sexta-feira, 4 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 35 - Um plano gigantesco - apenas uma hipótese.

(Contado por: 3º pessoa)
Àquela hora da manhã – quase 6h30 -, seria bem provável que todos ainda estivessem dormindo. Gordon só acordaria às 7h15, e seguiria seu ritual matinal: tomar um banho, ajudar a empregada na escolha de sua vestimenta, tomar o café enquanto lê o jornal, e só então pegaria sua maleta e partiria para o escritório. Isso significava que Bill tinha pouco tempo para entrar lá e confrontar o pai. Uma tarefa nada simples e que corria o risco de dar completamente errado.
Através do vidro escuro do carro, Aiyra olhava na direção da casa. Pensativa, parecia estar prevendo tudo que poderia acontecer. Se pudesse dizer qualquer coisa que o fizesse desistir daquela ideia maluca, com certeza não hesitaria. Mas ela tinha quase certeza de que nada o faria recuar. Nem que implorasse de joelhos.
- Tem certeza que vai levar essa história adiante? – pergunta ela, virando seu rosto para olhá-lo. – Ainda dá tempo de voltarmos pra casa do Carlos.
- Eu não posso e não quero desistir. – responde Bill, com seriedade. – Se eu fizer isso, estarei provando ao Gordon o quão covarde sou.
- Mas você não é! E nós sabemos disso.
- Não é o bastante. – ele desvia o olhar por um instante. – Quero provar que não sou tão manipulável quanto ele achava que eu fosse. Quero arrancar dele, aquilo que, talvez, ninguém mais poderá tirar.
- E pretende fazer isso, se jogando na jaula dos leões? É burrice, Bill!
- Aiyra... Eu vou e acabou!
Ficam quietos, apenas se olhando. Ela solta um suspiro, coloca a mecha de cabelo que havia escapado, atrás da orelha. Pensa, repensa e novamente chega à conclusão de que nenhuma palavra ou atitude faria com que Bill ligasse o carro, e os dois voltassem para a casa do amigo dele
- O Tom ao menos suspeita desse seu plano? – ela quebra o silêncio.
- De forma alguma! Se ele souber, tentará me impedir. E eu preciso de um tempo sozinho com o Gordon, sem que ninguém interrompa.
- Está tramando alguma coisa, não está? – pergunta ela, desconfiada.
- Não, claro que não.
- Bill... – ela faz uma pausa. – Promete que vai pensar pelo menos uma vez antes de tomar qualquer atitude que possa prejudicá-lo?
- Tá.
- Promete?
- Prometo. Eu prometo que não farei nada de mais. – Aiyra esboça um leve sorriso. – E você também deve me prometer que vai embora sem olhar pra trás, se eu não aparecer em uma hora.
- O quê? – ela solta uma gargalhada. – Você perdeu a noção de vez!
- Escuta, se algo acontecer a mim, você será a próxima! Não pode ficar aqui parada esperando que o Gordon, ou seja lá quem for, vir te matar.
- Esquece, Bill! Só sairei daqui se você estiver comigo! Então acho muito bom que volte da mesma maneira que entrará lá, ok? – ele ri. – E eu não estou brincando.
(flashback)
NOITE ANTERIOR...
Enquanto Pedro caminhava para ambos os lados, nervoso por não ter nenhuma noticia de sua filha há algum tempo, Clarisse tentava acalmá-lo com suas palavras. A essa altura, ela já ficara sabendo de toda a história e não fazia a menor ideia de como ajudar. Fazia algumas noites que ele não dormia direito, pensando apenas no que poderia estar acontecendo. E quando o Tom lhe informou sobre a falha no rastreamento do aparelho celular do irmão, a preocupação cresceu ainda mais.
- Querido, porque você não tenta se acalmar um pouco? – diz Clarisse.
- Como? – ele pára e a encara. – Me diga, como? A minha filha pode estar morta numa hora dessas e você me pede pra ficar calmo?!
- Você sabe muito bem que noticias ruim correm pela boca do povo numa rapidez impressionante. E se isso ainda não aconteceu, é porque ela está viva!
- Quem me garante, Clarisse?
A pequena Anna usava a mesinha de centro como apoio para desenhar. Não entendia nada da conversa e também não fazia muito interesse em compreender. Sabia que aquilo era coisa de “gente grande” e vendo o pai no estado em que se encontrava, era melhor nem fazer perguntas, ou acabaria irritando-o.
Um barulho vindo da porta, fez com que as atenções fossem direcionadas à mesma. E poucos segundos após, não existia mais porta – pelo menos não fechada. Ela havia sido arrombada por dois homens altos, vestidos inteiramente de preto. Com o susto, Anna grita e corre para o colo da mãe. Instantes depois, Gordon adentra o local.
- Olha só o que eles fizeram. – diz ele, se referindo a porta. – Eu disse para serem cautelosos.
- Desculpe, senhor. – diz um dos rapazes.
- Boa noite. – Gordon abre um sorriso sínico. – Estou atrapalhando em alguma coisa?
- O que... O que foi isso?! – pergunta Pedro.
- Bem, você invadiu o meu escritório. Me senti no direito de fazer o mesmo contigo.
- Veio até aqui pra debochar da minha cara e dizer o quanto sou um pai inútil por não conseguir fazer nada em relação à Aiyra.
- Não. – responde ele, tomando a liberdade de ir se sentar numa das poltronas da sala. – Vim tratar de negócios. E acho melhor pedir a sua esposa que se retire com a criança. É uma conversa, digamos que... particular.
Clarisse pega a menina no colo e se retira, subindo as escadas e indo para o quarto. Gordon faz um sinal com as mãos, e um dos homens que o acompanhava entrega a Pedro uma pasta na cor azul.
- O que é isto? – Pedro hesita em abrir.
- Este é o documento que você assinará, direcionando a mim totais poderes sobre seus bens. Ou numa forma mais clara, isso significa que você ficara pobre e eu... Um pouquinho mais rico.
- E você sinceramente acredita que assinarei estes papéis?
- Tenho certeza. – estava sério. – Não lhe resta escolhas, meu caro amigo. – faz uma breve pausa. – Ou você assina essa porcaria, ou a sua filha morre.
Elegantemente. Era assim que o Gordon pronunciava cada palavra, com a elegância de um verdadeiro executivo bem sucedido. Ele já sabia que tanto o Bill quanto a Aiyra não estavam mais no cativeiro, que haviam fugido por incompetência de terceiros. Vendo que seus planos estavam prestes a serem estragados mais uma vez, resolveu agir.
(/flashback)
***
Bill entra sorrateiramente em casa, observando cada canto por onde passava, tentando não ser visto por nenhum dos empregados. Ele vasculha alguns cômodos, e por fim chega ao quarto do casal. Abre vagarosamente a porta e vê que seus pais ainda dormem. Entra, se aproxima da cama, ficando logo ao lado do pai. O encara, como se estivesse pensando numa boa maneira de acordá-lo.
No seu bolso havia uma arma – a mesma que Nick lhe dera -, então ele a sacou e apontou para o Gordon. Sentiu uma imensa vontade de atirar, mas aquilo faria com que toda a “magia” desaparecesse. Ele queria ver no rosto dele, o mesmo desespero que sentiu quando esteve amarrado naquele cativeiro. Instantes depois, o Gordon abre os olhos e se depara com aquilo.
- Bom dia... Pai. – Bill dá um meio sorriso.
- O que está fazendo? – Gordon revezava seu olhar, ora para Bill, ora para a arma apontada em sua direção. – Como conseguiu entrar aqui?
- Esta é a minha casa, e a partir de agora, quem faz as perguntas sou eu.
Aiyra roia as unhas de tanto nervosismo. Daria qualquer coisa para ser uma mosca e poder espiar o que acontecia dentro da casa. Inconformada, e sendo considerada uma pessoa desobediente, resolveu quebrar as regras novamente. Saiu do carro e foi de encontro a mansão Kaulitz.
Lá dentro estava tão silencioso que chegava a ser incômodo. Ela caminhava com as pontas dos pés, tremendo de medo. Chegou à sala principal, e quando estava prestes a subir a escada, se assusta.
- Aiyra? – ela se vira, com uma das mãos em seu peito.
- Tom, ainda bem que eu te encontrei. – ela desce os dois degraus que havia subido e o abraça.
- Tá fazendo o quê? Cadê o Bill?!
- Ele tá aqui. – ela sussurra.
- Aqui... Onde? – ele olha em volta.
- Não sei. – continuava sussurrando.
- Porque está sussurrando?
Ela olha para ambos os lados, segura no braço dele e o arrasta para um canto.
- Tom, a gente precisa fazer alguma coisa antes que seja tarde demais!
- Me explica tudo do começo, porque eu não tô entendendo nada! Como vocês conseguiram escapar?
- É uma história muito, mas muito longa e não temos tanto tempo assim. Mas vou resumir pra você. O seu pai conhecia a minha mãe, depois ele a matou. Ele bolou aquele plano estúpido, e contratou uma pessoa pra matar o Bill.
- O-O quê? – Tom fica surpreso e confuso.
- Espera.
Aiyra pára por um momento.
- No meio dessa história existe um buraco. – diz ela.
- Como assim?
- O seu pai... Se ele e o Pedro não se conheciam, como pode ser possível eu me tornar a peça “principal” para que o Gordon conseguisse todo o dinheiro do Pedro?
- Ahã?!
- A não ser que... – ela continuava raciocinando. – A não ser que tudo isso não passasse de um gigantesco plano.
- Aiyra, do que está falando?
- Pensa comigo, Tom. Se o Gordon conheceu a minha mãe, certamente também conheceu o Pedro, que na época era um dos homens mais ricos da cidade.
- E daí?
- Se os seus pais fossem separados, e cada um deles morasse numa cidade diferente, provavelmente você e o Bill morariam com a Simone. E o único jeito de fazer com que isso mudasse, seria se ela morresse. – Tom fez cara de dúvida. – Ou seja, o Gordon nunca teve interesse afetivo em minha mãe. O tempo todo ele esteve de olho na fortuna do Pedro. E com a separação dos dois, a morte dela e por eu ser menor de idade, com quem eu seria obrigada a morar?
- Com o Pedro. – responde ele, começando a entender.
- E onde eu iria estudar?
- Num dos melhores colégios da cidade.
- E quem eu conheceria nesse lugar?
- O Bill e eu.
- Bingo!
Eles sorriem. E o raciocínio não pára por ai.
- Seria muito mais fácil pro Gordon, se eu me apaixonasse por um de vocês e acabasse me casando. Essa seria a oportunidade perfeita pra matar o Pedro, sem que ninguém desconfiasse do sócio unitário da empresa. Assim eu ficaria com metade da fortuna, o que é um dinheiro extremamente generoso, considerando os anos de trabalho dele.
- Tá querendo dizer que esse plano vem de muitos anos atrás? – faz uma pausa. – E que o meu pai estava somente esperando o momento certo de agir?
- Bem, é só uma hipótese. Mas que pode ser verdade.
- Caramba, se isso for verdade...
- O Bill já sabe de tudo! – interrompe. – Então só pode ser por isso!
- Por isso o quê?
- Ele veio decidido a falar com o pai de vocês, o que significa que não medirá esforços pra isso! O Bill quer uma confissão!
- Pra quê?
- Como pra quê? Não está claro?
- Ele quer colocar o Gordon na cadeia.
- Ou matá-lo, depois de conseguir o que quer.
Considerando que aqueles pensamentos eram estranhos e que talvez não fizesse o menor sentido, os dois resolveram se apegar apenas à parte em que o Gordon havia aprontado todas, e que o Bill também estaria correndo algum risco.
 Postado por: Alessandra

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