quinta-feira, 7 de julho de 2011

Angel In Disguise - Capítulo 13

- Eu confio. -  Disse o olhando fixamente, sem conseguir me mexer.
- Então vamos para casa. -  Disse puxando minha mão, e eu o segui.

 Fiquei nervosa durante toda a volta pra casa, estávamos de mãos dadas como namorados, as pessoas passavam por nós nas ruas agitadas de NY com olhares fixos, admirando a forma como andávamos e estávamos conectados. Mas não trocamos uma só palavra durante todo o trajeto. O anjo punk Bill calado me deixava apavorada, por mais que a presença dele me deixasse segura.

 Chegamos em casa tirei meu casaco, Bill foi direto pro banho, em silêncio, soltando um sorriso lindo de lado quando pegou a tolha e sentiu o cheiro de amaciante.
Fui para meu quarto e fiquei pensando em milhares de coisas, e uma delas era “O que será que Bill tem para me contar?”. Enquanto bolava mil e uma alternativas ele apareceu de conjunto de moletom preto, cabelo molhado penteado para trás, sem maquiagem e sentou ao meu lado na cama com a toalha molhada nas mãos.
- Não vai tomar banho? -  Perguntou observando minhas reações e meu olhar pensativo. -  Tava pensando em quê? -  Agora me olhava nos olhos como se estivesse procurando a resposta neles.
- Vou tomar banho depois que você me falar o que tiver para me falar. -  Respondi seca desviando meu olhar do dele, arrumando a colcha da cama e colocando o cabelo para trás.
- Ah, então é isso que está te incomodando? Sara, não precisa se preocupar. – Bill colocou o braço por trás de meus ombros e me puxou para perto dele e deu um beijo em minha testa.
- Então me fale.
- A Vitória vai se salvar. -  Disse sorrindo e me olhando ainda de lado.
- É sério? Deus te contou isso?
- Hmm. -  Bill respondeu fazendo bico e em seguida falando com a voz alegre. -  Ela conseguiu um doador.
- Jura?! -  Meus olhos queimaram de alegria e não conseguia evitar de sentir minha bochecha queimar junto e um sorriso largo brotar em meu rosto. -  Quem é? Quer dizer, a Verônica já sabe disso? Você contou par ela? – Fui soltando pergunta atrás de pergunta, e a face de Bill era de quem não conseguia acompanhar meu ritmo, completamente confuso.
- É... não Sara, não posso contar para ela. Só estou contando para você, pois não aconteceu ainda, o contato com o hospital avisando do doador.
- É um homem então? -  Parei para me corrigir. – Quer dizer, um menino?
- Um jovem. -  Bill tirou o sorriso mas ainda estava com a voz animada.
- E ele morreu?
- Sim. -  Bill agora ficou calado e olhou para baixo, observando a colcha da cama. -  Ele foi para um lugar melhor e vai dar a chance para Vitória viver melhor. Entende como as coisas funcionam? -  Bill segurou minha mão, ainda olhando colcha. -  Pode ir tomar seu banho, e depois a gente conversa mais. – Finalmente me olhou e deu um leve sorriso de lado, não conseguindo disfarçar a tristeza em seu olhar. Tristeza que me deixou um pouco triste, mesmo quando ainda pensava em Vitória recuperada.
Fui para o banho e fiquei pensando há quanto tempo eu não usava drogas para dormir, acordar, e como eu havia mudado durante essas semanas com Bill. Até Damon havia reparado, Lourdes vivia dizendo que eu estava parecendo que vi um anjo, com a cara calma e estava menos agitada como eu costumava ficar na lanchonete. Mal sabia ela que eu via um anjo, o MEU anjo, todo dia, e que ele a ajudava na cozinha.
Eu havia me tornado outra pessoa, mesmo achando que minha vida não era nada como eu queria, eu havia me transformado em alguém melhor do que eu imaginava que poderia ser, e tudo graças a Bill, meu punk, meu anjo... meu amor.
Sorri sozinha enquanto me ensaboava e despertei com um barulho na cozinha. Saí do banho rapidamente e ao chegar à cozinha Bill estava completamente banhado de massa de bolo de chocolate. Ele me olhou com o pote vazio e a colher na mão, com cara de criança pega no flagra fazendo arte. Embrulhada na tolha, tive uma crise de riso tão grande que me faltava o fôlego. Fui até ele e pegando o pote da mão disse:
- Como você conseguiu fazer isso punk?
- Foi uma mosca. Veio na direção do pote enquanto eu batia a massa eu fui bater nele com a toalha, segurando o pote e a colher enganchou no pano e virou tudo. – Revelou olhando a massa no chão e a carinha linda cheia de massa. -  Era para ser uma surpresa. Aprendi a fazer ontem. Bolo de chocolate, você disse que gostava e a Lourdes me deu a receita. -  Terminou desapontado consigo mesmo e depositando o pote na pia.
- Ahhn. – Fiz bico com a cara dele e fui abraçá-lo. – Você já comeu bolo de chocolate?
- Não.
- Então ta. Tive uma idéia punk desajeitado. -  Vou me arrumar e já volto, e quando eu voltar a gente vai fazer o nosso primeiro bolo de chocolate juntos. -  Disse feliz sem esperar que ele respondesse qualquer coisa, me virei e fui para o quarto.
Quando voltei ele estava limpando a bagunça e fui ajuda-lo, depois de limpar o chão peguei um pano de prato limpo e molhei na torneira, ele me pegou pela cintura, me colocando no balcão.
- Acho que assim fica melhor, você é baixa. -  Ele disse com tanta doçura que não me senti ofendida com o “Você é baixa”, até porque qualquer ser humano normal era mais baixo que ele.
- Obrigada pelo baixa, girafa! -  brinquei limpando a bochecha dele que estava completamente marrom de massa.
Ele riu e ficou sério quando fique completamente concentrada limpando cada fragmento de sua pele que estivesse com massa. Ele engoliu seco quando toquei seu rosto com a mão e o olhando nos olhos, me preparei para beija-lo.
O beijo foi rápido, mas não menos carinhoso do que das diversas vezes que nos beijamos. Saí do transe dos lábios perfeitos e com gosto de massa de chocolate do punk e juntos começamos a preparar o bolo.
Uma hora depois estávamos deitados no sofá, ele com os pés estirados em cima da mesinha de centro, somente de meias, ficava mexendo os dedinhos como se fosse uma criança e eu com minhas pernas por cima das dele, deitada de lado, prestando atenção em Pernalonga. Bill soluçava de rir, era uma risada fina e alta, e seus olhos já puxados ficavam uma linha de tão apertados, ele batia na perna e uma vez chegou a bater na minha perna, quebrando sorriso e perguntando se eu estava bem e pedindo desculpas. Eu só observava a alegria dele, a gente nunca havia ficado tão confortável, agindo como um casal, assistindo tv, entrelaçados, ora ou outra conversando sobre qualquer coisa e rindo um do outro, trocando olhares que diziam mais do que palavras e claro, se beijando durantes os intervalos de Pernalonga. Ele desligou a tv absolutamente do nada depois de termos devorado mais da metade do bolo e se virou em minha direção, colocando as duas pernas sobre o sofá e arrumando meu cabelo.
Ele ficou, pelo que olhei no relógio do telefone... 6 minutos me olhando sem dizer absolutamente NADA. E quando eu pensava em abrir a boca para dizer algo ele colocava a mão em minha boca para que eu não a abrisse. Depois dos seis minutos hipnotizantes daquele olhar que me arrepiava de tesão, amor e medo ele falou.
- Sara... -  Fez outra longa pausa, mas essa só durou alguns segundos. -  Eu acabei. – outra pausa de muitos segundos.
- Acabou o quê? – Perguntei com a testa franzida. -  Ainda tem um belo pedaço. -  Apontei para o bolo e só de olha-lo senti náuseas.
Bill ficou em silêncio e acariciou o outro lado do meu rosto, aproximando meu rosto do dele e me dando um beijo que eu não sei exatamente como explicar para vocês, mas não queria ter recebido aquele beijo, pois graças a ele que minha ficha caiu e eu abri os olhos enquanto ele amaciava meus lábios com tanto cuidado e carinho, e ao ver seus olhos apertados ao me beijar, como se estivesse sentindo dor, uma lágrima caiu.

"Ninguém mais aqui que me conhece de verdade
Meu mundo acabou de quebrar junto
E se passa um "happy end"
Por você eu não devo chorar
Eu sei nós não somos imortais
Mas você disse uma vez"


Ele tentou parar o beijo e se afastar para me dizer algo, mas não queria ouvir, subi em seu colo e o beijei de novo, agora eu estava com olhos apertados, sentindo uma dor no peito ao invés de alívio, o apertando contra mim, querendo que ele se fundisse comigo e assim ele nunca mais me deixaria. Acariciei sua língua que estava fervendo de tão quente e a sugava como se estivesse bebendo o último gole d’água de minha vida. Bill me apertou pela cintura e pude sentir que ele também não queria sair daquela posição. Não viramos para lado nenhum, eu o beijava com tanta força e sem saber a quanto tempo estávamos ali só percebi que foi bastante por não conseguir sentir mais meus lábios. Partimos juntos o beijo, mas continuamos com os lábios grudados, sentindo a respiração quente um do outro, sentindo o hálito um do outro.
- Agora?  -  Perguntei deixando mais lágrimas rolarem e apenas sentir o balanço negativo de sua cabeça. -  Quando? -  Não obtive resposta, apenas um abraço reconfortante de Bill que me apertou contra ele e beijou meu pescoço.
- Eu te levo pra cama. – Sussurrou e eu balancei a cabeça negativamente.
- Não, agora não, por favor. -  Me segurei e ele afastou a cabeça pedindo para me olhar.
Ainda em seu colo, tombei para o sofá, onde haviam algumas almofadas e ficamos ali durantes mais longos minutos. Eu chorava sem fazer barulho e ele ficava secando minhas lágrimas. Eu não sabia o que dizer, eu já sabia que iria acontecer e eu sempre pensei que faria o maior dos escândalos, mas não conseguia, estava tão fraca que não conseguia reagir a minha maneira, apenas chorava e observava cada pedaço de seu corpo, já em despedida. Os minutos, e uma hora e 34 minutos passaram quando comecei a falar.
- É ele não é? -  Finalmente tive coragem de perguntar o que estava martelando em minha cabeça. -  O doador da Sara é o seu recipiente?
- Eu não posso falar Sara.
- Por que não? Acabou, você vai embora, a sua missão foi cumprida... -  não conseguia terminar.
- Me escuta, por favor. Sara, não quero que você diga mais nada hoje, por favor. Eu estou sentindo aquela dor lembra? Mas ela fica pior toda vez que você fala agora.
Eu já sinto saudade de você mesmo sem ter ido embora... mas, eu sinto saudade de casa também. Eu pedi permissão para te falar toda a verdade, porque você merece saber, mas os planos de Deus são mais perfeitos do que os meus, e você é esperta, você vai descobrir tudo. Minha missão era fazer você recuperar a fé morta em você, e para dizer a verdade acho que você nunca a deixou morrer, ela só ficava camuflada na sua dor e raiva, escondia ela com seus atos destrutivos.
Quando eu disse que você ajudaria nessa missão eu disse a verdade... e a verdade é que a sua missão vai ser a mais importante... -  Bill fez uma pausa e eu prestava atenção olhando diretamente em seus olhos. -  Eu fui o seu anjo Sara, e você foi o meu. Você aprendeu comigo sobre fé, e eu aprendi com você o que é amor.
- E piu piu. -  Disse, com a voz triste e secando uma lágrima, em seguida passando a mão em seu rosto e o vendo fechar os olhos ao sentir meu toque. -  Desculpa, você me pediu para não falar.
- Você nunca vai ficar sozinha, eu sempre estarei com você, mesmo que eu não seja uma massa, mesmo que não seja um punk, eu sempre estarei no seu coração, na sua essência. Ah... eu pedi permissão, e consegui. -  Ele sorriu vitorioso.
- O quê?
- Seu cheiro. Ele me deixou levar seu cheiro comigo. Vai ser a forma de te levar comigo pra casa e é o que vai me manter mais próximo de você.
- Você nunca mais vai voltar né? Com um recipiente?
- Não.
-Você vai ser punido por ter se relacionado como homem comigo?
- Não. – respondeu sério.
- Deus não ta bravo com você então?
- Não. -  Dessa vez ele sorriu com minha ignorância sobre esse assunto Deus e Bill.
- Eu queria tanto que você ficasse mais um pouco. -  Voltei a chorar e ele me abraçou.
- Eu vou ficar mais um pouco, mas você não vai me ver indo embora, eu acho melhor assim.
Fiquei abraçada e meus olhos estavam cansados, ele me pegou no colo e me levou para o quarto.
- Não. -  Disse segurando sua mão enquanto ele levantava. -  Fica aqui comigo. -  Ele sorriu.
- Eu não vou a lugar nenhum. -  Se deitou ao meu lado e começou a me ninar.
- Não, eu não quero dormir. -  Disse bocejando, pois sabia que se eu dormisse, assim que acordasse ele não estaria mais lá. -  E... eu... não... nã... dor... mir.
- Eu te amo. -  Foi a última coisa que ouvi Bill dizer, e a última vez que ouvi sua voz... pegando num sono profundo.

"Se nada mais importa
Eu serei um anjo - só pra você
E pra você aparecer em toda noite escura
E então vamos voar pra bem longe daqui
Nós nunca mais vamos nos perder"

Um comentário:

  1. Estou adorando esta fic.Esse último verso no final do capítulo é de qual música?

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