quinta-feira, 3 de maio de 2012

Coração de Outono - Capítulo 31 - Se burrice tivesse outro nome...

(Contado por: 3º pessoa)
Fazia exatos dois dias que Aiyra estava presa naquele lugar frio e completamente desconfortável. Em certas horas do dia, ela tinha suas mãos e tornozelos soltos, mas permanecia dentro do quarto. Sem muito que fazer, andava pelo cubículo de poucos metros quadrados. Nick entrava ali pelo menos de quatro a cinco vezes ao dia para lhe trazer as refeições ou um lanche, acompanhados por um suco ou refrigerante. Duas garrafas de água mineral também eram disponibilizadas por dia, para mantê-la hidratada.
Sua expectativa era que seu pai bravamente arrebentasse aquela porta e a salvasse, talvez até mesmo o Bill. Mas com o passar das horas, suas esperanças pareciam desaparecer vagarosamente. Lembrou-se de todas as besteiras que cometeu e amaldiçoou a noite em que conheceu o Jess. Havia fugido de casa em plena madrugada – como costumava fazer –, após ter recebido um convite para uma das festas dele. Se não tivesse desobedecido a uma ordem, provavelmente nada disso estaria acontecendo.
A porta se abre e um dos homens que a vigiava, lhe joga uma sacola preta. Ele era sempre muito sério e de pouca conversa. As mínimas frases que dizia, podia ser notado que era um homem grosseiro.
- Ai dentro tem uma roupa limpa. – diz ele, sério.
- Não vou vestir algo limpo estando suja! – ela joga a sacola no chão.
Alguns minutos depois e Aiyra estava sendo levada, com os olhos vendados e as mãos amarradas, por um corredor de tamanho médio. Jess havia dado uma ordem de que ela poderia tomar banho, desde que não tentasse nenhuma gracinha para fugir. E não haveria mesmo como escapar. O homem tirou sua venda e enquanto a desamarrava, pôde olhar em volta. No banheiro tinha uma janela pequena e alta demais. O ambiente quase se igualava ao quarto em que acabara de sair. Não era tão espaçoso, tinha um sanitário, uma pia minúscula e imunda. Do chuveiro só saia água gelada. Aquele lugar talvez pudesse ser chamado de “mini-inferno”.
Junto com a roupa, veio uma caixinha com produtos de higiene pessoal. Pelo menos pensaram nisso. O banho foi rápido, e não demoraria nem que quisesse. Se demorasse demais debaixo d’água, seria capaz de ficar com hipotermia e morrer em poucos minutos. Aiyra tirou da sacola roupas intimas que, por estarem numa embalagem lacrada, deduziu que fossem novas. Mas desconfiada, cheirou as peças para ter certeza. Uma calça jeans e uma camiseta regata na cor branca completavam o look. Bateu na porta, para avisar que já estava pronta e fora levada de volta.
A essa altura, o nervosismo corriam por dentro o Bill e o Pedro. Eles não tiveram mais noticias, e temendo que a ação fosse espalhada as coisas ficariam mais complicadas, preferiram manter segredo. Para todos os defeitos, a Aiyra tinha ido visitar uns amigos em sua antiga cidade e não demoraria a voltar. Era isso que contava a todo mundo que perguntava. A Clarisse não acreditou tanto, mas preferiu não se intrometer. Ela conhecia muito bem seu esposo e se ele não quis falar nada, é porque certamente sabia o que estava fazendo.
Durante as duas noites Bill não havia pregado os olhos. Sua atenção era inteira e exclusiva para o celular, esperando que o mesmo tocasse a qualquer instante. O Pedro também não descansou e em alguns momentos, sugeriu que os dois fizessem um revezamento, pra ninguém ficar cansado. Tom ajudava no que podia, e não saia do lado do irmão.
O celular tocou por volta das 16h30 e sem hesitar, Bill atende.
- Fale a verdade, eu não estou sendo bonzinho demais com você?
- O que você fez com ela?
- Quem melhor que ela pra dizer?
- O-O quê?
- Bill? Bill é você? Eu estou bem, por favor, não faça nada.
Dava para se ouvir os soluços de choro dela.
- Eles te machucaram? – Bill pergunta, tentando se manter calmo para tranqüilizá-la. – Olha, eu prometo que vou te tirar daí!
- Bill, não faça o que ele pedir! Não faça nada, por favor! O Jess vai... AAAHH!!!!!!
Um dos comparsas havia puxado o cabelo dela com muita força, e isso fez com que Bill e os outros se preocupassem ainda mais, por não saber o que acontecia.
- O que estão fazendo com ela?
- Relaxe, rapaz. – diz Jess. – Foi um puxãozinho de cabelo bobo.
- O que eu devo fazer? Me diga o que preciso fazer para tirá-la daí? – colocou a ligação no viva-voz.
- Não tenha pressa, Bill. Mas me diga, como é saber que a garota que você ama está prestes a ir conhecer Jesus?
- Desgraçado! – sussurra Tom.
- Não a machuque!– disse Bill.
- Porque eu faria uma coisa dessas?
- Olha, eu...
- Filho de um milionário bem sucedido. – Jess interrompe. – Você é como uma galinha gorda que põe ovos de ouro, sabia? – dá uma alta risada. – Quero que me encontre em frente ao seu colégio, à 01h45 desta madrugada. Venha no seu carro, sozinho. – fez uma pausa. – Não se esqueça que se a policia for envolvida... A Aiyra morre!
Os três agora tinham plenos motivos para ficarem nervosos. Eles conversaram, discutiram e chegaram a conclusão de que era arriscado demais o Bill ir àquele encontro. Não dava para prever o que iria acontecer e caso algo desse errado, mais de uma pessoa poderia sair ferida.
A hora marcada se aproximava e eles ainda não haviam chegado num acordo. Vendo que não adiantaria insistir para que Bill ficasse, os três armaram um plano. Muito arriscado, mas ainda assim era um plano. Não era algo digno dos filmes de Hollywood, mas com um pouco de paciência e força de vontade, poderia correr bem.
***
A madrugada estava fria e a rua deserta. Bill estacionou no local combinado e na hora exata. Não viu nenhum movimento e, além do seu, só tinha mais um carro. Por estar meio escuro, não conseguiu enxergar ninguém dentro do veiculo e por um momento se sentiu enganado, achando que tudo não passava de um blefe. Um sinal. Talvez eles precisem de um sinal. Pensou um pouco. Vou piscar duas vezes os faróis.
- O que esse moleque está fazendo? – pergunta um dos homens, de dentro do veiculo em frente. – A gente já sabe que é ele, porque está piscando os faróis?
- Vamos acabar logo com isso, antes que o patrão comece a ligar.
Os dois saíram do carro e foram caminhando na direção de onde Bill se encontrava. Ele fez o mesmo e andou sentindo o vento tocar seu rosto.
- Bill Kaulitz? – pergunta o mais forte e moreno.
- Sou eu. – responde.
Der repente, sem qualquer aviso prévio, o outro dá um soco em Bill. A brutalidade com que fizera isso foi tanta, que o rapaz desmaiou.
- Seu idiota! – o moreno dá um leve empurrão no ombro do parceiro. – O chefe disse pra não machucá-lo!
- Não resisti a esse rostinho bonito. – soltou uma risada de deboche.
- Já que começou agora o leve para o carro. E se ele sujar meu banco, você tirará do seu bolso para mandar lavar.
De uma empresa especializada, os passos de Bill estavam sendo monitorados através do chip de rastreamento implantado em seu celular. Não seria muito difícil encontrá-lo, mas também não seria nada fácil tirá-lo de onde estava indo.
***
- Acorde! – disse Aiyra. – Vamos, acorde! – insistiu. – Bill, está me ouvindo?
Podia ouvi-la um pouco. Sentia uma forte dor em seu rosto e não se lembrava perfeitamente do que havia acontecido. Estava zonzo e a iluminação não lhe favorecia. Abriu os olhos e os fechou novamente, tentando se acostumar com a luz. Numa outra tentativa, seus olhos miraram sua camisa que estava com algumas gotas de sangue. Ele ergue a cabeça e procura pela dona da voz.
- Aiyra?
Ele não se deu conta de que estava preso e ao se mover para chegar mais próximo dela, acabou caindo com cadeira e tudo. Ficou estatelado no chão.
- Ei! – Aiyra grita em direção à porta. – Ei! Ele precisa de ajuda!
- Cale a boca, garota! – o loiro entra.
- Ele caiu e precisa de ajuda para se levantar.
Sem nenhum esforço, o rapaz coloca Bill em sua posição inicial.
- Se fizer isso de novo, vai permanecer caído. – o homem se retira.
- Você está bem? – pergunta ela. – Se machucou?
- Eu... Eu tô bem. – responde ele, olhando para si próprio amarrado. – E você? Eles fizeram alguma coisa contigo?
- Não. - ela o olhava. – Mas que diabos você estava pensando? – ela reclama. – Como é que você veio parar aqui? Por acaso é surdo? Não me ouviu gritar para que não fizesse nada que te mandassem?
- Até numa hora dessas, você consegue ser má agradecida, não é? – diz Bill. – Eu vim te salvar!
- Jura? – foi sarcástica. – Pois eu acho que deveria ter me escutado e ficado onde estava! Eles podem te matar!
- Você também tá correndo perigo!
- Desde que cheguei aqui, eles não fizeram nada comigo. E você mal chegou e já está com um olho roxo.
- Meu olho tá roxo? – se preocupou.
- Não. Mas seu nariz sangrou.
Ficam em silêncio...
- Só queria te ajudar. – diz Bill, com a cabeça meio baixa e a voz num quase sussurro.
- Eu sei. – ela esboça um sorriso e ele a olha. – Mas não deveria ter arriscado sua vida pra isso.
- Queria que eu ficasse de braços cruzados?
- Queria que fosse mais racional. Só que você sempre faz tudo errado, não é? – Bill solta uma leve risada. – Como é que vai me salvar agora?
- Eu prometi que iria te tirar daqui, e vou cumprir.
 Postado por: Alessandra

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