sexta-feira, 4 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 33 - Foi fácil demais.

(Contado por: 3º pessoa)
(Flashback)
As duas estavam sentadas frente a frente, na cama da Aiyra. Calmamente, Cassie tentava explicar-lhe os motivos pelo qual o Pedro havia tomado a triste decisão de ir embora. Ela não quis entrar em detalhes, até menos para não comprometer a si própria, mas fez questão de deixar tão claro quanto a água, que a culpa era toda dele. A frase “Ele se cansou d agente”, era uma das poucas coisas que não se cansava de repetir desde a partida dele.
- Você entendeu, não é querida? – pergunta Cassie, com ternura.
- Não. – responde a pequena Aiyra. – Quer dizer que... O papai não vai mais voltar?
- Nós já conversamos sobre isso. – coloca uma mexa do cabelo dela para trás. – Daqui pra frente seremos só nós duas.
- Por quê?
- Parece que ele se cansou da gente.
(/Flashback)
Já estava escurecendo. Aquele silêncio ensurdecedor se impregnou por todo o cômodo. Os olhos de Aiyra estavam marejados de lágrimas prontas para escaparem pelo seu rosto, e pareciam apenas esperarem uma ordem. Ela continuava se perguntando, como nunca desconfiara de absolutamente nada. Apesar de muito nova, sempre foi uma garota esperta e deveria ter prestado mais atenção nos detalhes. Mas não é tão simples assim, ainda mais quando se tem sete anos. Certos assuntos são restritos e costumam confundir uma mentezinha, e não foi difícil a Cassie conseguir manipulá-la. Estava vulnerável demais.
Mas o que a deixava mais revoltada não era apenas o fato de sua mãe ter traído o Pedro, e sim, ter sustentado aquela mentira e dito que a culpa vinha exclusivamente dele, quando a verdadeira cobra estava bem ao seu lado. Cassie agiu como profissional, não levantando qualquer tipo de suspeita durante anos, fazendo-a acreditar que o Pedro as abandonara para formar outra família. E inocentemente, Aiyra acreditou. Como fui injusta, meu Deus! Nem ao menos deu uma chance a ela para que se explicasse. Saiu atirando todas as pedras que encontrava pelo caminho, achando que estava se defendendo.
Além dos seus problemas, ela também se preocupava com Bill. O rapaz se manteve de cabeça baixa e calado desde que o Jess se retirou. Não pronunciou uma palavra se quer, nem esboçou qualquer reação. Ela nunca o tinha visto daquele jeito, e de alguma maneira se sentia culpada por tudo que acontecia. Se não fosse por sua mãe, sem sombra de dúvidas, nenhum dos dois estaria naquela enrascada. Ele arriscou a própria vida para salvá-la, mesmo sabendo que a tentativa fora inutilmente frustrada. Mas não pensou duas vezes. Foi atrás dela com a cara e a coragem, e talvez isso seja... Amor.
Aiyra vira seu rosto para olhá-lo. Com os pensamentos distantes, Bill não escutou o chamado dela. Como deve estar sua cabeça, hein? Aposto que um bilhão de coisas se passa ai dentro, e também deve estar se perguntando como tudo chegou aquele ponto. E de fato estava. Era tanta coisa em sua mente, que quase não conseguia raciocinar. Queria agora, mais que nunca, encontrar um meio para escapar daquele lugar. Precisava de respostas, e só as encontraria quando confrontasse seu pai.
- Bill! – ele reage tendo um sobressalto. – Me desculpa. – diz ela. – Eu coloquei sua vida em risco. Se não fosse por mim, você não...
- Se o que ele disse for verdade – a interrompe, sem olhá-la. -, o Gordon me mataria de qualquer maneira. Eu estando aqui ou não.
- Mas eu facilitei as coisas. – ele a olha.
- Você só adiantou o processo para eu terminar de descobrir o monstro que se diz ser meu pai. – silêncio. – E por você... Eu iria até no inferno se fosse preciso.
As emoções estavam à flor da pele e ela não conseguiu se segurar, deixando o rio de lágrimas escapar pelos seus olhos, escorrendo por sua face. Ela se lembrou quando o Gordon foi a casa do Pedro pra dizer todas aquelas barbaridades sobre o Bill, e como um erro repetido, ela o julgou e não lhe deu tempo para explicações. Sou a pior pessoa do mundo! A mais injusta e burra! Porque nunca escuto ninguém? Porque nunca escuto a voz que insiste em me avisar que devo seguir pelo outro caminho?
- Ei, ei, ei! – diz Bill. – Não chore! Nós encontraremos uma maneira de sair daqui.
- Como? Nós nem sabemos onde estamos!
- O Tom nos encontrará. – disse, num quase sussurro. – Acredite, ele vai nos ajudar.
Nem o próprio Bill acreditava em suas palavras, mas precisava ter confiança. Pensar negativamente não ajudaria em nada. Aconteceu alguma coisa! Essa droga de celular já deveria ter sido rastreada! Porque eles demoram tanto? A porta se abriu e um dos comparsas do Jess entrou. Ele se aproximou de Aiyra, agachou-se e desamarrou os pés dela.
- Vem Burke. – diz o homem. – Vamos dar uma voltinha. – ele segura em seu braço e a conduz para fora.
- Pra onde estão levando-a?! – grita Bill. – Ei! O que vão fazer?!
Ela sente o medo percorrer todo seu corpo, estava apavorara, desesperada e sem poder fazer nada. Bill fez alguns movimentos, na tentativa de conseguir soltar suas mãos, mas nada conseguiu. Ficou irritado e sentia-se impotente por não poder defendê-la como queria.
Os dois seguiram por um corredor cumprido. No meio do caminho Aiyra encontra Nick, e por um instante achou que fosse ajudá-la, mas infelizmente ele não podia fazer nada em relação aquilo. O homem a impulsionou para frente, segurava o braço dela e a conduzia para onde deveriam ir. Subiram uma escada de madeira que estava prestes a cair aos pedaços de tão velha. Depois seguiram por outro corredor, um pouco menor que o anterior e por fim pararam em frente a uma porta de cor escura. Havia o número 13 gravado na mesma.
- Está entregue. – diz o homem, soltando seu braço e lhe dando um leve empurrão em direção à frente.
Com as mãos trêmulas e com certa dificuldade, Aiyra gira a maçaneta e se depara com um quarto. Além de ser totalmente diferente do que estava a poucos minutos, era arrumado e se encontrava em bom estado. Ela entra, encostando a porta atrás de si. A pouca iluminação a deixou um tanto desconfortável. Dá alguns passos e se sente dentro de um motel barato de beira de estrada, prestes a transar com um caminhoneiro velho e barrigudo. As paredes eram pintadas de vermelho escuro, havia uma cama de casal grande e duas mesinhas de cabeceira.
- É bom vê-la aqui. – Aiyra se vira assustada e vê o Jess entrando. – Pensei que não fosse vir. - virou-se para ela e sorriu. Caminhou até uma das mesinhas de cabeceira e repousou uma arma sobre a mesma. – Aqui é muito melhor que lá embaixo, não acha?
- Eu sinceramente gosto mais de lá. – a encarou.
- O que aquele playboy magrelo tem de melhor que eu não tenho? – começa a se aproximar dela.
- Caráter. – responde ela.
Irritado e insatisfeito com a resposta, Jess reage de forma inesperada e dá uma bofetada no rosto dela. Em seguida, ri.
- Não é a toa que está seguindo o mesmo caminho que a mãe. – segura o rosto dela e a obriga a olhá-lo. – Eu já deveria ter matado você, sabia? Mas... Sou tão bonzinho, que ainda não fiz isso. – ele afasta uma mecha do cabeço dela que caia no rosto. – Eu não fiz isso por que... Estou lhe dando a chance pra dizer que quer ser minha.
- Eu prefiro morrer! – diz ela, e Jess a solta.
***
Nick inventou uma desculpa esfarrapada e fez com que o segurança que tomava conta do local onde Bill se encontrava, saísse. Assim que o rapaz virou as costas, Nick adentrou o recinto e tratou logo de livrar o mocinho das cordas apertadas. Os dois bolaram rapidamente um plano arriscado, mas que deveria ser colocado em prática. Bill aproveitou o momento e pegou seu celular. A bateria estava descarregada e isso justificava ninguém ter entrado em contato.
- Se o Tom não conseguiu rastrear o celular, não teremos como sair daqui. – diz Bill.
- Vou tentar avisar a policia, mas estamos praticamente fora da cidade e duvido que eles cheguem a tempo. – faz uma pausa. – De qualquer forma, seguiremos com o plano.
- E que a sorte esteja do nosso lado.
Mais experiente, Nick entrega uma arma carregada nas mãos de Bill e lhe diz para usá-la sem medo. Ele não tinha a menor noção de como manusear a mesma, mas na hora da necessidade acabaria aprendendo. Com os olhos e ouvidos atentos, Bill seguiu seu caminho e desejou sorte para si mesmo. Um pouco mais adiante, encontrou a escada da qual o Nick havia lhe dito. Subiu com cuidado, tentando não fazer barulho e ao final, pode ouvir os gritos abafados de desespero da Aiyra, que pareciam ser ignorados.
Ele acelera os passos, pensa rapidamente no que fazer. Não queria colocar a vida dela em risco, então abre cuidadosamente a porta. Aiyra estava deitada na cama, com os punhos e tornozelos amarrados nas extremidades da mesma. Trajava apenas calcinha e sutiã, e seus olhos transbordavam lágrimas. Jess estava sobre ela, totalmente desnudo, executando as preliminares de um ato sexual.
- Sai de cima dela! – diz Bill, apontando a arma.
Ao vê-lo, Aiyra se sente mais aliviada, mas não completamente segura. Jess se levanta e ri, desacreditando que ele pudesse usar a arma.
- Eu poderia lhe oferecer um prêmio por ter escapado. – diz Jess.
- Cala a boca e solta ela! – Bill ordena.
- Ou o quê? Vai atirar em mim? – desafiou.
- Quer pagar pra ver?
- Fala sério, playboy! – Jess ri novamente. – Você não seria capaz de machucar uma mosca se quer.
- Tem certeza? Posso garantir que a minha mira é perfeita. – disse com tanta seriedade que quase acreditou em si mesmo.
Se for verdade ou não, ninguém poderia dizer concretamente. O mais importante é que Bill não poderia deixar que seu “adversário” soubesse de nada. Ele mirou na parede atrás de Jess e puxou o gatilho. Aiyra gritou assustada. A mira completamente destorcida acertou diretamente na cocha direita do Jess, fazendo-o cair.
- Desgraçado! – grita Jess, tentando estancar o sangue com as mãos. – Eu vou te matar, filho da puta!
- Eu avisei que a minha mira era perfeita.
Sem desviar sua atenção do baleado, Bill se aproxima da cama e começa a desatar os nós das cordas que prendiam as mãos de Aiyra. Com elas livres, a moça pode se ajudar e desvencilhou seus tornozelos. Enquanto isso, Bill se certificava de que o Jess não iria se mover nenhum milímetro. Aiyra imediatamente se vestiu.
- Você está bem? – pergunta Bill, dirigindo-se a ela, com o dedo no gatilho e a arma apontada para o Jess caído no chão e gemendo de dor. – Ele machucou você? Conseguiu...
- Não, não! – ela soluçava. – Mas me tira daqui. Eu quero sair desse lugar!
- Vocês acham mesmo que conseguirão sair daqui vivos? – pergunta Jess. – E mesmo que consigam, acredita que seu pai vai desistir da ideia de te matar?
- Tenho certeza que não. – responde Bill. – Mas quando ele vier, estarei preparado.
***
Ainda pelado, Jess fora amarrado na cama. Sangrava muito e praticamente implorava por socorro, alegando que só estava cumprindo ordens superiores. Bill e Aiyra desceram as escadas, observando tudo em volta. Não havia nenhum sinal dos comparsas do Jess por perto e aquilo poderia ser perigoso. Cuidadosamente eles caminharam pelo cativeiro, tentando encontrar a saída. Pararam um segundo para verificar o último corredor, por onde passariam. E após isso, estariam livres.
- Tem alguma coisa errada. – diz Bill, num sussurro.
- Tipo? – Aiyra estava logo atrás dele.
- Não há ninguém tentando nos impedir de sair. – ele segura na mão dela e os dois caminham em direção a saída.
- E isso é ruim?
- Talvez. Eles podem estar armando alguma coisa.
Nick estava do lado de fora esperando. Encostado num carro preto, com a porta do passageiro aberta. Ele fez um sinal, para que os outros acelerassem os passos. Aiyra correu para abraçá-lo.
- Que bom que você está bem. – diz Nick.
- Onde está todo mundo? – pergunta Bill.
- Não faço ideia. – responde Nick. – Vasculhei tudo e não encontrei ninguém.
- Como assim? – diz Aiyra. – Foram todos embora e deixaram o Jess sozinho?
- Eu disse que tinha algo errado.
- Eu não sei o que isso significa, mas é melhor você tirá-la daqui o mais rápido possível. – Nick se dirige a Bill.
- E você? – Aiyra se preocupa.
- Vou me esconder na mata e esperar a policia chegar. Ficarei bem.
Ela não queria partir e deixar o amigo para trás, mas também não via a hora de estar em casa. Após muita insistência, Aiyra concorda em entrar no carro. Nick recomenda que Bill dirija devagar e com os faróis desligados, só para o caso deles encontrarem alguém que possa impedi-los de prosseguir. Também indica um atalho por uma estrada que daria acesso mais rápido às vias movimentadas.
***
Bill dirigia pela estrada semi-escura, sendo iluminada apenas pela Lua. Ambos estavam calados, mas não durou muito tempo.
- Não acredito que finalmente poderei ir pra casa. – diz Aiyra, soltando um suspiro de alivio e quebrando a barreira do silêncio.
- Nós não podemos ir pra casa agora. – diz Bill, com seus olhos atentos na estrada.
- O quê? – ela não entende. – Porque não?
- Porque você não quer morrer e muito menos colocar sua família em risco. – responde, um tanto frio. – Nossa fuga foi fácil demais, e isso quer fizer que ainda não acabou.
- Como assim? É claro que acabou! Só falta a policia chegar.
- Esqueceu-se de quem encomendou o crime? – ele a olha rapidamente. – O Gordon vai fazer o impossível pra me encontrar, e se você estiver incluída nisso, corre tanto perigo quanto eu.
 Postado por: Alessandra

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