia e tentaria dar um jeito enquanto a viatura não chegava.
***
- Graças a Deus! – diz Pedro, ao abrir a porta e ver sua filha. Ele a abraça com força. – Está tudo bem? Te machucaram? Fizeram alguma coisa?
- Não, não! – responde ela, ao se desvencilhar. – Estou bem. Mas precisamos conversar.
Os dois entraram em casa, e logo se acomodaram no sofá. Clarisse apareceu, e não perdeu tempo em dar um abraço em sua enteada. Estava muito feliz por vê-la bem. E por segurança, A Anna fora dormir na casa dos pais da Clarisse, que moram um pouco distantes dali.
- Sobre o quê falaremos? – pergunta Pedro.
- Sobre tudo. – faz uma breve pausa. – Eu já sei que você não teve culpa de nada, e que a minha mãe me fez acreditar em uma mentira, a minha vida inteira. Também sei que ela teve um caso com o pai o Gordon, e que este foi o motivo pelo qual você foi embora.
- C-Como... Como soube disso? – ele estava surpreso.
- Não importa. – diz ela. – O fato é que eu fui a pessoa mais imatura e injusta do mundo. E eu... Eu sinto muito... Por tudo que fiz. – mais uma pausa. – Me desculpa... Pai.
Ela me chamou de pai! Pela primeira vez em tantos anos, ela me chamou de pai! O coração mole do Pedro quase parou de bater naquele instante. Ele esperava por aquele momento, desde que ela viera morar naquela casa. Não via a hora de escutar aquela palavra sair de sua boca, e às vezes se pegava imaginando o dia em que isso fosse acontecer. Foi muito melhor do que eu imaginava.
Com mais um abraço, daqueles de tirar o fôlego, o senhor Burke quase chorou. As lágrimas chegaram bem próximo de escorrerem por seu rosto, mas conseguiu se segurar, assim como Aiyra. Havia mais assuntos a serem tratados, e não era hora para emoções, apesar de qualquer coisa.
- Tem mais. – diz Aiyra. – Se lembra daquele dia em que ouvi uma conversa sua com a Clarisse, muito estranha? – ele assente positivamente com a cabeça. – Então, eu tenho quase certeza de que aquela conversa tem haver com a minha mãe e o pai do Bill. – Pedro solta um suspiro. – Você precisa me contar.
- Aiyra...
- Nesse exato momento... – ela interrompe. – O Bill está com uma arma apontada para o Gordon. E se eu não souber do que se trata, talvez não possa ajudá-lo.
- Filha, você não poderá ajudar.
- Porque não?
Com detalhes, o Pedro foi contando tudo para Aiyra, que ouvia atentamente. No inicio ela não acreditou muito, mas levando em conta todas as coisas que já tinha escutado desde aquele momento, não era muito difícil de levar aquelas palavras a sério.
***
- Tá legal! Eu vou... Vou dizer.
- Finalmente! – diz Bill.
- Quando conheci a mãe da Aiyra, a empresa não estava na melhor época. Os investimentos não estavam dando mais certo como antes, e a cada dia que passava, nosso dinheiro parecia desaparecer diante dos nossos olhos. Ninguém além dos acionistas majoritários sabia disso, e esse foi o principal motivo pelo qual decidimos ir atrás do Pedro, porque através de uma reportagem ficamos sabendo do seu prestigio. Enxergamos ali uma ótima oportunidade para fazer com que tudo voltasse a ser como antes. Ele era um homem cujo empreendimento crescia de maneira rápida e eficaz. – explicou. – Nesse meio tempo entre as reuniões, tive um caso com a Cassie.
- Como?! – diz Simone, incrédula. – Estava me traindo?!
- Não foi nada pensado. – Gordon justifica. – Aconteceu. E pouco tempo depois ela se separou, achando que eu faria o mesmo. – ele continua. – Mas eu não poderia deixar minha família.
- Claro que não! – Bill ironiza. – A sua “família” servia de escudo para suas falcatruas, não é? Mas... Prossiga.
- Ela passou a me ameaçar, dizendo que se eu não me separasse, contaria para vocês.
- E ai você resolveu bolar um plano para matá-la. – Bill puxa uma poltrona que estava por perto e se senta, mais interessado no assunto.
- A morte dela foi como uma conseqüência. – diz Gordon. – Logo após a separação, o Pedro se mudou para esta cidade. E apesar de termos nos tornado mais amigos, ele não aceitou rapidamente ser sócio da empresa. Foi ai que, pensando um pouco, achamos que se a Cassie morresse algumas coisas mudariam.
- Meu Deus! Esse tempo todo eu estava dormindo ao lado de um assassino! – disse Simone.
- A Aiyra viria morar com o pai, e por ter uma grande amizade com você, acabaria colocando-a para estudar no mesmo colégio que o Tom e eu. – disse Bill. – Sem nem pensar duas vezes, você daria um jeito de aproximá-la de um de nós dois, fazendo com que o interesse dela crescesse ainda mais. Se um casório saísse, seria perfeito! Você mataria o Pedro, e boa parte da fortuna dele seria destinada a ela. Sendo da família, a Aiyra não se importaria tanto em deixar o sogro tomar conta dos negócios que fora de seu pai.
- Exato. – Gordon admite. – Tirando a morte da Cassie e a vinda da Aiyra, o restante foi lucro. As coisas aconteceram sem premeditação, e muito melhores do que se tivesse sido planejado. O único problema é que alguém deu para trás, quando percebeu a grandiosidade do plano.
Silêncio. Ninguém sabia ao certo como agir ou o que dizer dali em diante. A confissão caiu como uma imensa rocha, naquele quarto. E mesmo tendo dito a verdade, ninguém naquele lugar – Simone, sentada ao lado de Gordon, e Tom escondido do lado de fora – acreditou que pudesse ter um fundo de realidade nas coisas que dissera.
- Quem diria – disse Bill, se levantando. – que o empresário mais rico, que no caso é você, está falido. É inacreditável, sabia? – solta uma gargalhada.
- Está rindo do quê? Você é meu filho, isso significa que também está pobre!
- A diferença, Gordon, é que a pobreza não me assusta. E eu não seria capaz de matar ninguém pra permanecer no topo.
- Ou seja, você não vai me matar. – ele dá um sorriso cínico. – É muito mais fraco do que eu poderia imaginar, Bill.
Naquele instante Bill respirou profundamente, mantendo a arma em punho. Olhou para sua mãe e viu o medo em seu olhar. Não posso fazer isso com ela aqui. Por mais que uma parte dentro de sua mente gritasse para que largasse aquela arma, a outra parte praticamente implorava que ele puxasse o gatilho. E ele não podia negar que sua vontade de acabar definitivamente com aquilo, falava mais alto.

Postado por: Alessandra

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Arquivos do Blog