quinta-feira, 7 de julho de 2011

Angel In Disguise - Capítulo 12

- Alô?

- Oi Sara, aqui é a Jaqueline.

- Jaque-line? Que Jaqueline?

- A mãe da Vitória. -  a voz da moça era de tristeza e Sara sentiu novamente o arrepio.

- O... o... que foi? Aconteceu alguma coisa com ela? -  Sara sentou ao sentir uma vertigem e apertava o bilhete na mão, esperando uma notícia ruim.

- A Vitória está melhor... mas... Sara, estou ligando para falar do Bill... -  a voz se quebrou e disse a última palavra, o nome de Bill com uma dificuldade e fraqueza que fez Sara respirar fundo. -  O Bill... morreu.







- O-o-o-o... como... não... Não! -  Sara gritou desligando o telefone e olhando o bilhete já molhado pelo suor de sua mão e ela tremia. Ela não conseguia abrir o bilhete, ela observava a sala, se sentindo tonta e chamando Bill.

- Bill!? Biiill!!??- Sara voltou para o quarto e viu que a cama estava arrumada, ela respirou aliviada, afinal, Bill estava lá e tinha arrumado a cama... mas porque ele não respondeu quando ela chamou? Por que a mulher no telefone disse que ele estava morto?

Sara foi até o banheiro se sentindo aliviada, e quando adentrou o banheiro um frio desceu sua espinha... Bill não estava lá. Sara entrou em desespero, pensava que estava ficando louca e não conseguiu evitar, começou a chorar profundamente, completamente perdida e sem saber o que fazer ela se jogou na cama e olhando para o bilhete ainda em sua mão o abriu, e viu a mensagem.

 “Bom dia Sara... espero que tenha dormido bem.
Obrigado por tudo, obrigado por me ensinar o que é amor e outras coisas.

Eu SEMPRE vou cuidar de você, e espero que goste do café da manhã.

 Eu te amo...
Tchau...

 Punk.”

Sara não conseguia parar de chorar, soluçava e se curvava na cama com tamanha dor que sentia. Continuava chamando Bill na esperança que ele entrasse assustado perguntando se ela estava bem e lhe desse um abraço, mas não aconteceu.
Ela chorou durante toda tarde e havia perdido as forças para sair do apartamento, ficou olhando o bilhete até que seus olhos começassem a pesar e ela pegasse no sono.

Teve um pesadelo horrível onde ela ficava sozinha em um lugar frio e Bill aparecia sorrindo, em seguida lhe dando um tchau e a fechando no lugar. Acordou assustada, com o bilhete manchado por conta das lágrimas e ouviu um barulho de música alta que a fez assustar...”


- Ahhhhh! – Sara acordou suando. – Meu Deus, foi só um pesadelo. - Olhou para o lado procurando Bill, e ao ver um espaço vazio e somente a forma do corpo dele ali ela se levantou correndo, vestindo a camiseta vermelha dele que estava jogada no chão. Ao vestir a camiseta sentiu um cheiro de café, se lembrou do sonho e só de pensar na possibilidade de Bill ter ido embora como no sonho Sara sentiu seus olhos queimarem e correu para a cozinha olhando diretamente para a mesa.
Ao ouvir uma voz e ver Bill cantarolando enquanto virava a panqueca na frigideira, somente de calça moletom ela ria e chorava até Bill se virou a perceber sua presença ali.

Sara correu em direção a Bill e o agarrou com força, chorando compulsivamente, beijando seu pescoço.

- Por favor... por favor... -  Sara pedia sem parar até sentir Bill assustado retribuir e abraçá-la.

- Sara... que foi? -  A voz de Bill era preocupada mas calma.

Sara afastou o rosto para olhá-lo e soluçando e mal conseguindo falar disse:

- V-v-v-ocê f-foi embora... e... e eu acordei e a me falaram que você tinha morrido. -  As lágrimas não paravam de cair e Bill a olhava com pena, os olhos dele brilhavam e ele secou o rosto de Sara.

- Mas eu estou aqui. Calma, eu estou aqui e não vai te acontecer nada. -  Bill abraçou Sara sorrindo enquanto ela o via dizer sincero, mas ao encostar o rosto no cabelo de Sara e sentir o cheiro floral e a maciez dos fios loiros Bill sentiu uma pontada no coração e sua face fechou, fiando preocupado e... triste.

Sara se afastou e beijou Bill nos lábios com amor segurando seu rosto sem querer partir o beijo e Bill retribuiu acariciando sua face e arrumando seu cabelo após o beijo se partir, dando um beijinho leve em sua testa.

- Eu te amo. -  Disse Sara encostando no peito de Bill e finalmente soltando uma respiração profunda de alívio.

Os dois se sentaram e comeram o café em silêncio, o que incomodava Sara, pois era falante durante o café da manhã, falava coisas que assistia na TV enquanto ela dormia, pergunta sobre coisas que não havia entendido na TV, mas ele estava calmo e silencioso naquele dia.

 Sara

Punk estava completamente diferente naquela manhã, ele costumava me perguntar tudo de uma vez, nem parava pára respirar. Aquilo me deixou intrigada e como se tudo estivesse cronometrado o telefone tocou assim que terminamos de tomar café.
- Halo? -  Bill perguntou, adorava quando ele falava em alemão, não entendia uma palavra, mas a voz dele conseguia ficar mais linda e minha vontade de agarrá-lo aumentava. -  Certo Verônica, eu entendo, estamos indo... fique em paz, tudo vai dar certo. -  Estava parada no parapeito entre a cozinha e sala, e ao ouvir o nome de Verônica me lembrei do sonho e vendo a face de Bill, sabia que as notícias não eram boas.

- O que foi?! -  Perguntei preocupada, pensando em Vitória.

- A Vitória piorou... ela precisa de um transplante urgente. -  Bill parecia triste e preocupado e aquela expressão em seu olhar, me olhando profundamente, com tristeza me fez sentir medo, coisa que eu nunca sentia quando ele me olhava, muito pelo contrário, era sempre o olhar do Bill que me dava segurança quando tudo parecia tão inseguro. -  Você... quer ir comigo... até o hospital? -  Perguntou com a voz baixa.

- Sim... quero. – Ainda estava presa, tentando decifrar aquele olhar perdido de Bill, tentando evitar de sentir um aperto no coração, fui me trocar.






  Chegamos ao hospital de taxi e fomos recepcionados pela mãe de Vitória que com a feição triste e olheiras profundas estendeu o braço para Bill que a abraçou com carinho, e não sei se estava completamente alucinada, ou se o fato de ter feito amor com um anjo havia me tornado sensível a essas coisas, mas foi como se uma luz saísse do corpo de Bill e envolvesse o corpo de Verônica a deixando mais relaxada. Tirando o fato de estar exausta e sofrendo, os traços latinos de Verônica indicavam que ela era uma mulher linda e cheia de vida antes da doença da pequena. Ela estendeu o braço para mim e mesmo sem graça eu a abracei, fechando os olhos e sentindo a sinceridade e a necessidade do abraço dela. Envolvi meus braços e mais uma vez senti meus olhos molhados, mesmo fechados.
- Vai ficar tudo bem. -  Sussurrei em seu ouvido abrindo os olhos e vendo apenas as costas de Bill caminhando com seu sobretudo para o corredor que dava no quarto de Vitória.

Na hora pensei “Isso, você pode curá-la, vai lá, coloca a mão linda que você tem sobre ela e a cure... por favor meu amor”, suplicava que isso acontecesse, Vitória não merecia ter a vida tirada de forma tão cruel, e só de pensar a raiva tomava conta e eu abraçava Verônica mais forte, chorando de raiva pela injustiça que Ele cometera com Vitória, e com minha irmã.

Quebramos o abraço ao ouvir o médico chamar a mãe de Vitória e eu me afastei, indo em direção ao corredor que Bill havia entrado há poucos segundos.

Ao chegar ao corredor da UTI, Bill olhava pela janela do quarto, com a feição séria e concentrada, e balançava a cabeça positivamente, como se estivesse escutando ordens de alguém e aceitando. Me aproximei, ele parou me olhando e mostrando um sorriso forçado.

- Ela é tão linda. -  Bill pensou alto olhando Vitória cheia de tubos dentro do quarto. – Ela vai ficar bem... eu sei que vai.

- Sabe? -  Perguntei no mesmo tom baixo, quase num sussurro. -  Como você sabe? – Perguntei e recebi um olhar de Bill que não precisava me responder, a certeza estava estampada em seus olhos castanhos.

Ficamos em silêncio e mil coisas passavam na minha cabeça. Bill estava conversando com Deus e recebeu uma ordem para curar a Vitória? Finalmente tive coragem de olhar para a janela e senti meu coração diminuir ao ver a carequinha de Vitória e sua pele tão pálida que era possível ver as veias verdes e roxas em seus braços e pernas, ela estava mais magra e com olheiras semelhantes as de sua mãe, mas um pouco mais roxas, os olhos estavam fechados e ela respirada com a ajuda de aparelhos. Eu observava seu peito subir e descer com a respiração e flashes da minha maninha, na mesma situação apareceram como um borro em minha mente.

- Deus, por favor... salva ela. -  Sussurrei colocando as mãos na janela do quarto e pude perceber que Bill me olhava atento, então comecei a pedir em pensamento.

 “Eu sei que eu sou a pior de Suas filhas, e sinceramente se não fosse por ter um anjo Seu ao meu lado eu diria que Você não existe coisa nenhuma... Mas, em anos de sofrimento e dor, vendo coisas horríveis acontecerem comigo e com pessoas que amo, e até com estranhos eu finalmente tive a melhor época da minha vida, eu sinto como se não precisasse me preocupar tanto com tudo, e que eu tenho alguém que se importa comigo, mesmo que não seja humano. Eu tenho alguém que cuida de mim e me ama exatamente como eu sou. Eu até li a Bíblia escondida do Bill, senão ele iria pensar que estava ganhando o jogo... mas eu sei que não foi um jogo pra ele, nem uma missão que Você mandou só porque estava entediado. Eu descobri que eu precisava aprender o que era amar, e não somente da forma humana, mas de uma forma mais... mais... não sei explicar, mas você é Deus então o Senhor sabe do que eu to falando. Me desculpa se eu fiz ele pecar, e eu sinto muito se meu amor por ele passou do espiritual para o físico.
Eu sinto muito por tanta coisa, mas ainda é difícil aceitar que Você deixou ela morrer...

Quando as pessoas dizem que Você escreve certo por linhas tortas... é sério? Não acho que Deus, que é perfeito e não erra nunca escreveria por uma linha torta!

Enfim... dessa vez, dessa vez eu não vou pedir nada em troca, e não vou prometer nada, pois isso não é um jogo... mas Você sabe que eu estou sendo sincera contigo, pela primeira vez na vida... a Vitória merece viver... ela não tem uma família destruída como a minha, a família dela acredita em Você, tem fé em Você, ela será uma boa menina, eu sinto isso, você sente?

Eu só queria... uma vez na vida poder ver alguém perto de mim viver ao invés de morrer...”

 Terminei meu papo com Deus respirando fundo e sentindo a mão de Bill secando minha lágrima que caiu sem que eu ao menos percebesse.
- Foi muito lindo o que você disse. – Bill me deu um beijo na bochecha e eu o olhei rapidamente.

- Eu não disse nada. -  Disfarcei sem me lembrar de quem ele era. -  Ah ta. Esqueci desse detalhe. -  Sorri triste e ele soltou um sorriso feliz, como ele não soltara desde o dia anterior a nossa “entrega”. -  Bill? – Perguntei segurando sua mão em meu rosto e beijando a palma, entrelaçando minhas mãos em seguida. -  Você acha que Deus está bravo com a gente... você sabe... pelo o que a gente fez ontem? -  Perguntei realmente preocupada, recebendo o tal sorriso triste de Bill.

- Por quê? O que a gente fez ontem não foi amor?

- Foi?

- Por quê Deus ficaria bravo por amor? Deus é amor Sara.

- Mas... na bíblia fala que não pode antes... sabe... aulas dominicais, catequese...

- Sara. Mais importante do que eu senti fisicamente, foi a plenitude que eu senti ao sentir sua alma, seu corpo foi um detalhe, um detalhe bonito e que eu nunca vou esquecer, mas poder sentir a essência do seu amor... eu senti o seu amor Sara, os humanos falam eu te amo toda hora, mas na maioria das vezes são só palavras, e você me deu a honra de poder sentir de verdade, obrigado. -  Bill estava sério e sua voz estava mais rouca do que o normal, ele beijou a minha mão, me dando um beijo na testa.

Eu não tinha nada para combater aquelas palavras, não conseguia pensar em nada a não ser o fato de sentir um amor tão profundo e tão grande que a minha vontade era de sair abraçando todo mundo e falar pra todo mundo, era tão grande que meu corpo doía por não caber dentro dele.

Ficamos em silêncio olhando juntos a Vitória pela janela quando um nome surgiu na minha cabeça, do nada.

- Você conhece alguma Jaqueline? -  Perguntei me lembrando do sonho. A face de Bill se retorceu, sua testa ficou franzida e suas sobrancelhas se juntaram, ele me olhou fixamente.

- Não. Por que essa pergunta?

- Ontem eu tive um pesadelo horrível que você ia embora, e uma mulher ligava em casa falando que era a mãe da Vitória e que o nome dela era Jaqueline.

- Mas...

- É... e o mais estranho é que a voz era a da mãe da Vitória mesmo, e ela falava que ela estava bem, mas que você tinha morrido, e ela falava com dificuldade como se estivesse chorando pela sua morte. Foi tão estranho.

- É... nem sempre os sonhos são revelações Sara. -  Bill me abraçou pela cintura, mexendo em meu cabelo e beijando minha cabeça, em seguida cheirando meu cabelo  ele sussurrou:

- É o que eu mais vou sentir falta... – Disse ainda cheirando meu cabelo.

- O quê? -  Fingi não ter escutado.

- O seu cheiro... é diferente. Eu sinto seu cheiro de longe.

- Espero que o odor seja agradável pelo menos. -  brinquei, mas me sentindo nervosa com o jeito que ele disse que sentiria saudade do meu cheiro.

- O seu cheiro é o cheiro do perfume mais maravilhoso que existe na Terra, e infelizmente não está a venda em lugar nenhum, já procurei, quero levar comigo quando for... – O interrompi.

- Não termina essa frase... por favor.

- Ta bom. Mas eu procurei mesmo. -  Sorriu sincero e não pude evitar de sorrir junto.

- Você procurou meu cheiro pra vender?? Ahaha, punk punk...

- Eu gosto quando você me chama disso.

- Punk?

- É, o que é isso?

- Você não sabe o que é punk, Punk?

- Não, mas acho legal quando você fala, às vezes parece uma ofensa, mas gosto quando você fala assim.



Expliquei pra ele o que era um punk, ele sorriu largamente em seguida soltando uma risada mais alta e voltou a olhar para a janela.

- Vou te contar uma coisa Sara, mas não agora, só posso te falar que Vitória vai ficar bem... você confia em mim não confia? – Bill puxou meu queixo para que ele pudesse olhar dentro dos meus olhos.

- Claro que confio. -  respondi com a voz falha, os olhos dele me hipnotizavam completamente.

- E você confia em Deus, não confia? Você acredita que Ele é o único que pode salvar a Vitória? E que Ele te ama, tanto quanto eu te amo? – A última pergunta de Bill me fez sentir o maior arrepio que senti na vida, e foi como se uma luz quente entrasse em mim... a mesma luz que eu juro que vi entrando em Verônica quando ele a abraçou. Uma calma tomou conta de meu corpo que até aquele momento estava tenso, e o senti relaxar por completo, e ao ouvir Bill falar que me amava, e que Ele me amava tanto quanto ele, eu não sabia o que pensar, até porque não estava pensando, eu tinha certeza da minha resposta.

- Eu confio. -  Disse o olhando fixamente, sem conseguir me mexer.

- Então vamos para casa. -  Disse puxando minha mão, e eu o segui.

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